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Laurindo Rabelo


 

Modinhas

Foi em manhã de estio


Foi em manhã de estio
De um prado entre os verdores,
Que eu vi os meus amores
Sozinha a cogitar.


Cheguei-me a ela,
Tremeu de pejo...
Furtei-lhe um beijo,
Pôs-se a chorar.


Eram-lhe aquelas lágrimas
Na face nacarada
Per'las da madrugada
Nas rosas da manhã.


Santificada
Naquele instante,
Não era amante,
Era uma irmã.


Dobrados os joelhos
Os braços lhe estendia,
Nos olhos me luzia
Meu inocente amor.


Domina a virgem
Doce quebranto,
Seca-se o pranto,
Cresce o rubor.


Nestes teus lábios
De rubra cor,
Quando tu ris-te
Sorri-se amor.


Dos lindos olhos,
Tens o fulgor,
Se p'ra mim olhas
Raios de amor.


De teus cabelos
De negra cor,
Forjam cadeias
Brincando amor.


Neles p'ra sempre,
Servo ou senhor,
Viver quisera
Preso de amor.


Rosas que tingem
Fresco rubor
Nas tuas faces
Espalha amor.


Se de minh'alma
Com todo o ardor,
Chego a beijá-las
Morro de amor.
Tua alma é pura
Celeste flor,
Só aquecida
Por sóis de amor.


Já em ternura,
Já em rigor,
Dá vida e morte,
Ambas de amor.


Quando a perturba
Casto pudor,
Encolhe as asas
Tremendo amor.


Se do ciúme
Sente o fulgor,
Em mar de chamas
Se afoga amor.


Se me concedes
Terno favor
Terei por lume
Somente amor.


Porém no templo
Mandarei pôr
O teu retrato
Em vez de amor.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Entardecer, foto de Marcus Prado

 

 

 

 

 

Laurindo Rabelo


 

Delírio e ciúme


Mais nada resta a suspeitar!... Mais nada
O véu da falsidade encobrir pode!...
Do desengano ao lume, desesp'rada,
Atenta tudo vê, tudo conhece
Minha alma acesa em raiva, acesa em zelos!...
Que pretendias, pérfida?... Que ainda
Perdurasse a ilusão com que risonha
Entretinhas meus loucos pensamentos?
Que da paixão ao sopro envenenado


O lume da razão, perdendo a chama,
Jamais recuperasse?... Não! não pôde
Em mim de amor a força ganhar tanto!...
Mas oh! por que me ufano se ainda escravo
Geme o meu coração? Se inda deseja
Ver da tigre o semblante, ouvir-lhe as vozes?...
Tristes sortes dos míseros amantes,
De ingratos corações vítimas loucas!
Conhecem o algoz! e o algoz só querem!
Maldizem mão cruel, que os assassina,
E só acham nos braços do verdugo,
Alívio para o mal, que os atormenta!
Cegos, que pretendeis achar ventura
Entregues à paixão, que me devora!
Estultos! vede os males que me cercam!
Contemplai minhas ânsias! meus suspiros
Penetrem vossos peitos desgraçados!


Amei uma mulher, julguei que nela
Tudo era belo, tudo amável, terno:
Minha alma embalsamada pelo aroma
De meigas esperanças amorosas,
Só delícias gozava, só prazeres
Quando pensava nela, quando a via;
Meu peito era inocente, e a razão nova.
Na mente virgem de amorosas cenas,
Era a primeira trágica - Marfida! -
Roubou-me com enganos a traidora
Meus primeiros suspiros, meus carinhos,
Meus beijos, minhas queixas, meus desvelos!
Se de ciúme ardente o peito amante,
Irado, contra ela a voz erguia,
Um sorriso somente me bastava
Para apagar a lava em que fervia
Meu coração zeloso! Um olhar terno,


Delirante de amor, aos pés da infida
Em despojo a seus olhos me arrastava!
Num beijo desmaiava, embriagado
Por um licor divino que sentia
Difundir-se dos seus pelos meus lábios!
Quantas ditas gozei! quantos tormentos,
Já me causava a Ingrata antes da infâmia!...
Mas... tudo se passou!... Visões celestes,
Vossa tirana angélica pintura
Em quadros infernais está mudada!...
Leves pincéis de amor tendo quebrado,


Molhou da ingratidão a negra brocha
Nas tintas que as traições lhe ministraram,
E dentro da minha alta só vilezas,
Falsidades venais, cenas infames
Me desenha na mente desvairada!
Oh! como! com que cor, com que prodígio
Vendo estou daqui mesmo dos seus crimes
O retrato fiel, a forma viva!
Crestados pela luz da fantasia
Queimam-se os véus que envolvem o nefando
Leito onde fervem gozos impudicos!
Onde a luxúria treme em corpos trêmulos,
Exalando seu hálito empestado!
Ao sumo em comoção chegaram ambos:
Correm os beijos mais que o pensamento:
Juramentos de amor entrecortados.
Ouvem as fúrias presidindo o ato!
Os corpos mutuamente se comprimem...
E Deus em toda a parte!!!... e tudo vendo!!...
Nem o respeito ao céu lhe veda o crime
Que acesa a Salamandra em fogo impura,
Tem o céu nos prazeres desonestos


E seu Deus no mortal com que os goza...
E não brada vingança um tal delito?...
Risonha a Natureza a contemplá-la
Parece festejar seus desatinos!...
Bem; sucumba-se a sorte aos céus e ao fado;
Fartem-se com os jorros do meu pranto;
Contém-me as ânsias, contém-me os suspiros,
Formem eles um cântico de glória
Que ao seio paternal do Nume afague!...
Porém... que digo!... Lábios, que fizestes?...
Que disse!... oh! justo Deus! perdoa a Bardo:
Não guiou a razão falsários ditos:
Perdoa, justo céu! são tais palavras
Centelhas do vulcão em que me abraso!
Marfida escuta agora a voz do vate,
Onde a paz já domina; atende um pouco
À voz do coração aniquilado.


Que já livre das fúrias do ciúme,
Inda ardente de amor, mas já sem lavas,
Submergido nas trevas da tristeza,
É qual em fundo bosque, em noite escura,
Esqueleto de choça incendiada,
Sem chama, sem fumaça, em brasa viva!
Argüições não são, meu bem, são rogos!
Rogos, que meigo, terno, lacrimoso,
Suplicante, abatido, d'alma verto!
Marfida! muda um pouco esses transportes!
Dos lábios desse amante que idolatras,
Desapega teus lábios!... vem ao menos
Encostá-los nos meus envenenados
Para dar-lhes o seu contraveneno!
Cede às aflitas preces da minha alma,
Que sedenta te roga algumas horas,


Um minuto sequer de gozo antigo,
Da celeste ilusão dos teus enganos!...
Mas... sucumba a paixão; erga-se o homem!
Quebrem meus pés enfim as vis cadeias,
Que a seus pés arrastei! Mísero louco!...
Escárnio a meu rival, escárnio dela!
A taça em que sorvi divino néctar
Caiu-me aos pés quebrada; os vis fragmentos
Esmaguemos também! Nem mais teu rosto
Venham mostrar-me espelhos da memória!
Vai-te! Vai-te de mim... porém, não! fica,
Fica, que, se tu partes, vai contigo
Todo o meu coração, vai-se minha alma!...
Que ânsia tão aflita me sufoca!
Talvez a morte seja... Vem; não tardes,
Imagem da extinção, imagem santa
Do nada; ponte curta que nos leva
Da ilusão à verdade! Mesmo quando,


Castigo ou prêmio, nada depois dela
Exista para nós, o nada mesmo
Realidade é! Mortais tormentos
Suportará jamais quem não existe;
A vida entre prazeres vale a vida;
Mais que a vida em desgraça vale a morte.
Talvez, talvez, cruel, antes que um dia
Sobre o sepulcro d'outro a luz derrame,
Da vida o fio me rebente a morte!
Talvez amanhã mesmo sobre a campa,
Que meu já frio corpo frio espera,
Tu pises orgulhosa de meu fado!
Vai; que lá mesmo te darão meus manes
Uma prova de mais dos meus tormentos!
Gemidos que ouvirás na minha campa,
Sairão de meu peito inanimado;


Entre suspiros ouvirás teu nome
Por meus já mortos lábios repetido;
Que amor, essencial parte do espírito,
No espírito eterno, eterno viva.

 

 

 

Henry J. Hudson, Neaera Reading a Letter From Catallus

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Carlos Figueiredo da Silva

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Goya, Maja Desnuda

 

 

 

 

Laurindo Rabelo


 

As duas redenções


Ao batismo e liberdade de uma menina


Inda uma vez tanjamos
A lira, e mais um hino
Consinta-me o destino
Erguer nos cantos meus;
Que vá, de sons profanos
Despido e desquitado
Em vôo arrebatado,
Voando aos pés de Deus.


Da liberdade a estrela
No berço da inocência
Derrama a providência
De duas redenções;
Mostrando um'alma limpa
Do crime primitivo
No corpo de um cativo
Que quebra os seus grilhões.


Que assunto mais merece
Um hino de poesia?
Que dia tem mais dia?
Que feito tem mais Luz?
Do cativeiro um anjo
Quebrando infames laços,
À cruz estende os braços
E os braços lhe abre a cruz.


Perfilha Deus o anjo
Na filiação da graça,
E o ser que o crime embaça
Puniu a redenção!
E o homem, dissipando
Do berço insano agravo,
Em menos um escravo
Abraça um novo irmão!


Que foras, inocente,
Que foras, nesta vida,
Da escravidão perdida
No bárbaro bazar!?
Pobre rola ferida
Da infâmia pelo espinho,
Em que ramo, em que ninho
Te havias de aninhar?


Infante, sem afagos,
Temendo-te altiveza,
Querendo-te a vileza
Plantar no coração,
Dariam-te nos gestos,
Nas vestes, no aposento,
Na mesa, no alimento,
Somente - escravidão!


Donzela (oh! sacrilégio!)
Amor, qual flor sem viço,
Mil vezes é serviço
Que fero senhor quer!
É dor que o fel requinta,
Que a ímpia sorte agrava
Daquela que é escrava
Depois de ser mulher!


Se mãe (é mãe escrava!)
Quem sabe se verias
Teu filho mãos ímpias
Do seio te arrancar?
E surdos ao teu pranto
Mandarem-te com calma
Do seio da tua alma
A outro alimentar?!


Criança mas sem veres
Da infância as verdes cores,
Donzela sem amores,
Talvez alam sem Deus!
Não foras arrastada
Da vida pelos trilhos,
Nem tu, e nem teus filhos
Seriam filhos teus.


Ó vós que hoje lhe destes
O dom da liberdade,
Que junto à divindade
Matais a escravidão,
Ao trovador propícios
De ação tão excelente
Em culto reverente...
Guardai esta canção.


Eu sei que haveis guardá-la,
Que em tão santa amizade
Não vem a variedade
Deitar veneno atroz.
Sou vosso desde a infância:
Da vida até o fim
Sereis tanto por mim
Como serei por vós!

 

 

 

Ticiano, Flora

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Carlos Nóbrega

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Judgment of Solomon

 

 

 

 

 

Laurindo Rabelo


 

Beijo de amor


Se me queres ver ainda,
Recobra da vida a flor;
Deixa remoçar-me a vida
Um beijo de teu amor.


De minha vida a ventura
Teus lábios guardam consigo,
Dá-me um só beijo e verás
Se é mentira o que eu te digo.


Como a flor, do sol a um beijo,
Se quiseres, podes ver,
A minh'alma, semimorta,
Num teu beijo reviver.


De minha vida a ventura, etc.


Só esperá-lo me alenta,
Me conforta o fado meu;
Imagina só por isso
Quanto pode um beijo teu.


De minha vida a ventura, etc.

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Grief of the Pasha

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Raquel Naveira

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Venus Presenting  Arms to Aeneas

 

 

 

 

Laurindo Rabelo


 

O gênio e a morte


I

Sobre as asas de fogo
Da águia ardente que no espaço voa,
Saudado pelo cântico das aves,
De flores perfumado,
Entre nuvens de púrpura - risonho
Nos céus assoma o dia.
O exército dos astros afugentam
Seus coruscantes raios;
E passeia garboso pelo espaço,
Como triunfador pela campina,
Donde expulsara as hostes inimigas.
Lá no meio da arena do triunfo,
Como um olho de Deus devassa o mundo:
As plantas que a manhã de vida enchera,
Com seu intenso ardor, bárbaro cresta -
Qual jovem indiscreto, em loucos dias
De vulcânica idade,
No coração desseca, mata, extingue
Sentimentos que a infância alimentara...
Da glória ao grau supremo
Subiste, ó rei; humilha-te - vassalo
Também és do Senhor - descer te cumpre.
Ei-lo que abdicou - Já vai tardio
Pela estrada do ocaso, e já tristonha
Lhe escorre pelo rosto a luz enferma!
Sobre leito de chumbo se reclina, -
E, no momento extremo,
Seus olhos chamejantes
Extremo olhar saudoso à terra volvem.
Último arranco!... Cai desfalecido
Nos braços do crepúsculo.
Morreu o dia; - e a noite piedosa
Em seu manto de dó lhe envolve o túmulo.


II

Que é feito, ó Primavera,
Das frescas odoríferas grinaldas
Que a fronte te adornavam?
Murchas caíram; jazem esmagadas
Aos pés de gelo do caduco inverno!
Os pomos sazonados,
Que pendiam das árvores frondosas,
Orgulho e pompa dos alegres prados,
Ei-los dispersos pelo chão molhado
Do pranto que em tristeza o céu derrama,
Ao ver-lhe a fronte merencória e pálida,
Debruçada do cume das montanhas,
Com lágrimas saudar do sol os raios,
Qual mísero vivente, a quem torturam
As galas da alegria.
Beijada pelos zéfiros - c'roada
De viçosas capelas, - pelos bosques,
Jardins, e prados, e alcantis dos montes,
Eu a vi passear; - vi toda a terra
De flores se cobrir, trajar verduras,
Ao toque de seus passos;
Vi... mas mudou-se da estação ridente
O quadro encantador; - e já bramidos
Dos desatados temporais proclamam -
Que é morta a Primavera.


III

Morrem as estações, morrem os tempos!
Morrem os dias, como as noites morrem:
Também acaba o homem -
E o Anjo do extermínio, desdenhoso,
Encara estultas pompas, que distinguem
O servo do senhor, o rei dos povos;
E fazendo correr-lhes pelas frontes
A rasoura da morte, traça o nível.
Que cabe aos homens todos.
Tudo no mundo expira:
Só sobranceiro à lousa o Gênio altivo
Nos vôos acompanha a eternidade!
Soberbo em seu poder persegue a morte,
E consegue vencê-la,
Mil vítimas lhe arranca,
E da imortalidade nos altares
As mostra coroadas.
Em vão do manto esquálido
A bárbara sacode o voraz verme
No cadáver do sábio;
Lá desce o Gênio intrépido,
Em vão as frias cinzas lhe arremessa
Nos abismos do olvido;
E, ao lume da lanterna da memória,
Ajunta as cinzas, sopra o fogo santo
Da santa poesia,
O sábio ressuscita e pasma o mundo!


IV

Beleza, doce engano,
Mimo, que o tempo deu, que o tempo acaba;
Encantadora nuvem, mas efêmera,
Que da cor do pudor n'os céus vagueia,
Qual suspiro de amor que aos céus se eleva;
Beijada pelo sol, tímida aurora,
Também fenecerás! Trevas do túmulo
Aos lumes da existência
Sucederão funéreas;
Serão consócios teus mudo silêncio,
Sombras, escuridão, vermes, e terra.
Lestes, belas? Tremeis? Magos encantos
Baceia a mão do tempo, arrasa a campa:
Porém do Gênio à voz - curva-se o tempo:
Quebra o sepulcro a laje aos pés do Gênio.
Não!... de todo não morre uma beleza
De um Gênio idolatrada;
Que a luz brilhante, que lhe anima os carmes
O luzento fanal, que o ilumina
Nas borrascas da vida,
Jamais, jamais se apaga.


V

Cidades destruídas,
Impérios derrocados,
Oh! quantas, quantas vezes
O Gênio, qual brandão, vos esclarece
As pálidas ruínas,
Lê nelas vossa glória, e vos confia
As trombetas da fama!...
Se foge a tempestade,
Se as estações revivem,
Se as noites reproduzem novos dias,
E os dias novas noites,
Servos obedecendo à voz do Eterno,
Mensageiro do Eterno o Gênio exerce
Igual poder na terra!... A Natureza,
No meio das procelas,
Se a voz lhe escuta, abandonando as fúrias,
Dissipando de um sopro atroz horrores,
Surge risonha, como à voz divina,
Saiu do caos informe, - encantadora,
Toda nua, trazendo por adornos
Nos seios o Verão, nas mãos o Outono:
Nos cabelos prendendo a Primavera,
Por chapim de cristal calçando o Inverno.
Do Gênio ouvindo o canto,
Remoçam-se as idades,
Os mortos dos sepulcros se levantam,
E vivem nova vida
Dos homens na memória.


VI

Ó Anjo das ruínas,
Voa ao teu reino, que é tarefa inútil
Extinguir o que é belo no universo,
Enquanto o lume santo
D'inspiração celeste
Mentes iluminar predestinadas.
Aos sons miraculosos
D'harpa do Gênio ressurgindo ovantes
O saber, a virtude,
Meigos encantos de gentil beleza,
Hão de zombar de ti - quebrar-te o sólio,
Calcar-te aos pés a fronte.


VII

Como o gemer de vaga, que se quebra
No sopé do rochedo;
Como ribombo de trovão, que rola
Pelos longes do espaço,
Ou eco de clarim perdido em ermos,
Do Gênio a voz ecoa no infinito,
E, por ela acordada,
O semblante solene
Ergue para saudá-lo a Eternidade,
Lá soa o bronze, solfejando a nota
Da alpercata da morte sobre as campas.
O sol está no ocaso!!!
O Gênio ansioso espera
O sinal de seu vôo ao Ser Supremo.
Vede-lhe o pensamento: - é uma lira,
Donde os dedos da Fé extraem destros
Melífluos sons divinos -
São os salmos do gênio agonizante:
E a última das notas é sua alma,
Que se perde no céu! - De lá, ó morte,
Sorrindo a teu poder te desafia
Pelo raio divino armada a destra,
Dos céus abroquelado;
Enquanto cá na terra,
Sarcasmo a teu poder, seu nome troa,
Como um brado de glória, enchendo o mundo

 

 

 

Ticiano, Salomé

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Marselino Botelho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, Rebecca at the Well

 

 

 

 

 

Laurindo Rabelo


 

Angústia


Quando morta a f'licidade,
A fé expira também!
Saudades de que se nutrem?
Os suspiros, que alvo têm?


Morta a fé, vai-se a esperança;
Como pois, viver pudera
Saudade que não tem crença,
Saudade que desespera?


Onde as graças do passado,
Se altivo gênio sanhudo
O cepticismo nos brada,
Foi mentira, engano tudo?


Em nada creio do mundo:
Ludíbrio da desventura,
A felicidade me acena
Só de um ponto - a sepultura.


Morreram minhas saudades,
E nem suspiros calados
Dentro d'alma pouco a pouco
Vão morrendo sufocados.

 

 

 

Bernini, Apollo and Dafne, detail

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Xênia Antunes

 

 

14.01.05