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Cyro de Mattos


 

Alguns Poemas de “Ecológico”, de Cyro de Mattos



O Evento Terno


Sentido não haveria
Do aroma sem o canto.
A aderência perfeita
Toca o mistério,
A natureza se impõe
Na luz deste céu sonoro.
Na nervura da pétala,
Tremor translúcido,
O pássaro tece e acontece.

 

 


Itabuna


Encontro-me no verde de teus anos,
Como sonho menino nos outeiros,
Afoitas minhas mãos de cata-ventos
Desfraldando estandartes nessas ruas.

São meus todos esses frutos maduros:
Jaca, cacau, mamão, sapoti, manga.
E esta canção que trago na capanga
É o vento soprando nos quintais.

Quem me fez estilingue tão certeiro
Nos verões das caçadas ideais?
Quem nesse chão me plantou com raízes

Fundas até que me dispersem ventos
Da saudade e solidão? Ó poema!
Ó recantos! Ó águas do meu rio!

 

 


Oferenda


Abre-te terra,
Reinventa-te em rosa,
Perfuma teu perfume
Com esse vinho sempiterno,
Última oferenda de teu filho
Que foi ave, mão e árvore,
Agora flor sem vento
Na poeira do vento.

 

 


Da Mulher


No toco,
No cabo,
No burro,
No ventre
Nos porcos,
No fogo,
No buraco,
Nos olhos.

Suas mãos
Minhas mãos:
Ave/céu,
Peixe/água,
Abelha/mel,
Raiz/chão.

 

 


Parábola


Prometeu soltar os pássaros,
Não extrair a lágrima da árvore,
Repartir os frutos com os outros,
Deixar a água limpa,
Não envenenar o céu.

No último gesto
Pensou que era morto
E viveu.

 

 


Viola


Um povo e sua flor
Dentro de mim
Com vozes, cores, rios.
Um povo e sua flor
Com ventos, aves, penas.
Trama minha sina
Viola do amor
No visgo da terra.
Um povo e sua flor,
Emoção feita amêndoa
Na seiva do mistério,
Deixando-me acontecer
Alma, força e vida.

 

 

 


 

08/03/2007