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Três jovens poetas goianos

conversam com Soares Feitosa

Dos  Leitores

 

J. Flávio

From: Flavio
Sent: Sunday, April 10, 2005 11:24 PM
Subject: Entrevista

Caro SF,

Parabéns pela entrevista. Pau foi pau e pedra fez-se pedra. Gostei quando vc citou Castro Alves como o gênio da língua. Claro que cada um tem a sua lista. O fugir dos "ismos", também, me pareceu perfeito. Há poetas geniais em todos os tempos e em todas escolas. Alguns se fizeram, profeticamente, visionários, carregando o Código Genético/ Cultural de toda uma raça: Mílton, Dante, Patativa.  

Creio, também, que não se deve ler a crítica para eleger nossos poetas favoritos. Poesia é muito mais para se sentir do que para se compreender. Eu, por exemplo, adoro um poeta já um pouco esquecido: Guilherme de Almeida. Gosto  dos modernistas que mantiveram um pouco o ranço parnaisano.

Na verdade, imagino que a gente gosta sempre daqueles poetas que falam a nossa linguagem poética própria e intransferível. Admiro, por exemplo, imensamente o Drummond, mas não o leio com frequência e nem me vejo a decorar e recitar os seus versos. Talvez o ache um pouco burocrático, não me apetece uma poesia que não é uma extensão clara da vida do autor. O Vinícius tinha esta força: sua poética era uma clara extensão da vida, talvez , por isto mesmo sua obra tenha tantos altos-baixos, num relevo que é bem próprio da existência de qualquer um. Rimbaud, Verlaine, Leminsky, Maiakovsky, Bandeira, Ana Cristina César faziam também das suas fraquezas/conflitos uma energia estranha, mas encantadora. Gosto imensamente do Leminsky, para mim, o maior poeta brasileiro da sua geração: o verso curto, a síntese difícil, o humor de navalha.

Na minha visão tosca de amante da poesia, considero Fernando Pessoa o maior poeta de todo o Século XX e imagino que ele assim seria considerado se escrevesse em língua inglesa ou francesa. Os heterônimos são uma invenção única e genial; o meu preferido é Alberto Caeeiro. O Manuel de Barros , também me parece um poeta extremamente original e o José Paulo Paes é também dos meus favoritos. Há uns 20 dias comprei um Livro de Mário Chamie (Caravana Contrária), numa promoção e acheio-o sensacional. Veja este:

 Por Trás da Palavra
 
Por trás
de toda palavra
há uma trama
cavada.
Só não se cava
nem se sagra
a palavra
enclausurada.
 
A clausura
da palavra
é a palavra
lacrada;
é a usura
da palavra
que não abre
suas veias
se se envenena
de nada.
 
Só se salva
a palavra
contaminada
por outra palavra
sangrada:
— pois a palavra
 infectada
pelo que a outra
desata
é a palavra
que em sua casca
se rasga
contra o nada
da palavra
enclausurada.
 
Por trás
de toda palavra
que não se perde
lacrada
há a trama envenenada
de toda palavra
tramada.

Sempre que se fala em arte, termina-se por cair na questão de "gosto". Mas gosto, a meu ver, se discute sim senhor! Não sei se foi o Oscar Wilde que disse que só existem dois tipos de Arte: a ótima e a péssima. Em poesia, que me parece a mais primal de todas as formas de arte, mais que em todas outras, esta divisão é bem mais perceptível. Parabéns pela entrevista e dê notícias.

jflávio

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