| Gualdino Avelino
Rodrigues 
Rua Teófilo Carvalho dos Santos, nº 10,
2º DT  
1600 - 773 - Lisboa, Portugal 
00 351 1 7574854 
 Poemas:
 
  Nunca aproximámos uma saudação - clique
aqui 
  Chamava-se américa - clique aqui 
  Discurso
ao tédio - clique aqui 
  Antes
de partir - clique aqui 
  Minha
geração revoltada - clique aqui 
  Os
peregrinos - nesta
página 
  serei
um dia o mar - nesta página 
  sobre
meu rosto - nesta página 
  Brothers
& Sons-
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  porque
era ali -
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  suave
no meu caminho -
nesta página 
 
 O ÚLTIMO CONCERTO
NO JARDIM MUNICIPAL
 In:
OUVERTURE
 
 OS PEREGRINOS
 os peregrinos
das
 palavras
 e
 dos
 sons
 agora
atravessam
 a
 cidade
 em
 direcção
 ao
 jardim municipal
 transportam
 guitarras
 pandeiros
 búzios
 castanholas
 para
 sossegar
 o
 horizonte
 triste
 adiar
 a
 arma
 imperial
 iluminar 
a
 viagem
 secretamente
 planeada
 passam 
também
 os
 cantores
 exibindo
 cabelos
 desordenados
 alongando 
o
 grito
 para
 sarar
 o
 violento
 abraço
 da
 despedida
 uma 
lágrima
 para
 apagar
 uma
 canção
 brutalmente
 trespassada
 uma 
estranha
 engenharia
 entrelaçando
 a
 orquídea
 o 
mar
 no
 pórtico
 do
 templo
 da
 idade
 cruxificada
 o 
público
 ocupando
 o
 teatro
 da
 agonia
 das
 grades
 frias
 perpetuando 
o
 clamor
 das
 frases
 proibidas
 enquanto 
o
 engraxador
 do
 golden gate
 engraxa
 o
 português
 uma vez
 por
 mês
 por
 vinte
 e
 cinco
 tostões
 1973
 
 
 
 
 IN:
PARTE I
 
 SEREI UM DIA O MAR
 serei um dia o mar 
cansado de ser um monte
 de ir de vir
 de ser a fonte
 onde nasce o rio
 e nunca o mar
 serei um dia o mar 
longe das cidades
 onde os homens
 por um conto
 compram a guerra
 o amor
 a terra
 onde temos de lutar
 uma flor 
suicidou-se
 ao fim do dia
 e eu pela noite fiquei
a chorar
 navios
 navegam dentro de mim
 e ao pôr do sol
em teus olhos
 sou eu
 o
 mar
 1965
 
 
 SOBRE MEU ROSTO PASSARAM
 sobre meu rosto 
passaram
 iluminaram as mãos
 fugiram pela noite
 queimaram as casas
 cantaram
 sobre meu rosto
viveram
 lavraram um dia
 beberam dançaram
 desceram o medo
 dormiram
 sobre meu rosto
 ceifaram
 plantaram feiras
 saciaram secas
 acordaram cerros
 sobre meu rosto
 cansado
 sobre meu rosto 
lutaram
 amanheceram o mar
 largaram seus barcos
 partiram tão cedo
 armados
 sobre meu rosto 
distante
 abraçaram eiras
e fontes
 amadas
 sobre o meu rosto
 passaram
 
 
 
 BROTHERS & SONS
 Desembarcaram ao pôr
do sol 
brothers & sons
 ao som do rock and dollar
and roll and roll and
roll
 aqui fizeram o seu cantinho 
do vinho fizeram uvas
 da nossa camisa o linho
 ao som do rock and dollar
and roll and roll and
roll
    oh 
brothers & sons
brothers & sons
 brothers & sons...
 brothers & sons...
 mal chegaram 
muitos tiveram de partir
 ao som do rock and dollar
 and roll and roll and
roll
 corajosos e fraternos 
para enfrentar o inverno
 aqui ficavam seis meses
 os ingleses
 
 ao som do rock and dollar 
and roll and roll and
roll
 1968
 
 
 IN:
INTERVALO
 
 PORQUE ERA ALI
 porque era ali 
que
 a cidade final
 não acabava
 no
 fundo
 dos
 cinzeiros
 dos cafés
 o 
sintetizador
 circulava
 o
 metal
 a
 corda
 o
 indizível
 gesto
 desfigurado
 vagueando
 nas
 margens
 da
 margem
 e
 nem assim
 morríamos
 descansados
 pois 
uma vez
 o
 guardião
 do costume
 ancestral
 acendeu
 o
 olho
 de
 boi
 e
descobriu-nos
 abraçados
 uns à música
dos outros
 acima 
de
 todas
 as
 palavras
 ancoradas
 no
 tecto
 de
 um
 único
 luar
 branco
 abrigo 
desordenado
 habitado
 pela
 alma
 dos cantores
 proibidos
 com 
muitos
 poemas de ginsberg
 gravados
 nas
 suas
 guitarras
 depois 
uma
 legião
 de
 fardas e mofo
 atropelou
 a
 roda
 do
 tempo
 foi
um
 desastre
 profundo
 os 
corpos
 acordaram
 no
 tumulto
 das
 sombras e dos sons
 procurando
 reconstituir
 a
 geometria
 acelerada
 do
 tempo
 o
 verdugo
 devorando
 religiões
 inventos
 exércitos
 aclamados
 da
 razão
 guiada
 por
 panfletários
 destemidos
 desmoronando
 fortalezas
 intranquilas.
 
 
 
 PARTE II
 Nota do JP: todos os poemas
que constituem esta “Parte II” do concerto estão escritos em inglês.
Em inglês, no JP, o maior site de poesia em língua portuguesa, 
não cabem nem mesmo os poemas de Fernando Pessoa. Fica o registo,
para, com todo o gosto, dar idéia da estrutura da obra.
 
 IN:
FINALE
 
 SUAVE NO MEU CAMINHO
 antes dos barcos romperem
a manhã com o sol nos mastros
massaja
 lentamente
 os olhos e os pulsos
 inicia a tua ausência
 de novo 
com amor
 liberta o corpo
 demora
 o vento sobre o inverno
 a orquídea sobre
a chuva
 prolonga-lhe 
ternamente
 a sede
 olhando o azul
 sobre o parapeito da
janela
 despede-te dos animais 
do gato
 que definitivamente
 perdura
 a
 casa
 acaricia 
a vaca
 solene
 bela
 erva e leite
 revendo
 a ribeira
 o vale
 os figos
 sela a arca do pó
e do silêncio 
escondendo
 apressadamente
 a arma da revolta
 na tarde amargurada
 de 2 de maio de 1931
 as cartas de bordo 
escritas
 na viagem
 sem regresso
 para são francisco
 guarda 
o dólar verde
 impossível
 de cambiar
 eternizado
 no
 cheiro 
da
 fábrica
 no
 gosto
 da
 rede
 em
 newark
 nos
 pomares
 de
 um
 sonho
 adormecido
 num
 bar
 de santa clara
 Pousa a viola de arame
sobre a sombra diurna 
amanhece
 o
 som
 e
 a
 luz
 a 
luz
 e 
a
 cor
 a 
cor
 e
 a
 noite
 a 
noite
 e
 a
 música
 a
 música
 outra vez
 e
 outra
 a
 música
 por saudação 
um sorriso
 suave no meu caminho
 quando olhares para trás 
na obsessante incerteza
 abraça 
a
 ilha
 um
 pôr do sol
 sobre o mar?
 1973
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