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Fernando Bonassi

fbonassi@uol.com.br

Riviere Briton, 1840-1920, UK, Una e o leão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia:


Ensaio, crítica, resenha & comentário: 


Fortuna crítica: 


Alguma notícia do autor:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ticiano, Magdalena

 

Leonardo da Vinci,  Study of hands

 

 

 

 

 

 

 

 

Jacques-Louis David (França, 1748-1825), A morte de Sócrates

 

 

 

 

 

Fernando Bonassi


 

Bio-bibliografia


Fernando Bonassi é paulistano, nascido na Mooca em 1962. Escritor, roteirista e cineasta, tem inúmeros livros lançados, dentre os quais citamos: A incrível história de Naldinho, um bandidão o bandidinho?, O céu e o fundo do mar, 100 coisas, Declaração universal do moleque invocado (indicado para o Prêmio Jabuti em 2002), O amor é uma dor feliz, Ta louco! e Passaporte. Vencedor da bolsa do Kunstlerprogramm do DAAD, passou um ano em Berlim escrevendo. Tem contos e livros publicados na França, Alemanha e EUA. É formado em Cinema pela ECA-USP, tendo participado como diretor/roteirista dos filmes Castelo Rá Tim Bum e O trabalho dos homens. É dele o roteiro de Um céu de estrelas, longa de Tata Amaral. Para o teatro, escreveu As coisas ruins de nossa cabeça e participou da concepção de montagens do Teatro da Vertigem, de Antonio Araújo. Com a peça Woyzeck desmembrado retornou a parceria feita anteriormente com o ator Matheus Nachtergaele.


A coluna no Jornal Folha de São Paulo

 

A coluna, assinada pelo escritor, roteirista e dramaturgo Fernando Bonassi procura dar tratamento literário aos fatos cotidianos, misturando informação e opinião. A idéia é que o cidadão paulistano identifique-se com as histórias e os personagens no que eles têm em comum com a experiência geral da cidade. Trata-se não apenas de fazer ficção da realidade, mas de revelar o mundo simbólico que está por trás de nossas maneiras de agir. É publicada no caderno Ilustrada da Folha.
Publicada quinzenalmente às terças-feiras e transmitida a partir das 13h do dia anterior, aproximadamente 170 linhas.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poussin, The Nurture of Bacchus

 

 

 

 

 

Fernando Bonassi



21.07.2001


"MELOPÉIA"

Álbum traz 23 sonetos do poeta interpretados por convidados que vão de Itamar Assumpção a Inocentes

Glauco Mattoso une música à inteligência


FERNANDO BONASSI
COLUNISTA DA FOLHA


Os poetas frequentemente testemunham os esgares dos editores diante de seus originais. A explicação desses espasmos hepáticos costuma ser circunstanciada por nossos "publicadores" na forma daquele anúncio de biscoito: "não edito poesia porque não vende", enquanto os escritores fazem o coro da outra parte do roteiro, qual seja: "não vende porque não se edita". Quem terá razão? Razão tem a ver com essas coisas? Vai saber...

Por outro lado, poucas culturas apresentam tanta diversidade musical quanto a nossa, e, aí, a poesia é sim muito bem-vinda e valorizada. Aliás, talvez não exista outra tradição tão sólida em nosso país como o casamento da palavra com a música.
O quilate das criações de Donga, Noel Rosa, Lupicínio Rodrigues, Cartola, Nelson Cavaquinho (para ficar apenas entre alguns exemplos de nossos sofisticadíssimos pré-beatniks) fez da língua cantada brasileira uma experiência artística única, profunda e verdadeiramente formadora daquilo que (se de fato tivermos...) poderia ser chamado "nossa alma".

Que o lugar de atração da poesia no Brasil, pelo menos em termos de grande público, é a música, resta pouca dúvida. Porém, levando em conta o tamanho da indústria cultural em questão, não é muito comum vermos poetas do texto transitarem para o disco. Para cada Paulo Leminski, Antonio Cícero ou Arnaldo Antunes, há inúmeros escritores produzindo versos ainda divorciados de suas possibilidades cancioneiras. Tudo isso é escolha de quem escreve, de quem compõe e de quem torna o resultado público, claro, mas a permeabilidade entre as duas áreas parece sempre ficar aquém das nossas potencialidades expressivas.

É uma pena para os nossos espíritos... Mas parte desse déficit está sendo sanado neste momento. O melhor seria dizer insana e deliciosamente sanado. Um encontro explícito entre a poesia e a música está à disposição dos ouvidos antenados: trata-se do CD "Melopéia", de Glauco Mattoso.

Glauco -que é um desses "penetrantes" transitando por diversas áreas, com o nome sempre associado a canções e à própria história da MPB- produziu 23 sonetos, interpretados pelas mais variadas vozes/arranjos da música brasileira, de Itamar Assumpção a Inocentes, passando por Humberto Gessinger, Falcão e Arnaldo Antunes.

O espectro de sonoridades é amplo e o mesmo acontece com o alcance dos textos. Se a palavra soneto faz você lembrar de alienadas velharias parnasianas, "Melopéia" pode ser uma revelação.

Despudor, sarcasmo e, o mais importante, culhões de observar e sublinhar o país que nos tornamos, com suas xoxotas embaladas a vácuo, fuzis de repetição e políticas de interesses escusos. O Brasil que Glauco passa a limpo é escatológico, injusto, perverso e autodestrutivo. Nada mais verdadeiro, para quem mantém um índice mínimo de abertura de olhos.

Numa tradição de gênios, mas que também comporta muito lixo, "Melopéia" representa a unção da inteligência crítica, senso de humor e suingue. Uma porrada adorável.
Melhor que isso, só mais disso.



Melopéia
Artista: sonetos de Glauco Mattoso interpretados por diversos convidados
Lançamento: Rotten Records (tel. (11) 6115-7511)


 

 

 

 

 

24/04/2006