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			Marcelo Backes 
                                         
                                            
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                   
              
                                                                   
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                   
             
			
			EPIGRAMAS 
			 
			 
			 
			De: Estilhaços – minigâncias-digressões-e-batocaços, Record : 
			2006, 178p. 
			 
			 
			O aforismo... 
			o epigrama 
			é a descoberta 
			casual duma 
			alma aberta, 
			que de repente 
			se conhece 
			frente a frente. 
			 
			Pia mater 
			Escrevo pra brigar com a língua e o mundo, 
			E me entender comigo mesmo, por segundo. 
			 
			Adeus à paródia! 
			Tenho saudade 
			do sangue quente 
			da realidade... 
			 
			Diário de um combatente 
			Eu tento tudo, 
			e tudo é muito, 
			mas não é tudo, 
			porque ainda há 
			as variáveis 
			– instáveis, 
			incontroláveis – 
			do mundo e dos outros... 
			e as do meu eu, 
			dos meus outros eus... 
			 
			Amor é... 
			...quando a gente quer comer a mulher 
			pra ficar mais perto... 
			 
			Amar é... 
			...comer a mulher, 
			mesmo quando 
			ela não quer... 
			 
			Foi só mal tão-somente não mais que apenas vê-la... 
			E alguém gritou, lá do fundo do meu eu: 
			Não me abrace, 
			que eu sou todo grãos e me desfaço... 
			 
			Passeio catártico e secreto 
			ao círculo polar ártico 
			Nas terras frias e plácidas da Lapônia,  
			meu Uruguai deságua num lago da Francônia; 
			... 
			e a pororoca revolta devora 
			minha pobre alma em polvorosa, 
			sobra a vossoroca dolorosa 
			e a borrasca depois da aurora. 
			 
			Partir 
			A água é mãe! 
			Estou no trem 
			e penso nela. 
			Os pingos da chuva vem 
			e o vento desenha 
			espermatozóides 
			na janela. 
			 
			Império dos sentidos 
			Dói tanto ver! 
			Quem menos ama, 
			tem mais poder... 
			 
			AÇOUGUEU 
			O negro, negro, negro sangue 
			do meu matadouro interior 
			é a tinta que o papel lambe 
			pra amainar em vão minha dor. 
			 
			Princípio 
			Viver 
			é escrever 
			pra não 
			matar... 
			 
			No temporal 
			Me sinto atraído, 
			a não ser ouvido! 
			Mas não vou deixar, 
			de abrir meu peito... 
			e gritar! 
			 
			O filho pródigo 
			Guardei porcos no chiqueiro da crítica 
			por tanto tempo; ê, vida dura! 
			Agora é voltar à estância mítica 
			da minha própria literatura... 
			 
			PLANTAR BATATAS 
			se não quisesse ganhar o prêmio Nobel um dia 
			eu com certeza jamais escreveria 
			 
			 
			
			 
  
                                                                   
          
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