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Antônio Jackson de Souza Brandão

jackbran@gmail.com


Poesia:


Prefácio, ensaio, crítica, resenha & comentário:


Conto:


Fortuna crítica:


Alguma notícia do autor:


 

 

 

Albrecht Dürer, Germany, Study of praying hands

 

Allan Banks, USA, Hanna

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Empire of Flora

 

 

 

 

 

Antônio Jackson de Souza Brandão


 

Soldado e menino

 

Soldado em pé:
desdém
calor, abafado:
agonia
Menino, no chão
sentado: dor

Desdém, calor
agonia abafada
grito mudo com
lágrima seca

O pai tomado
levado pra
não se sabe!

Soldado parado
Menino no chão
Soluços no ar:
Desordem na ordem!

Desespero de calças curtas
medo do escuro
no sol do deserto
vazio de presente
ausente futuro
sombrio


(05/08/2005)

Foto de Andrea Comas/Reuters


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Triumph of Neptune

 

 

 

 

 

Antônio Jackson de Souza Brandão



Poeta


A Federico Garcia Lorca

 
Num povo qualquer,
Homens surgem
Que como loucos
Buscam intentos novos
Sonham em altivez
E querem ver o coração
Como um balão,
Que com o calor
da amizade e sinceridade,
Voe alto, muito alto.
Mas para que seu tempo
Perder ?
Por que crer
Se tantos não querem ver ?
Não, não se importam,
Seu ideal é maior que o
Os não do mundo inteiro,
Fazem-se surdos
aos apelos do mundo...
E à luta se dirige
Levando e brincando
com palavras,
Amadas e temidas
Por elitistas que de uns
tiram o prazer...
Homens são
Que como os deuses criam e
renovam a criação.
Alimentam outros seus,
Para que cheguem aos céus
sem véus,
sem escuridão e ilusão.
Como num passe de magia
abrem o caderno,
se fazem de sérios...
Dão alegria sem putifaria!
Os anjos invejam-lhes,
Não criam,
Não mudam,
São mudos,
e surdos e surdos-mudos
Num mundo
de não surdos,
de não mudos,
De ceitos e preconceitos
com esses e aqueles...
Pra eles não...
Pra eles não há diferença,
não há tirania,
deve haver alegria...
E criam palavras,
E fazem alardia,
E fazem gritaria
Se a paz não vier,
Se o pobre não come,
Se o menino não dorme...
É um aperto no sapato
dos safados coroados
de arrogância,
de petulância e
opulência, por isso
lhes calam a voz,
lhes tiram a caneta,
lhes prendem a vida,
lhes matam...
Entretanto
o calo mais aperta,
Pois a voz já gritou,
A caneta já escreveu,
A vida já viveu
E a morte não ceifou
seus sonhos,
seu amor,
sua liberdade criadora

 e transformadora...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Exposition of Moses

 

 

 

 

 

Antônio Jackson de Souza Brandão



O quarto



Quarto fechado,
calor, apertado.
Quarto com cama:
pra quem ama.
Uma janela,
a dela;
Um cômodo,
incômodo.
Penduradas panelas,
Na mesa, três berinjelas...
A luz é fraca,
Só tem uma faca.
Salário é pouco.
Que calabouço!
O aluguel é alto:
que assalto!
Sofá não tem,
nem vintém.
Geladeira não há.
Que gelá ?
Que ar, que vida,
A privada entupida.
Ninguém ajuda
e que Deus
nos acuda!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Nurture of Bacchus

 

 

 

 

 

Antônio Jackson de Souza Brandão



gado manso



gado manso, gado manso
vem pastar , gado manso
tu és algibeira
dos que podem, dos que têm...
Vem gado manso, vem.
Conheces aquele curral,
foi feito pra ti, gado manso.
Vem, vem , gado manso.
Tu que te alegras de saber
que a madeira é pobre
mas que, pensas tu, quando quiseres
é só sair...
Não é , gado manso ?
Até parece ser verdade,
não é gado manso ?
Mas...
e as rédeas que não
te deixam mover de per si ?
Come, bebe, caga, gado manso !
Amanhã terás a recompensa:
Nem teus chifres escaparão
gado manso !
Nem a bosta do curral,
nada,
nem a dor ou a luta
que não lutaste
nem a lágrima que sequer derramaste.
Nada,
pois quem és tu, gado manso ?
Somente uma
pequena peça de xadrez
nas mãos d'alguns...


São Paulo, 17/11/1992
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904) - Phryne before the Areopagus

 

 

 

 

 

Antônio Jackson de Souza Brandão



Nordestino, cabra da peste!



Nordeste, cabra da peste!
Se alevanta cedo,
Co'as mulhé que encanta.
O sol queima o chão,
o fogo café faz
os mistério se desfaz:
Cê qué café ?
Quero... não !
Nordestino, cabra da peste!
Co'as sanfona
toca ao coração
e se alevanta o baião:
Toca, toca Gonzagão!
O xote estoura
no salão.
Nordeste, cabra da peste !
Como eras rico:
Capital da colônia.
Seu chão era doce
dos canaviá,
Seu chão, salgado
do negro suó:
coitado!
Nordestino: cabra da peste!
Mais que sina, irmão:
latifúndio, fome, sede.
E te dizem: vagabundo!
Mais que mundo, tão bruto que é !
Não, cabra, não arreda o pé!
Conquista teu lugá!
Nordeste: cabra da peste!
Cedo se alevanta e
nas noite no forró
derrama seu suó,
co'as morena se requebra:
êta coisa boa!
Que avexação: tê que parti!
A sede seca os osso,
a fome aperta o bucho:
Inté, Morena,
Inté, Torrão Querido;
as lágrima
escorre...
Inté, meu pai,
Inté, minha mãe?
Sua bênção!
Eu volto, acredite! Eu volto!
Ah, nordestino,
Ah, cabra da peste,
Tu num volta nunca...


São Paulo, 10/6/1992
 

 

 

 

 

 

13/10/2005