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Alberto da Costa e Silva

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Alguma notícia do autor:


 
Poesia:

 

Resenha, ensaio & comentário: 


Fortuna crítica: 

 

Alberto da Costa e Silva é ex-presidente da Academia Brasileira de Letras

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Alexander Ivanov. Priam Asking Achilles to Return Hector's Body

 

Ticiano, Salomé

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904) - Phryne before the Areopagus

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ruy Câmara



Diário do Nordeste, Fortaleza, Ceará, Brasil
26.10.2003


U
m pardal na janela



O poeta, romancista, ensaísta, historiador e diplomata Alberto da Costa e Silva (1931), paulista de origem nordestina, considerado o maior africanólogo do país, recebeu os primeiros impulsos poéticos nos saraus do ventre materno. Herdeiro e órfão de um dos mais respeitados vates da literatura brasileira, ele tem noRuy Câmara, 2002 vulto do pai, Da Costa e Silva (1885-1950), um referente essencial e perene que os anos, com a sua mão destruidora, jamais conseguiram apagar.

A mão do meu pai sobre o papel desenha,/ quase num só traço, o menino a cavalo./ Sai de sua mão a mão com que lhe aceno,/ e vai sobre o papel o menino a cavalo.../ Este foi considerado por José Paulo Paes, um dos poemas mais bem logrados, jamais escritos em seu gênero, na língua portuguesa. Na opinião de Ivan Junqueira, aqui o poeta Alberto alcança o nervo da linguagem poética.

Alberto da Costa e Silva é um andarilho por profissão e sua obra literária, em prosa e poesia, enaltecida por Miguel Sanches Neto, Fausto Cunha, Gerardo Mello Mourão, Ivan Junqueira, José Guilherme Merquior, Fernando Py, César Leal, José Paulo Paes, José Saramago, Osvandino Marques e muito outros, forma, no seu conjunto, uma exemplar coleção de fragmentos de memória, tanto que chegou a ser definida pelo crítico e poeta Antonio Carlos Villaça, como “uma vitória permanente da cultura sobre a natureza, ou da exigência sobre a facilidade.”

Como um potro que pisa a marca dos próprios cascos no duro chão, ou um pardal que retorna pela janela da infância, o menino Alberto começou a compor os primeiros versos antes de mudar a dentição, quando tomou consciência do declínio do pai, vítima de uma grave enfermidade que lhe obrigou a um longo período de silêncio no Ceará.

A presença constante de um pai ausente, conformou seu mundo e a sua maneira de encarar o tempo e a existência como sendo o resultado silente de uma memória vivida, tanto que só ousou tomar assento na corte das altas letras aos 69 anos.

Decerto, foram os seus sucessivos anos de exílios no exercício da diplomacia brasileira que lhe credenciaram a ostentar o título de Poeta da Memória. Só os proscritos e exilados sabem, por experiência vivida que, é na solidão do exílio que a memória se vê compelida a procurar no vazio de cada ausência, a presença dos entes mais queridos. E essa memória arde e rescalda quando se desloca no tempo e inicia uma busca silenciosa e desesperada de imagens fragmentárias que vão surgindo para nos advertir que a arte pura, assim como as palavras puras, também podem ser cruéis quando o poeta delas se apropria como algo essencial à vida, à morte e ao que mais houver.

Possuidor de um currículo impecável, não seria custoso resumir aqui os principais aspectos da sua vasta

Bio-bibliografia
:

Formado pelo Instituto Rio Branco em 1957, serviu como diplomata em Lisboa (1960-63), Caracas (1963-67), Washington (1969-70), Madrid (1974-76) e Roma (1977-79), antes de ser embaixador na Nigéria e no Benim (1979-83), em Portugal (1986-90), na Colômbia (1990-93) e no Paraguai (1993-95). Foi chefe do Departamento Cultural, Subsecretário-Geral e Inspetor-Geral do Ministério das Relações Exteriores. Doutor Honoris Causa pela Universidade Obafemi Awolowo, da Nigéria. Professor do Instituto Rio Branco. Presidente e Vice-Presidente da Banca Examinadora do Curso de Altos Estudos.

Como poeta escreveu os seguintes livros: O parque e outros poemas (1953), O tecelão (1962), Alberto da Costa e Silva carda, fia, dobra e tece (1962), Livro de linhagem (1966), As linhas da mão (1978 - Prêmio Luísa Cláudio de Souza, do Pen Club do Brasil), A roupa no estendal, o muro, os pombos (1981), Consoada (1993) e Ao lado de Vera (1997 - Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro). ´Poemas reunidos´, coletânea com escritos feitos desde a juventude.

Como historiador e africanólogo publicou: A enxada e a lança: a África antes dos Portugueses (1992-1996) e As relações entre o Brasil e a África Negra, de 1822 à 1° Guerra Mundial (1996).

Como ensaísta publicou: O vício da África e outros vícios (1989), Guimarães Rosa, poeta (1992), e Mestre Dezinho de Valença do Piauí (1999). Como romancista publicou: Espelho do Príncipe (1994).

Organizou várias antologias: Lendas do índio brasileiro (1957, 1969, 1980 e 1992), A nova poesia brasileira (Lisboa, 1960), Poesia concreta (Lisboa, 1962) Da Costa e Silva (1997), Poemas de amor de Luís Vaz de Camões (1998) e com Alexei Bueno, organizou: Antologia da poesia portuguesa contemporânea (1999). Dirigiu e foi o principal redator da Enciclopédia Internacional Focus (Lisboa, 1963-68).

Para gáudio nosso, ele, que ora preside a mais importante instituição cultural do Brasil, a Academia Brasileira de Letras, e tem por missão cuidar da nossa portuguesa língua, iniciou seus estudos no Colégio Farias Brito, de Fortaleza, onde fez o primário e ginasial entre 1937 e 1943.

Em síntese, ouso dizer que Alberto da Costa e Silva é um escritor universal que ancorou sua memória na infância, nas pradarias secas de Sobral e nos mangueirais de Mecejana, onde muitas vezes se banhou na lagoa em que José de Alencar, o pai do romance brasileiro e patrono da ABL, desvirginou em pensamentos Iracema.

O último livro de Alberto da Costa e Silva é Um rio chamado Atlântico, pela Editora Nova Fronteira com 288 páginas. Nesses ensaios, o historiador Alberto da Costa e Silva revela peculiaridades e fatos históricos de uma África que ainda não conhecemos. Na sua visão o oceano Atlântico foi, durante os séculos da escravatura e nos primeiros anos que se seguiram à abolição, um rio largo e comprido que tinha como margens o Brasil e a África ocidental. O autor sustenta que a cultura africana é um dos alicerces da cultura brasileira e o modo de vida do outro lado do Atlântico também foi influenciado pelo Brasil.

Ruy Câmara

 

 

 

 

 

 

27/12/2007