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Mànya Millen

Thomas Cole (1801-1848), The Voyage of Life: Youth

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Poesia:


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Fortuna crítica: 


Alguma notícia da autora:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Alberto da Costa e Silva

 

Alphonsus Guimaraens Filho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Allan R. Banks (USA) - Hanna

 

 

 

 

 

 

Mànya Millen

20.5.2005


Ivana Arruda Leite:

Muito humor para falar de pouco amor


 

Com o mesmo humor preciso, às vezes ferino e quase sempre afetuoso com que constrói seus contos — que versam, em grande parte, sobre relacionamentos amorosos para lá de fracassados — a escritora Ivana Arruda Leite se define como a “rainha dos baús”. É que apesar de escrever incessantemente desde bem jovem, essa paulista de Araçatuba, que cedo trocou o interior pela capital, só viu seu primeiro livro publicado em 2002 (“Falo de mulher”, pela Ateliê), quando já tinha 51 anos. E quando já tinha, em seus baús, material suficiente para publicar mais uma série de obras.

Pois foi o que aconteceu. Depois de tanto tempo cumprindo o mesmo trajeto feito por milhares de escritores — ou seja “mandar originais para as editoras e receber um não como resposta”, diz Ivana — a autora, hoje com 54 anos, já tem quatro livros nas prateleiras e textos em outras tantas coletâneas, o que a faz também se auto-intitular carinhosamente de “rainha das antologias”. Embora Ivana continue a escrever sem parar, muitos dos contos presentes em seus livros, inclusive no mais recente, “Ao homem que não me quis” (Editora Agir), foram resgatados dos velhos baús.

— Acho que o melhor do meu baú está em “Falo de mulher” e neste “Ao homem que não me quis” — conta Ivana, que cursou arquitetura nos anos 70 e depois formou-se também em ciências sociais. — São histórias escritas há dez, 15 anos. Mas tem coisa nova.

Do baú ou mais recentes, as histórias de Ivana têm em comum cenas de infelicidade amorosa, com mulheres sofrendo por homens que as rejeitam, sofrendo a cada partida do parceiro, sofrendo porque o par ideal nunca aparece, sofrendo por amar. Leitura deprê? Nem pensar. Nos quinze minicontos — pequenos achados literários de um ou dois parágrafos — e três contos do novo livro, todos esses fracassos amorosos não derrubam as personagens diretamente na lama. Elas podem até cair, mas não sem antes cravar duas ou três observações que provocam risos no leitor.

Como por exemplo no miniconto “A quinta carta”, em que uma mulher acredita que vai encontrar o homem da sua vida de repente, e que vai reconhecê-lo imediatamente, como previu uma cartomante. O problema é que no dia em que vislumbra o tal sujeito ele está de carro, e ela a pé. “Foi assim, por uma fração de segundos, que eu perdi o homem da minha vida. O destino sempre cumpre o que promete, mas o trânsito nem sempre ajuda”, filosofa a coitada.

— Como só falo de desgraça, como não há um só amor bem-sucedido, uma mulher feliz, uma coisinha leve, o meu respiro é o humor. Se eu não lançasse mão dele não me salvaria — conta Ivana, lembrando, às gargalhadas, que uma tia vive perguntando a ela quando vai escrever um conto com final feliz.

Ivana diz que trafega pela contramão, ou seja, mostra personagens que não são as mulheres lindas e bem-resolvidas que ilustram revistas e programas femininos: — As mulheres dão cabeçadas a torto e a direito. Minhas amigas não vivem esse paraíso, eu não vivo esse paraíso. Então me proponho a falar disso.

Fracassos amorosos que divertem os leitores
 

Embora reitere que sua literatura não é autobiográfica, Ivana, como todo escritor, reconhece que leva para seus textos um pouco da vivência pessoal.

— Minha vida é uma vocação para o fracasso amoroso total, eu sou talhada para não dar certo — conta ela sem qualquer pingo de drama. — Me separei quando minha filha (hoje com 26 anos) era pequena, depois namorei, tive casos. Até que resolvi parar com as minhas histórias de desgraça fazendo literatura que divirta as pessoas.

Apesar de ter uma boa reserva de textos ainda inéditos, Ivana continua a escrever sem parar. Boa parte dessa escrita, aliás, pode ser vista no blog da autora (www.doidivana.zip.net), diversão criada em janeiro [22005] e na qual ela se confessa irremediavelmente viciada.

 

 

Manoel de Barros

 

Augusto dos Anjos