Mais de 3.000 poetas e críticos de lusofonia!

Décio Bettencourt Mateus

deciomateus@yahoo.com

Winterhalter Franz Xavier, Alemanha, Florinda

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ruth, by Francesco Hayez

 

Albrecht Dürer, Mãos

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904) - Phryne before the Areopagus

 

 

 

 

 

Décio Bettencourt Mateus



Casei-me com a poesia


Fui a um jardim
Com bonitas flores
De agradáveis odores
Escolher uma para mim
Para com ela me juntar
E amar

Escolhi uma rosa
E com ela tive uma prosa
Sobre meus planos de casamento
No momento,
A rosa disse não
E seus espinhos feriram meu coração

Mais adiante
Escolhi um belo cravo
E falei-lhe de amor
Mas o cravo era altivo
E no mesmo instante
Sua resposta foi um dissabor

Depois
Escolhi uma orquídea bonita
E estando a sós os dois
Falei-lhe de mansinho
E com carinho
A orquídea disse-me que era tudo fita

Com mais flores
De agradáveis odores
Falei de amor
E mais amargor
Recebi como resposta
Para meu desgosto e desfeita

Por último
Em um belo dia
Procurei e encontrei a poesia,
Falei-lhe íntimo
A poesia não complicou
A poesia aceitou

A poesia deu-me primazia
Namorei e casei com a poesia
Esqueci-me das flores
De agradáveis odores
Esqueci-me do jardim
E do seu caminho outrossim

Casei-me com a poesia
A que me deu primazia!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Décio Bettencourt Mateus



A minha casa


A minha casa
É fácil de localizar
É fácil de encontrar,
Basta ires sempre em frente
Para além da linha do horizonte
É fácil concerteza

Primeiro encontras lixo
Lixo e pessoas em convivência
E em harmonia,
Lixo na parte de baixo
E na parte de cima
Lixo e pessoas em convivência íntima

Mais adiante
E com o mau cheiro crescente
Encontras uma lagoa
E nela, crianças a banharem
Crianças a brincarem
Na maior, numa boa

Mais a frente
Entras em becos estreitos
Becos pequenos e apertaditos
É fácil, é só teres isto em mente
Becos e suas enxurradas
Becos e suas águas estagnadas

Sempre em frente
Para além da linha do horizonte
Lá onde a água corrente
Lá onde a água potável
Passa muito distante
E da cor do invisível!

Sempre em frente
Para além da linha do horizonte
Lá onde a luz eléctrica
Connosco brinca
Qual nuvem passageira
Que ora vai, ora vem zombateira!

Sempre em frente
Para além da linha do horizonte
Cheiro de kaporroto no ar
Cheiro de kimbombo a vibrar
Nossas bebidas do dia-a-dia
Nossas bebidas nossa companhia

E no quintal da minha casa
Há jovens a falar alto bêbedos
Jovens cansados, frustrados e arrebentados
São os meus kambas
Kambas das bebedeiras e das malambas
É fácil de localizar concerteza,

Sempre em frente
Para além da linha do horizonte!


Glossário:

Becos: ruelas tipicas dos musseques, dos bairros pobres
Kambas: amigos
Malambas: tristezas, amarguras
Kaporroto: bebida caseira angolana
Kimbombo: bebida caseira angolana

 

 

 

 

Sophie Anderson, Portrait Of Young Girl

Início desta página

Micheliny Verunschk

 

 

 

 

 

 

 

 

John Martin (British, 1789-1854), The Seventh Plague of Egypt

 

 

 

 

 

Décio Bettencourt Mateus



Mulheres da minha terra


São todas belas
Elas
As mulheres
Que meus quereres
Se confundem
E perdem

Vejo Rosa
Formosa
E me encanta
Que canta
Meu coração
De emoção

Vejo Margarida
Querida
Alta
E esbelta
E é ela
A minha estrela

Vejo Teresa
Beleza
Baixinha
E cheinha
E por ela suspiro
E passo noites em claro

Vejo Bela
Gazela
Ternura
E candura
E logo meu coração
É todo paixão

Vejo Maria
Feia
Mas bela
Ela
No interior
E é meu grande amor

São todas belas
Elas
E muitas,
Pretas, albinas, brancas, mulatas...
Mas todas bonitas
Todas catitas
E belas!
 

 

 

 

A menina afegã, de Steve McCurry

Início desta página

Maria Maia

 

 

04/11/2005