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            Eduardo Diatahy B. de Menezes   A 
            historiografia tradicional de Canudos
   Dr. Eduardo Diatahy B. DE MENEZES* Prof. Titular do Deptº de C. Sociais
 e Filosofia da UFC e da UECE.
 
    1– Preliminares
 
                                                                   
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                   
            «Foi somente devido à descoberta da História – mais 
            exatamente, ao despertar da consciência histórica no 
            judeo-cristianismo e seu desenvolvimento em Hegel e seus sucessores 
            – foi somente devido à assimilação radical desse novo modo de ser no 
            Mundo que representa a existência humana, que o mito pôde ser 
            ultrapassado. Hesitamos, contudo, em afirmar que o pensamento mítico 
            tenha sido abolido. (...) ele conseguiu sobreviver, embora 
            radicalmente modificado (se não perfeitamente camuflado). E o mais 
            surpreendente é que, mais do que em qualquer outra parte, ele 
            sobrevive na historiografia!» Mircea ELIADE 1
 
                                                                   
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                   
            «A consciência teórica, prática e estética, o mundo 
            da linguagem e do conhecimento, da lei, do direito e da moral, as 
            formas fundamentais da comunidade e do Estado, todas elas se 
            encontram originariamente ligadas à consciência mítico-religiosa.» Ernst CASSIRER 2
 
 Minha tomada de posição inicial 
            estriba-se no suposto segundo o qual o mito situa-se no núcleo 
            primordial de todo imaginário social, como matriz geradora do 
            processo de construção de sentido da humana condição. E, portanto, 
            no corolário de que a história e as ciências constituem a forma de 
            produzir e de dizer o mito hoje, como resposta às aporias 
            fundamentais e incessantes da existência coletiva. Além disso, é preciso não esquecer que 
            todo discurso competente, ou que se pretende tal, elabora-se a 
            partir de um lugar social. Assim como é mister deixar claro que todo 
            ato de saber se funda num dispositivo de poder. É o locus 
            ocupado numa determinada ordem social que institui a gramática 
            discursiva do pesquisador e mesmo do ficcionista. É daí, desse posto 
            particular, que o estudioso elabora sua visão de mundo ou de 
            determinada realidade. Por outro lado, isso vem atravessado pelas 
            correntes de idéias e crenças que entretecem o horizonte cultural e 
            ideológico de uma época. Portanto, a escritura da História não foge 
            a essa condição. Aliás, o Padre Vieira resumia essas idéias de uma 
            forma muito mais perfeita e simples: 
              
                
                  
                                                                   
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                   
            «Todas as penas nasceram em 
             carne e sangue, e todos na tinta
             de escrever misturaram as cores 
             de seu afeto.»  Assim, a despeito do seu inequívoco 
            enraizamento no chão histórico brasileiro, em virtude porém de sua 
            feição de iluminismo colonizado, na consciência da geração do final 
            do século XIX e primeiras décadas do atual, as coordenadas 
            cartesianas dominantes e definidoras do espaço cultural de nossa 
            tradição letrada passavam pelos meridianos de Paris e Londres, e por 
            paralelos situados muito acima da linha equinocial. Eis por que, por 
            exemplo, na cabeça de um Euclydes da CUNHA, bem antes de conhecer 
            efetivamente a realidade de Canudos, já se lhe firmara a convicção 
            de tratar-se de "nossa Vendéia" o que ali ocorria. E seria quase 
            impossível outra comparação menos dignificante e sapiente.  É o que sublinha José Maria BELLO 
            quando assevera: «em todos os ramos de atividade intelectual, não 
            conseguiam os brasileiros emancipar-se da absorvente influência 
            européia, ou, mais especialmente, da influência francesa. Faltariam 
            às nossas letras sabor próprio e perfeita identificação com os 
            sentimentos nacionais. (...) Os homens de pensamento e de 
            sensibilidade estética vivam muito mais no ambiente espiritual da 
            Europa do que no brasileiro.» 3 E Cruz COSTA insistirá no mesmo 
            diapasão ao afirmar incisivo: «Conhecíamos melhor 
            a Europa do que o que se passava nas diferentes províncias do 
            Império. País importador de idéias, as nossas eruditas elites 
            litorâneas do século XIX sofregamente procuravam informar-se do que 
            se passava nos grandes centros da Europa, esquecidas, 
            freqüentemente, de indagar daquilo que lhes ia em redor.» 4
 
   Apresentados assim sumariamente meus 
            supostos de base, gostaria de esclarecer desde logo os limites de 
            minha proposta. Obviamente, não é minha intenção empreender aqui uma 
            análise exaustiva da historiografia tradicional de Canudos. Meus 
            propósitos são mais modestos. Sequer estão fixados no tema 
            evidenciado no título deste trabalho, pois buscam ir além. Ou antes, 
            pretendem servir-se do exame dos materiais relativos a esse caso 
            específico como suporte ou ilustração para uma reflexão acerca dos 
            processos de elaboração da nossa história. Se, em trabalho anterior sobre a 
            religião do povo em Canudos, eu fui estimulado a realizá-lo a partir 
            da questão crucial que levanta MACHADO DE ASSIS quando, na sua 
            crônica semanal de 31 de janeiro de 1897, indagava: «Se na última 
            batalha é certo haverem morrido novecentos deles e o resto não se 
            despega de tal apóstolo, é que algum vínculo moral e fortíssimo 
            os prende até a morte. Que vínculo é esse?» - agora, sou 
            movido a percorrer os caminhos de nossa historiografia tradicional a 
            partir de duas observações básicas de Euclydes da CUNHA. A primeira 
            delas, ele a põe em destaque no início do tópico em que examina a 
            religiosidade do povo, com esta afirmação fortíssima: «As 
            agitações sertanejas, do Maranhão à Bahia, não tiveram ainda 
            um historiador.»5 E a segunda, ele a enuncia ao 
            começar o seu esboço do hediondo retrato que retraça de Antônio 
            Conselheiro, nestas duras palavras: «Pode ser incluído numa 
            modalidade qualquer de psicose progressiva. (...) Por isto o 
            infeliz, destinado à solicitude dos médicos, veio, impelido por uma 
            potência superior, bater de encontro a uma civilização, indo 
            para a História como poderia ter ido para o hospício.» 6 Euclydes da CUNHA inaugura aí uma das 
            vertentes mais enraizadas da historiografia de Canudos. Ele constrói 
            o seu paradigma impregnante. Todavia, ao contrário de sua concepção 
            e a despeito de reconhecer a enorme importância de sua obra para 
            visibilização histórica desse movimento popular, como nenhum outro 
            semelhante teve até hoje, a minha convicção profunda reside na tese 
            segundo a qual foi Antônio Vicente Mendes MACIEL, o Conselheiro, 
            quem, com a realização de sua utopia cristã e sertaneja, retirou do 
            anonimato dos almanaques militares para o território da História 
            todos quantos dele participaram, inclusive do Tenente Pires FERREIRA 
            ao Marechal BITTENCOURT, e o próprio Euclydes que, sem essa 
            circunstância, não disporia de tema e paixão para a sua epopéia 
            brasileira. Mas não é esse o alvo de minha reflexão 
            aqui. Retenho pois dessas observações apenas a sua intuição central, 
            que me permite formular o seguinte questionamento: Que faz de um 
            fato banal qualquer da vida quotidiana de uma pobre gente um 
            acontecimento histórico de relevo? Como explicar que um cidadão 
            anônimo qualquer se transforme em personagem da História, em meio a 
            milhões de seres humanos que nascem, crescem e morrem sem deixar 
            nenhuma marca de sua passagem?  Evidentemente, também não constitui meu 
            escopo oferecer aqui uma resposta imediata a este questionamento, 
            que aí vai apenas para servir de fio condutor ao que se seguirá na 
            segunda parte deste trabalho, onde pretendo examinar uma amostra de 
            textos relevantes dessa historiografia. Como quer que seja, faço 
            minhas as palavras de Gilbert Durand, ao apreciar questão semelhante 
            em sua intervenção numa obra coletiva sobre história e imaginário 
            dirigida por Jacques Le Goff: 
 
                                                                   
                                                                        
                                                                        
                                                                        
                   
            «Por certo, às vezes, em determinada sociedade, 
            existem fatores extrínsecos, fatores materiais, acontecimentais: uma 
            invasão, uma seca, um movimento de população vão evidentemente 
            desencadear um imaginário (...); porém, malgrado tais incidentes 
            extrínsecos inelutáveis, creio que as velhas filosofias da História 
            têm assim mesmo razão: existe uma causação interna, há 
            algo que está contido no conjunto do próprio discurso cultural e que 
            é verdadeiramente uma "causalidade formativa". Existem múltiplos 
            exemplos disso. (...) Mas enfim, na maior parte do tempo, percebe-se 
            que as ideologias...conduzem mais freqüentemente o mundo que os 
            "fatos" positivos. (...) penso que a ciência das ciências em 
            antropologia é a ciência dos próprios movimentos dos conjuntos 
            imaginários, desses conjuntos de longa, de média e de curta duração, 
            e que é aí que reside realmente o material de estudo mais fiável, 
            mais heurístico, bem mais heurístico que os famosos "fatos". Os 
            fatos, não sabemos muito bem que são eles, sobretudo se os cortarmos 
            de todo "discurso", isto é, de toda filosofia da história. (...)
            De todo modo, é mister observar que, em história, não existem 
            jamais documentos de primeira mão. Isso não existe! Todo 
            documento que nos chega é já um produto humano, uma interpretação 
            humana.» 7
 Passemos pois ao exame do tema central 
            deste trabalho.
 2. – Exame dos Materiais
 
                                                                        
          
                                                                        
                                                                        
                   
            «isto de método, sendo, como é, coisa indispensável, todavia, é 
            melhor tê-lo sem gravata, nem suspensório, mas um pouco à fresca e à 
            solta, como quem não se lhe dá da vizinha fronteira, nem do inspetor 
            do quarteirão.» 
                
                  
                                                                        
          
                                                                        
                                                                        
                   
            MACHADO DE ASSIS Parece óbvio que se impõem de imediato algumas questões de natureza 
            metodológica e conceptual. Desde logo, que textos pretendi 
            contemplar com tal designação de "historiografia tradicional"? Que 
            critério adotar para classificá-los como tradicionais, sem recair 
            num esquematismo cronológico segundo o qual as publicações mais 
            antigas seriam necessariamente conservadoras e os textos mais 
            recentes, progressistas? Que tamanho deveria possuir uma amostra 
            significativa e representativa do corpus a ser analisado? A essas e a outras questões da mesma natureza procurei responder 
            buscando caminhos parcimoniosos e bastante simples. Aliás, não 
            procuro render homenagem ao culto ritual ou litúrgico em matéria de 
            metodologia. Nesse terreno, prefiro seguir o sábio conselho do velho 
            MACHADO DE ASSIS, dado pela boca de seu Brás Cubas, e que pus em 
            epígrafe deste tópico. Por exemplo, para os efeitos deste estudo, encarei como 
            historiografia tradicional o legado que nos vem sobretudo da 
            produção dos nossos institutos históricos, que gerou uma vertente 
            bem acolhida no seio das nossas elites acadêmicas e letradas. De 
            algum modo, essa tradição perdura até hoje, inclusive com seu forte 
            vezo positivista de perseguir uma história nitidamente factual ou acontecimental, sem articulação causal ou explicativa, e que opera 
            como se supusesse uma ordem normal e mais ou menos permanente da 
            existência coletiva, de que divergiriam alguns fatos episódicos e 
            perturbadores. Essa historiografia é suficientemente divulgada e 
            conhecida, estando na base da principal produção de nossos manuais 
            de história pátria em todos os níveis. Quanto à representatividade e validade da amostra, decidi pelo exame 
            de cerca de três dezenas de obras, tomando como critério de inclusão 
            tanto o estilo cognitivo da historiografia que praticam, quanto o 
            caráter prestigioso de sua recepção, que institui os chamados 
            "autores consagrados". Por outro lado, foram sistematicamente 
            excluídos os textos de monografias específicas, desde as da primeira 
            hora – como as de Euclydes da CUNHA e contemporâneos – até as 
            posteriores, em especial as mais recentes e mais revisionistas e 
            analíticas (NOGUEIRA, OTTEN, VILLA, BERNUCCI, LEVINE, etc.). Enfim, 
            além desses critérios, pesou significativamente na escolha dos 
            textos o tratar-se de compêndios gerais ou de um período da nossa 
            história, de modo a permitir como recurso de análise a verificação 
            do espaço quantitativo e qualitativo que o movimento de Canudos 
            neles ocupa.
 
   Dispondo desse esquadro criteriológico e analítico, um dos primeiros 
            textos com que se poderia iniciar este estudo seria por certo a obra 
            de CAPISTRANO DE ABREU, pioneiro de nossa historiografia moderna ou 
            renovada. Lamentavelmente, porém, ele dedicou a maior parte de seu 
            labor investigatório à reconstrução das fontes de nossa história 
            colonial. Assim, em toda sua obra conhecida, Capistrano só dedicou à 
            história mais próxima de sua época um único e curto ensaio de 
            síntese, intitulado «O Brasil no século [XIX]», publicado justamente 
            em A Notícia de 1º de Janeiro de 1900. Mesmo aí, ele não atribui 
            importância maior ao tema que estou a examinar. Em compensação, traz 
            saborosas páginas de fina e lúcida ironia, como ao apreciar a 
            proclamação da República: 
 
                                                                        
          
                                                                        
                                                                        
                   
            «A 15 de Novembro de 89 organizou-se um governo provisório pelo 
            exército e pela armada, em nome da nação. Até o fim do ano pouco deu 
            que falar e, em geral, mostrou-se à altura dos acontecimentos; com o 
            novo ano parece que, invadindo-o o receio de que poucos dias teria 
            de vida, febrilmente pulularam leis, regulamentos, reformas, 
            gratificações, concessões, privilégios que maravilhosamente afinaram 
            com a epidemia bolsista conhecida pelo nome de Encilhamento.» 8 
 Uma só vez refere-se ele a Canudos, mesmo assim de passagem – é 
            quando ao dizer que o governo de Prudente de Morais enfrentou quatro 
            anos de agitação de toda ordem e que a atitude do antecessor foi de 
            hostilidade nada civil antes e depois de sua posse, ele conclui: 
 
                                                                        
          
                                                                        
                                                                        
                   
            «Elementos armados, afeitos à onipotência sob o regime precedente, 
            mais de uma vez investiram contra ele, esquecida sua missão no ódio 
            do biriba,9 como era de bom gosto chamar-lhe. De Canudos mais 
            depressa se telegrafava para os foliculários 10 e agitadores que 
            para os seus superiores hierárquicos.»  
 E depois de analisar os fatos políticos que se seguiram a seu 
            governo, ele conclui o ensaio com esta nota maliciosa:
 
                                                                        
          
                                                                        
                                                                        
                   
            «Quando a 15 de novembro de 1898 Campos Salles assumiu a 
            presidência, desanuviara-se o horizonte... Os piores inimigos 
            deixaram a atitude agressiva e, ao abrir-se a sessão do Congresso, 
            em 1899, apresentaram-se os dois partidos a apoiá-lo: um, porque se 
            batera pela sua eleição e a fizera triunfar, outro, porque os 
            interesses imprescritíveis da Pátria exigiam o agrupamento à volta 
            de seu representante mais autorizado.  Chamavam-se estes o partido da Concentração. 
                                                                        
          
                                                                        
                                                                        
                   
            Continuarão as coisas no mesmo pé no ano que começa? A concentração 
            dos dois partidos lembra a fábula do homem grisalho que tinha duas 
            amantes: a velha arrancava-lhe os cabelos pretos, a moça 
            arrancava-lhe as cãs.»11  
 Portanto, autores, com produção historiográfica nesse período da 
            transição do século XIX para o atual, não enfrentaram em geral a 
            aventura de elaborar a história imediata. É o caso, para ilustrar a 
            observação, do Barão do RIO BRANCO, cujo Efemérides Brasileiras 
            posto seja publicação póstuma, preparada e anotada por Rodolfo 
            GARCIA, nasceu de sua colaboração iniciada em 1891 ao Jornal do 
            Brasil, fundado no mesmo ano pelo Conselheiro Rodolfo DANTAS: assim, 
            em suas mais de 700 páginas, não chega a contemplar o tema de que me 
            ocupo.12 Desse modo, a primeira grande obra de nossa história a examinar 
            efetivamente o movimento de Canudos, foi o livro do Padre Raphael 
            Maria GALANTI, jesuíta e historiador nascido em Piceno, Itália, em 
            1840 e morto em Friburgo, RJ, em 1917. No Brasil, ele circulou pelo 
            Amazonas e o Pará, ensinou no colégio dos jesuítas em Itu, SP., e 
            foi sobretudo professor de Filosofia e História no Colégio Anchieta 
            de Nova Friburgo, e sócio correspondente de vários Institutos 
            Históricos. A obra a que me refiro é a sua História do Brasil, em 5 
            tomos, publicada entre 1896 e 1905, cuja parte relativa ao Segundo 
            Império e à República não tinha modelo a seguir, tendo sido, 
            portanto, a pioneira. Infelizmente, não tive acesso a esse texto, 
            mas possuo a sua edição resumida para fins escolares.13 Nessa ordem de consideração, a obra seguinte é a monumental 
            História 
            do Brasil de José Francisco da ROCHA POMBO, em 10 volumes de grande 
            formato, publicada entre 1915 e 1917, mas cuja primeira edição de J. 
            Fonseca Saraiva é de 1905, no Rio de Janeiro.14 De certa maneira, 
            esta obra compensa a ausência da anterior na medida em que sua 
            narrativa, conforme assinala o próprio autor, segue fundamentalmente 
            a exposição do Padre GALANTI que, por sua vez, «resume os dois mais 
            valiosos documentos que temos à vista (Os Sertões, de Euclydes da 
            CUNHA, e a Guerra de Canudos, do dr. Aristides MILTON)...». 
            15 Esta 
            referência intertextual surpreende na sua origem a formação disso 
            que venho chamando de historiografia tradicional de Canudos, mostra 
            o paradigma em sua gênese.  Algumas características deste texto o singularizam em relação a 
            outros. Com efeito, inserindo o relato e as considerações acerca das 
            ocorrências relativas a Canudos no quadriênio do primeiro presidente 
            civil da República e, portanto, tendo como pano de fundo, as 
            agitações políticas que explodiram no governo anterior e se 
            projetaram no novo, o autor é o primeiro a dedicar um espaço 
            significativo a esse movimento popular (43 pp.). 16 Há imprecisões 
            de datas e dados, sobretudo quanto aos fatos relativos ao 
            Conselheiro e à campanha contra Canudos – como, por exemplo, quando 
            o autor dá o ano de 1835 como o do nascimento de Antônio Vicente 
            Mendes MACIEL. A linguagem é simples e o relato, mediante longas 
            citações de suas fontes já mencionadas, é razoável. Sua semântica 
            discursiva, todavia, se insere na construção da imagem desfavorável 
            à gente e ao líder do movimento: aquela é chamada de fanática, 
            devassa e criminosa, e o Conselheiro é pintado num desvario 
            delirante, sendo o juízo final e o fim do mundo o assunto predileto 
            de suas prédicas, no que aliás se aproxima de Euclydes. Dois 
            aspectos dão relativa importância ao seu texto: primeiro, o fato de 
            o autor reproduzir boa base documental, como o faz quando transcreve 
            a maior parte do Relatório de Frei João Evangelista de MONTE 
            MARCIANO; e em segundo lugar, o fato de, a despeito de ser ele um 
            historiador reconhecidamente conservador e até tomar partido a favor 
            das forças repressoras – como, por exemplo, quando ao descrever os 
            combates refere-se àquelas sempre como "os nossos" - , a despeito 
            disso, repito, ao final do relato, ele menciona o protesto dos 
            estudantes de medicina da Bahia contra as estrondosas manifestações 
            de júbilo aos vitoriosos que haviam praticado horrendas crueldades 
            na campanha, e termina dizendo: 
 
                                                                        
          
                                                                        
                                                                        
                   
            «Cumpre, portanto, aqui perguntar se houve deveras, ou não, essas 
            crueldades. O dr. Aristides Milton, citando o general Dantas 
            Barreto, afirma ter havido, e muitas. Euclydes da Cunha, referindo o 
            que viu, descreve essas crueldades com cores bem carregadas. Mas nós 
            nos dispensamos de tarefa tão triste... A cena é medonha demais... 
            Aqui, entre parênteses, perguntaremos apenas: que fim teriam levado 
            aquelas 300 míseras criaturas que o Beatinho apresentou no 
            acampamento?».17
 E ele conclui o tópico reproduzindo o valioso documento constituído 
            pelo manifesto apresentado pelos estudantes da Faculdade Livre de 
            Direito da Bahia, denunciando as atrocidades e exigindo do novo 
            regime o respeito ao estado de direito. Alguns anos antes, em 1900, mas pertencendo ao mesmo período, surge 
            a História do Brasil, curso superior, de João RIBEIRO (Laranjeiras, 
            SE, 1860 – Rio de Janeiro, 1934), que inaugura uma perspectiva nova 
            na interpretação de nossa evolução histórica.18 É de lamentar, 
            porém, que, apesar de suas mais de 400 páginas, estas só examinem o 
            período republicano mediante curtos parágrafos relativos aos 
            quadriênios presidenciais, como se tornou costume nos manuais de 
            intenções didáticas. Assim, no de Prudente de MORAIS, o autor repete 
            numa referência sumária: «venceu a rebelião dos fanáticos de 
            Canudos onde pereceram numerosas tropas que desconheciam o sertão e 
            mal calculavam os recursos desses jagunços sertanejos 
            dirigidos por um quase louco, o místico Antônio Conselheiro. O 
            reduto de Canudos foi afinal destruído (1896-1897) ao cabo de seis 
            meses de lutas.»19 Como 
            se pode constatar, ele nada acrescenta de ganho e só reforça a 
            estereotipia do discurso negativo acerca do tema. Nas duas décadas seguintes, esse padrão se reproduz recorrentemente.  É óbvio que inúmeras obras do gênero foram sendo publicadas no 
            período. Mas pelos critérios adotados, só é relevante registrar 
            aquelas cuja vigência tocou de perto o interesse do público que 
            garantiu sua recepção. Nessa perspectiva, pode-se assinalar a 
            História do Brasil de Mário da Veiga CABRAL (Rio de Janeiro, 1894 – 
            Idem, 1973),20 que vai conhecer desde seu aparecimento em 1920 
            enorme sucesso, visto que foi sendo bafejada por elogiosas resenhas 
            de figuras como João RIBEIRO, Rocha POMBO e muitos outras, 
            assegurando-lhe inúmeras edições nas décadas seguintes. Conforme a 
            tradição que já se firmara, o autor examina Canudos no capítulo 
            XXXVII, referente ao "Segundo Quadriênio (1894-1898)". Para uma obra 
            de grande formato e mais de 600 páginas, é inteiramente indigente e 
            secundária a síntese de meia página que o autor dedica a Canudos: 
            mencionando em nota de rodapé que existem duas obras importantes 
            «sobre esse movimento de fanatismo» - Os Sertões de Euclydes da 
            CUNHA e Os Jagunços de Afonso ARINOS – nele não encontra nenhum fato 
            que mereça relevo e chega a atribuir ao vice-presidente, Manoel 
            VITORINO, a iniciativa das duas primeiras expedições. Aliás, em suas 
            14 páginas, o capítulo se estende excessivamente na questão de 
            limites com a Argentina, na invasão do Amapá pela França, e, 
            sobretudo, no atentado a Prudente de MORAIS, que resultou na morte 
            do Marechal Carlos Machado BITTENCOURT, tudo isso numa retórica 
            heroificante e patriótica, bem ao gosto do estilo dessa 
            historiografia. Há uma obra desse período que merece mencionada por seu silêncio 
            sobre o assunto. Embora produzida como introdução geral ao Censo 
            Demográfico de 1920, foi publicada depois, em 1922, como livro 
            autônomo e teve várias edições sucessivas sem alterações 
            significativas, tornando-se referência básica dos estudos 
            brasileiros como representante de sua vertente ideológica. Refiro-me 
            ao livro de F. J. OLIVEIRA VIANNA (Rio Seco de Saquarema, RJ, 1883 – 
            Niterói, RJ, 1951), sobre a evolução da raça, da sociedade e das 
            instituições políticas do Brasil.22 Com efeito, a obra não traz 
            qualquer menção à existência de Canudos. É somente num livrinho 
            posterior, de menor importância no conjunto de sua obra, que se vai 
            encontrar, conforme sua perspectiva de nostalgia autoritária, 
            observações assim mesmo agudas acerca dos movimentos sertanejos, em 
            que Canudos entra comparativamente:
 
                                                                        
          
                                                                        
                                                                        
                   
            «Outra, não há dúvida, teria sido a orientação da nossa política e 
            da nossa actividade administrativa, si essa zona de attritos entre o 
            poder central e as forças regionaes, envez de se ter localizado na 
            orla maritima, se houvesse fixado no interior do grande massiço 
            central, onde vivem as nossas populações sertanejas. Então, essa 
            grande energia centralizadora – que o Imperio, dirigido por grandes 
            constructores politicos, do pulso e da estatura de Feijó, e por 
            estadistas conservadores, da tempera e educação de Itaborahy e de 
            Uruguay, desdobrou inteiramente á orilha dos litoraes, desde 1822 – 
            ter-se-hia desencadeado sobre os sertões, como sobre o pampa a 
            energia dos unitarios da escola de Sarmiento e de Rivadavia. (...)
 Somente quando uma dessas irrupções fragorosas de banditismo ou de 
            fanatismo, como a de Canudos, exorbitando as lindes locaes, vem 
            sacudir-nos de nossa indifferença, é que nós, os litorâneos, nos 
            voltamos para essas vagas regiões de caatingas asperas e bravias – 
            e, interrogamos, feridos de surpresa, e aturdidos, e inquietos, e 
            espantados, essa vastissima Mongolia nacional, tumultuante na sua 
            innumeravel barbarie de tunguzes de cangaço...Somente quando uma 
            dessas irrupções fragorosas de banditismo ou de fanatismo, como a de 
            Canudos, exorbitando as lindes locaes, vem sacudir-nos de nossa 
            indifferença, é que nós, os litorâneos, nos voltamos para essas 
            vagas regiões de caatingas asperas e bravias – e, interrogamos, 
            feridos de surpresa, e aturdidos, e inquietos, e espantados, essa 
            vastissima Mongolia nacional, tumultuante na sua innumeravel 
            barbarie de tunguzes de cangaço...[pp. 144-145]
 (...)
 O systema moderno, isto é, o que empregamos em Canudos e no 
            Contestado, é differentissimo e mesmo inteiramente contrario ao 
            velho systema colonial. Contra as explosões intermittentes da 
            indisciplina sertaneja, os estadistas republicanos preferem realizar 
            uma vasta mobilização de brigadas militares, imponentes, magestosas, 
            formidandas. Essas poderosas massas de exército movem-se penosamente 
            das capitaes da costa até as profunduras da "selva selvaggia" dos 
            sertões remotos. Assediam, depois, o fóco de banditismo revolto. 
            Dizimam, depois, a fogo de metralha, a sertanejada brava. E 
            retornam, depois, anciosas e prestas, ás claras capitaes da costa e 
            ás suas avenidas resplandescentes...
 
 Nas regiões "pacificadas", por sobre os escombros das choupanas 
            destruidas e incendiadas, só encontrareis a desolação e o deserto. 
            Nada alli fica que atteste a presença deste poder tremendo, que só 
            se revela pela bocca das carabinas. Nem um posto policial. Nem uma 
            aldeia. Nem um centro judiciario e social. Nada que indique um 
            desejo de legalidade. Nada que continue pelos tempos em fóra a 
            soberania do poder publico...
 
 Diante de um caso como o de Canudos ou o do Contestado, os antigos e 
            experientes administradores do periodo colonial não se limitariam, 
            como os do periodo republicano, a fuzilar os bandidos de cangaço ou 
            os seus caudilhos e chefes. Teriam estabelecido no meio delles, 
            depois de feita a repressão, um centro de autoridade estavel e 
            definitivo: teriam fundado povoações.»[pp. 162-163].23
 
 Não obstante uns laivos de aparente simpatia pelas populações 
            sertanejas, que servia de fato apenas para atacar a República e 
            manifestar sua preferência pelo período colonial e monárquico, é 
            fácil de ver que a adjetivação empregada por OLIVEIRA VIANNA para 
            caracterizar tais movimentos e o seu viés interpretativo não fazem 
            mais que reanimar o discurso típico da historiografia conservadora, 
            onde o povo não conta efetivamente como protagonista e o poder 
            central é o demiurgo geral. Entretanto, exatamente em 1930, no limiar da nova década que traria 
            tantas transformações na nossa paisagem política, econômica e 
            cultural, sai publicado o livro Formação Histórica do Brasil, de 
            João Pandiá CALÓGERAS (Rio de Janeiro, 1870 – Petrópolis, 1934), uma 
            das figuras mais destacadas da inteligência brasileira da primeira 
            República: engenheiro, economista, historiador, estadista, um dos 
            maiores especialistas em economia e política minerais do país, 
            membro do Instituto Histórico Brasileiro, grande amigo de Capistrano 
            de Abreu, deixou um volume impressionante de publicações. No 
            entanto, a obra aqui referida, posto constitua um clássico de nossa 
            historiografia, em suas 511 páginas, não dedica mais de 5 aos 
            eventos políticos em que se envolve Canudos. De fato, num tópico 
            intitulado Fanatismo sertanejo, fazendo extemporânea comparação com 
            o movimento ulterior do Contestado, ele não foge, em meios a erros 
            factuais, à inclinação da historiografia tradicional de produzir uma 
            síntese preconceituosa sobre o evento.24 E isso é penoso em livro de 
            valor! Dois anos depois entra em cena novo historiador, típico 
            representante da historiografia tradicional: Pedro CALMON (Amargosa, 
            BA, 1902 – Rio, 1985). Como o anterior, foi também figura 
            prestigiada pelas elites acadêmicas: historiador, professor de 
            Direito Constitucional, reitor da antiga Universidade do Brasil, 
            ministro da Educação no governo Dutra, membro da Academia Brasileira 
            de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, deixou 
            obra numerosa onde divulgava com leveza e humor sua erudição 
            literária. O espaço e apreciação que dedica a Canudos se constrói 
            sucessivamente em três obras acerca de nossa história. Na primeira 
            dela, de 1932, que o autor justifica em nota explicativa: «Este 
            livro não é um compêndio, nem é um tratado. É uma nova síntese da 
            História do Brasil: história social, econômica, administrativa e 
            política. A História da Civilização Brasileira. Destina-se aos 
            estudantes dos cursos superiores...»25 De fato, era um livro 
            inovador para época, com umas tinturas de análises sociológicas e 
            contendo aspectos pouco habituais em manuais desse porte. Canudos aí 
            ocupa pouco mais de uma página, com um relato simplificado que 
            contém equívocos, confundindo ocorrências básicas e datas, e 
            contendo erros primários. É expressão do desprezo que nossa tradição 
            letrada reserva às coisas das camadas subalternas. Sua segunda obra introduz uma temática efetivamente nova e que se 
            coadunava com as perspectivas abertas por essa década dos grandes 
            interpretadores do Brasil. Refiro-me à sua História Social do 
            Brasil, em 3 volumes, publicados entre 1937 e 1939, em que era 
            examinado nos dois primeiros volumes o espírito de nossa sociedade 
            no período colonial e imperial, e, no terceiro, a época 
            republicana.26 Agora, o tema de Canudos já recebe melhor acolhida. 
            No capítulo VI do tomo 3, dedicado ao quadriênio de Prudente de 
            Morais, há mesmo um tópico específico intitulado «A Epopéia dos 
            Sertões»: embora contendo ainda algumas imprecisões e o equívoco de 
            chamar Antônio Vicente Mendes MACIEL de "monge" – designação 
            específica de líderes de movimentos sociorreligiosos do Sul - , o 
            exame da questão aparece com mais argúcia, insistindo desde logo no 
            papel representado pela imprensa, ele afirma que «Canudos foi mais 
            invenção de publicidade nefasta do que arraial de revoltosos.» 27 Ou 
            seja, conforme assinala o autor, tratava-se das falácias criadas com 
            o regime: salvação da República com a descoberta dos sebastianistas 
            – no caso, o termo identificava os restauradores monarquistas que a 
            ameaçavam com suas conspirações. Numa nota de rodapé à página 70, 
            ele ainda assinala a falta de fundamento das relações do Conselheiro 
            com tais políticos e do envio de armamento para Canudos; enfim, o 
            autor conclui: «No espólio do fanático nada se encontrou em abono 
            das suspeitas.» No mais, ele segue o modelo discursivo que venho 
            sublinhando. Para um historiador nitidamente conservador, Pedro CALMON demonstra 
            efetiva renovação em seu estilo interpretativo duas décadas depois, 
            ao publicar em 1956 uma nova história do Brasil, em 5 volumes.28 Por 
            essa época já se renovava a historiografia sobre Canudos, em 
            particular com os trabalhos que o professor José CALASANS 
            principiara a publicar. Assim, o tratamento dado a Canudos e ao 
            quadriênio (1894-1898) nesta terceira obra é bem mais amplo: quatro 
            capítulos distribuídos em 48 páginas. Embora o autor incida mais uma 
            vez na conceituação tradicional para caracterizar o movimento de 
            Canudos e ainda insista em chamar o Conselheiro de "monge", seu 
            relato agora é mais consentâneo e matizado, a documentação mais 
            consistente e as fontes historiográficas bem mais ricas. Mas 
            sobretudo ele intensifica a análise crítica do jogo de interesses 
            dos grupos políticos em disputa, em especial da seita fanaticamente 
            jacobina à volta do túmulo de Floriano e de seu legado autoritário, 
            principal elemento perturbador das instituições políticas da época. 
            Eis por que Pedro CALMON cita a esse propósito um comentário 
            judicioso de MACHADO DE ASSIS em sua crônica semanal por ocasião da 
            apoteose em que se transformou o enterro do marechal Floriano 
            PEIXOTO: 
 
                                                                        
          
                                                                        
                                                                        
                   
            «Os mortos não vão tão depressa como quer o adágio; mas que eles 
            governam os vivos, é coisa dita, sabida e certa. Não me cabe narrar 
            o que esta cidade viu ontem...»29
 Por outro lado, ele atribui à astúcia política de Lauro Muller a 
            idéia de indicar o nome do coronel Moreira César para comandar a 3ª 
            expedição contra Canudos, livrando-se assim da sua presença em Santa 
            Catarina, incômoda para sua facção, ao mesmo tempo que «antepunha 
            ao fanatismo de um lado o fanatismo do outro, para que se 
            defrontassem nas caatingas do Nordeste essas duas formas de loucura»
            [p. 135].30 
            A esta altura de sua análise, o autor propõe curiosa tipologia de 3 
            categorias de sebastianistas, que campeavam longe e perto do 
            governo, inclusive na rua Ouvidor, epicentro dos terremotos 
            políticos de então: havia os sebastianistas monárquicos, 
            desnorteados com a derrota de Saldanha mas intransigentes na 
            oposição política; havia os florianistas, que o invocavam a toda 
            hora como se o marechal estivesse vivo, distribuíam pequenos 
            retratos seus como se foram imagens bentas, e realizam constantes 
            romarias ao seu túmulo no São João Batista, sendo o seu culto uma 
            espécie belicosa de sebastianismo e Moreira César, um dos ídolos 
            dessa heresia republicana;31 e havia, por último, o sebastianismo 
            vetusto dos fanáticos conselheiristas... [passim]. Enfim, o autor 
            encerra sua apreciação com incisiva denúncia das atrocidades da 
            campanha. No conjunto, porém, o quadro esboçado repete as linhas 
            gerais dessa vertente historiográfica, com evidente influência do 
            modelo euclydiano de explicação. Entre as duas últimas obras de Pedro CALMON, mais precisamente em 
            1940, vem a lume uma das melhores histórias da República deste 
            período, da autoria de José Maria BELLO (Barreiros, PE, 1885 – Rio, 
            1959),32 que dedica parte do capítulo XI e dois terços do XII ao 
            exame do movimento de Canudos. Embora o conjunto da obra seja 
            inovador, no tocante ao tema que nos interessa aqui, o autor não 
            consegue livrar-se do fantasma de Euclydes, de cujo livro afirma ter 
            definido "o exato sentido" daquele movimento. Assim, ele repete em 
            essência o mesmo modelo explicativo: descreve o Conselheiro como um 
            «estranho asceta, sexagenário e meio louco» [p. 200], à volta do 
            qual aglomera-se a multidão de fanáticos, e produz um relato que 
            chega às vezes a ser superficial e incoerente.  Os manuais didáticos do período, mesmo os que se destinam ao nível 
            superior – como é o caso da história do Brasil da coleção FTD ou a 
            da autoria de Vicente TAPAJÓS 33- limitam-se a resumir em uma ou 
            duas páginas as mesmas fontes tradicionais (Euclydes, Galanti, Rocha 
            Pombo, etc.), freqüentes vezes sem referi-las devidamente.  Um caso curioso da década seguinte encontra-se no texto de Leôncio 
            BASBAUM e isso desde o seu título: História Sincera da República – 
            Das origens até 1889 – tentativa de interpretação marxista.34 Com 
            efeito, esta estranha história da República limita-se a estudar a 
            sua gênese desde o período colonial e pára no final do Império. 
            Portanto, sem a mínima menção a Canudos. Não obstante, o caso mais singular desse período ocorre com um texto 
            sobre a história republicana, do escritor Graciliano RAMOS (Quebrângulo, 
            AL, 1892 – Rio, 1953). Com efeito, numa crônica de agosto de 1939, 
            intitulada «Prêmios» e incluída posteriormente em sua obra póstuma, 
            Linhas Tortas (1962), é o próprio autor quem informa sobre a origem 
            desse seu texto historiográfico: «Diretrizes [revista] vai chamar 
            concorrentes para uma história da República, livro destinado às 
            crianças.» Assim, sua Pequena História da República, publicada 
            depois no seu livro Alexandre e Outros Heróis,35 data de janeiro de 
            1940. Seus erros factuais são o de menos. O que mais estranha nesse 
            ensaio – de um autor que nos deu textos de clássica lucidez sobre o 
            cangaço e a vida do sertanejo do semi-árido nordestino – é que ele 
            dedica 3 páginas pífias a Canudos e que se iniciam por estas 
            palavras preconceituosas: «Antônio Conselheiro, um pobre diabo, 
            tencionava, com ladainhas e benditos, salvar a humanidade. A 
            humanidade está sempre em perigo, na opinião de indivíduos assim.» 
            [p. 151]. E segue nesse tom até o fim do seu relato. Nas décadas de 60 e 70, tanto os compêndios didáticos se renovam 
            quanto a historiografia acadêmica aprofunda a sua visão crítica e 
            amplifica suas dimensões analíticas. Paralelamente e em 
            conseqüência, os movimentos populares de nossa história, sobretudo 
            os da área urbana e operária passam a merecer espaço mais 
            significativo e interpretação mais diversificada. Nem sempre, porém, 
            ocorre essa renovação no que tange aos movimentos sertanejos e ao de 
            Canudos em especial. Para ilustrar, cito dois exemplos vindos de vertentes contrapostas. Nascido de curso sobre a Formação Histórica do Brasil, proferido por 
            Nelson Werneck SODRÉ, desde 1956, no Instituto Superior de Estudos 
            Brasileiros (ISEB), um livro de pretensões analíticas inovadoras 
            aparece no início dos anos 60.36 Dentro de um quadro doutrinário 
            marxista e com viés economicista à outrance, essa obra pressupõe na 
            verdade um leitor com razoável conhecimento dos fatos históricos dos 
            últimos cinco séculos, pois não vai além de sua leitura 
            interpretativa. É assim que, em suas mais de 400 páginas, num tópico 
            em que examina a "Crise da República", dedica a Canudos e a 
            movimentos semelhantes apenas um parágrafo de hermenêutica bastante 
            duvidosa, na qual a religião do povo não passa de grosso fanatismo 
            sem papel relevante a considerar:
 
                                                                        
          
                                                                        
                                                                        
                   
            «No campo, realmente, as relações feudais e semifeudais permitiam 
            uma aparente estabilidade. Mas, ainda assim, o episódio de Canudos 
            surgia, logo depois do desaparecimento do florianismo [sic!], como 
            um sinal de alarma. Sob o manto do fanatismo religioso, Canudos não 
            foi mais do que manifestação violenta, e até heróica, de uma 
            população relegada ao mais baixo nível e nele mantida por longo 
            tempo. Em outros lugares, e sob formas diferentes, sintomas da mesma 
            inquietação repontavam. Em nenhuma área com a clareza assinalada em 
            Canudos e, um pouco depois, no Contestado: a luta dos sem terra, de 
            gente desprotegida, atirada ao desespero e cobrindo o desespero com 
            a espessa capa do fanatismo religioso.» [p.309].   No extremo oposto, pode-se assinalar a obra de um representante por 
            excelência do nosso tradicionalismo acadêmico, força ainda dominante 
            e consagradora nos anos 60. Refiro-me ao livro sobre nossa história, 
            de Hélio VIANNA (Belo Horizonte, 1908 – Rio de Janeiro, 1972), que 
            se orgulhava de ter assumido, em 1939, a primeira cátedra federal de 
            História do Brasil, na antiga Faculdade Nacional de Filosofia, da 
            então Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. Discípulo 
            entusiasmado de Plínio SALGADO, em 1941, assumia a cátedra de 
            história da América na PUC do Rio de Janeiro, foi, também, professor 
            de história moderna e contemporânea da Faculdade de Filosofia, 
            Ciências e Letras do Instituto Santa Úrsula, da mesma cidade, e 
            membro da Comissão de Estudo dos Textos de História do Brasil do 
            Ministério das Relações Exteriores e da comissão diretora de 
            publicações da Biblioteca do Exército (Ministério da Guerra). 
            Pertenceu à Academia Portuguesa de História, ao Instituto de 
            Coimbra, à Sociedade Capistrano de Abreu, à Academy of American 
            Franciscan History (Washington), ao Instituto Histórico e Geográfico 
            Brasileiro e ao Instituto Histórico de Alagoas, sendo ainda sócio 
            honorário de entidade semelhante de Sergipe, e sócio correspondente 
            dos institutos históricos do Amazonas, Pará, Rio Grande do Norte, 
            Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e 
            Goiás. Pesquisador sério da velha estirpe historiográfica e autor de 
            numerosa obra, o seu livro em apreço, embora anunciado desde o 
            início de seu ensino universitário na matéria, só aparece em dois 
            volumes, em 1963, com sucessivas edições nos anos seguintes.37 Depois de por em destaque tanta consagração e apoio institucional, é 
            mister que se diga ter sido o conjunto de sua obra historiográfica 
            alvo de arrasadora apreciação crítica da parte de José Honório 
            RODRIGUES, num tópico intitulado "A Historiografia de extrema 
            direita", posto ressalve os méritos de rigor factual de alguns dos 
            seus livros [Contribuição à História da Imprensa Brasileira 
            (1812-1869), Rio, 1945; História Administrativa e Econômica do 
            Brasil, São Paulo, 1951; Estudos de História Imperial, São Paulo, 
            1950; Vultos do Império, São Paulo, 1968]: 
 
                                                                        
          
                                                                        
                                                                        
                   
            «O íntimo da gênese historiográfica dos regressistas é o 
            tradicionalismo. (...) A historiografia de Hélio Vianna como a de 
            Gustavo Barroso se igualam – se não na forma e no conteúdo, mas no 
            objetivo. Ambos são dois pequenos reacionários, destituídos de 
            filosofia, de teoria, mas não de objetivo ideológico. São ambos 
            subprodutos do conservadorismo e estão longe de seguirem uma linha 
            reacionária coerente e lógica como a de Oliveira Vianna. Hélio 
            Vianna, mais que Gustavo Barroso, escreveu uma história formal, que 
            aceita o quadro imposto pelas classes dominantes. (...) e uma 
            história convencional, que aparenta um ar de respeitável antigüidade 
            e aceita os arranjos legais e econômicos que favorecem as mesmas 
            classes. (...) A história que apresenta ensina somente a lição do 
            conformismo. (...) A conseqüência mais grave desse ensino é que ele 
            representa uma tentativa de colonização da juventude brasileira. Tal 
            historiografia conservadora e colonialista conta com o apoio oficial 
            e pré-oficial que com ela se identificam. (...) Ele possui o 
            fetichismo dos fatos e dos dados. Embora pretenda usar o passado 
            para orientação política do presente, é saudosista... Não há idéia, 
            não há compreensão. Há idealização, especialmente para quem o viu de 
            camisa verde, como um convicto integralista. Hélio Vianna foi o 
            exemplar mais eminente da historiografia antiquária... »38 
 Em suma, na sua História do Brasil, em grande formato e quase 
            setecentas páginas, a história de Antônio Conselheiro e de Canudos 
            não comporta mais que meia página de um relato absolutamente sumário 
            e factual, que em parte lembra o do livro de Veiga CABRAL, e cuja 
            justificativa para o massacre se resume nestas palavras:
 
                                                                        
          
                                                                        
                                                                        
                   
            «No sertão do Nordeste do Estado da Bahia, no Arraial de Canudos, à 
            margem do Rio Vaza-Barris, reuniu-se, nos primeiros anos da 
            República, um forte núcleo de fanáticos, chefiados por Antônio 
            Vicente Mendes Maciel, vulgo Antônio Conselheiro.
 Desobedecendo às autoridades eclesiásticas e estaduais, que tentaram 
            obter a sua dispersão, houve necessidade de recorrer à força.»39
 
 Portanto, conforme tem sido assinalado – e, aqui mesmo, invoquei no 
            início aquela espécie de vaticínio de Euclydes da Cunha – os graves 
            conflitos gerados pelos movimentos populares, sobretudo os das áreas 
            sertanejas, e a sistemática repressão exterminadora que sobre eles 
            se exerce da parte de nossa tradição autoritária, não têm merecido, 
            a não ser bem recentemente, uma parte consentânea e abrangente de 
            nossa hermenêutica historiográfica.40 Excepcional exemplo dessa abertura de perspectiva para uma nova 
            historiografia reside por certo na História Geral da Civilização 
            Brasileira, iniciada sob a direção de Sérgio Buarque de HOLANDA, 
            continuada sob a coordenação de Boris FAUSTO, e cuja publicação em 
            11 volumes estendeu-se de 1963 a 1984. Esta obra traz o primeiro 
            ensaio efetivamente inovador do ponto de vista interpretativo, no 
            estudo comparativo entre Juazeiro, Canudos e Contestado da autoria 
            de Duglas Teixeira MONTEIRO.41 É verdade, porém, que, na mesma obra, 
            no capítulo intitulado «Dos Governos Militares a Prudente – Campos 
            Sales», da autoria de Fernando Henrique CARDOSO, numa análise 
            dominantemente política, Canudos é mencionado en passant em curto 
            parágrafo relativo aos conflitos do período final do governo de 
            Prudente de Morais:
 
                                                                        
          
                                                                        
                                                                        
                   
            «Começavam, pois, a gestar, no meio das lutas entre 
            "florianistas" e governistas, e frente aos sérios desafios 
            desmoralizantes da Campanha de Canudos, bem como às tentativas no 
            Sul de militarização das polícias a um ponto tal que inquietava o 
            Exército com uma possível perda do monopólio da força, as bases para 
            a institucionalização do "sistema oligárquico".» 42
 Perdura, assim, significativo grau de intolerância e de 
            incompreensão teórica desses movimentos de que faz parte o de 
            Canudos, mesmo entre alguns de nossos estudiosos aparentemente 
            melhor instrumentados, sobretudo se levarmos em conta a existência 
            de novos estudos que produziram intensa inflexão nos modelos 
            interpretativos, apoiando-se na história das mentalidades, na 
            socioantropologia do imaginário, na dialética primordial que liga 
            mito e história, sagrado e profano, tradição e transformação. É o caso, por exemplo, Edgar CARONE quando afirma esta velha óptica 
            de perfil evolucionista e bem típica de nossa tradição letrada:
 
                                                                        
          
                                                                        
                                                                        
                   
            «Os nossos movimentos agrários, explosões indisciplinadas contra a 
            opressão, assumiram formas religiosas e de pura rebeldia, como o de 
            Canudos, do Contestado e, de um modo geral, o cangaço. À frente 
            desses movimentos não apareceram líderes políticos conscientes mas 
            profetas e iluminados como Antônio Conselheiro, o monge José Maria, 
            o Padre Cícero e o beato Lourenço.»43
 Ou seja, ao assim exprimir-se, ele não faz mais do que repetir a 
            concepção introduzida por Rui FACÓ de acordo com o cânon marxista do 
            século XIX.44 E o que é mais grave: em cerca de 10 volumes que 
            dedica à história da República, as agitações no campo não ocupam 
            mais que diminuto espaço, e o caso de Canudos aparece como mero pano 
            de fundo ou pretexto que faz aflorar a luta pelo poder, a revolta da 
            Escola Militar, as perturbações políticas de florianistas e 
            jacobinos no governo de Prudente de MORAIS, o atentado de 5 de 
            Novembro de 1897, etc. – estes, sim, constituem o verdadeiro proscênio de sua historiografia republicana.45 De fato, se percorrermos mais alguns exemplares de textos bem 
            recentes de história do Brasil, verificaremos que estes permanecem, 
            com relação aos movimentos sertanejos e a Canudos em particular, 
            caudatários da nossa persistente historiografia tradicional. Nesse 
            sentido, citaria, para concluir, mais alguns casos.  O primeiro deles é do próprio Boris FAUSTO, que lançou um volumoso 
            compêndio de História do Brasil em grande formato, no qual dedica 
            uma página a Canudos, absolutamente pobre de significação e até 
            contendo erros elementares.46 Não obstante, algo relativamente 
            aproveitável em seu texto aparece cerca de quarenta páginas mais 
            adiante, quando o autor trata dos "movimentos sociais", que ele 
            divide em movimentos sociais no campo e movimentos sociais urbanos. 
            Com relação aos primeiros, ele propõe uma tipologia em três grandes 
            grupos que, posto seja discutível, apresenta algum interesse: 1. os 
            movimentos que combinaram conteúdo religioso com carência social; 
            2. 
            aqueles que combinaram conteúdo religioso com reivindicação social; 
            3. os que expressaram reivindicações sociais sem conteúdo religioso. 
            O autor dá como exemplo do primeiro grupo o caso de Canudos e o 
            movimento em volta do Padre Cícero Romão Batista, na cidade cearense 
            de Juazeiro do Norte. O movimento do Contestado ilustra para ele o 
            segundo grupo e ao comentá-lo comete erros interpretativos e 
            factuais. Enfim, o terceiro grupo tem como exemplo mais expressivo 
            as greves por salários e melhores condições de trabalho ocorridas 
            nas fazendas de café de São Paulo (Ribeirão Preto em 1913, etc.).47 
            Só que o autor elude profundas diferenças históricas e culturais 
            destes últimos movimentos em relação aos demais, e deixa de 
            sublinhar o seu caráter mais próximo do movimento operário e 
            sindical. Mais chocante ainda é o caso de um bom historiador, da estirpe de um 
            Francisco IGLÉSIAS, 48 que, sem nenhuma fundamentação, considera o 
            movimento em apreço como a «mais séria de todas as questões 
            messiânicas» [p. 207] de contestação da República, e repete em duas 
            páginas boa parte das tolices que se acumulam nesse tipo de 
            historiografia.  Já o caso de Teotônio dos SANTOS, 49 com sabor de literatura de 
            exilado, opta por ignorar Canudos.  Em seguida, vem o texto produzido por Maria Yedda LINHARES e a 
            colaboração de mais 5 doutores em História,50 que dedica meia dúzia 
            de linhas a Canudos, definido como "ideologia milenarista" e um dos 
            «maiores movimentos de massas contra a República» [sic!]. Numa inferência superficial mas talvez justa, poder-se-ia dizer, à 
            luz dos textos mais recentes aqui mencionados, que as insuficiências 
            e bobagens se adensam na proporção direta dos graus acadêmicos dos 
            historiadores considerados. Enfim, mesmo o belo trabalho de multimeios (livro e CD-Rom), que 
            acaba de ser produzido por Jorge CALDEIRA e colaboradores,51 
            apresenta um relato quase indigente sobre Canudos e isso no ano em 
            que se rememora um dos maiores crimes da Nação contra seu povo, o 
            qual realizou aí uma das epopéias mais ingentes de nossa História!
 3.– Conclusões.– Conclusões.– Conclusões.– Conclusões.– Conclusões.
 
 
              
                                                                        
          
                                                                        
                                                                        
                   
            «... History may be servitude,History may be freedom...».
 
 T. S.ELIOT
 
 O balanço não parece portador de fecundas lições, a não ser por sua 
            negatividade. Como quer que seja, tentarei assinalar sumariamente 
            algumas características gerais do discurso dessa historiografia 
            tradicional sobre Canudos, que vim examinando até aqui. No seu conjunto, tal produção histórica elabora, desde o início, a 
            operação semiótica das elites acerca dos movimentos populares em 
            geral e de Canudos em particular. Na sua luta ideológica, os 
            dispositivos de poder produzem um processo discursivo que constrói 
            uma imagem pregnantemente negativa dessa ocorrência histórica, 
            segundo uma retórica de justificação do massacre. O primeiro traço básico de toda essa historiografia tradicional 
            reside numa atitude, ora velada ora explícita, de profundo desprezo 
            pelos aspectos históricos das coisas que emanam do povo, desse povo 
            que – dizia Capistrano de ABREU - , durante séculos foi sangrado e ressangrado, capado e recapado. Em segundo lugar, sem jamais fundamentar suas afirmações e 
            conceitos, tal procedimento de construção ideológica define 
            preliminarmente o acontecimento histórico de Canudos como movimento 
            insurrecional, como movimento de restauração monárquica, como 
            rebelião, revolta, etc. Aliás, no documento do Arcebispo da Bahia às 
            autoridades, ele o qualifica literalmente como subversão da ordem e 
            apela para a intervenção do Estado. Um terceiro ponto a assinalar está em que espanta o leitor dessas 
            obras o não haver habitantes ou população em Canudos, como em 
            qualquer outro povoado. Consistentemente, a gente canudense ou 
            conselheirista é designada mediante termos pejorativos tais como: 
            jagunços, fanáticos, loucos, bandidos, criminosos, marginais, etc. 
            Uma única vez, em todas as obras estudadas, aparece, quase como um 
            deslize do autor, a expressão «a população de Canudos» - é na última 
            obra de Pedro CALMON aqui examinada.52 O último ponto a destacar no discurso dessa historiografia, e talvez 
            a questão mais crucial, está em que ela manifesta profunda 
            incompreensão no que tange à religião sertaneja. Esta é sistemática 
            e levianamente definida como messianismo, milenarismo, 
            sebastianismo, fanatismo,53 superstição, etc. Com a única exceção do 
            já referido ensaio de Duglas T. MONTEIRO – que, na verdade, não pode 
            ser incluído no conjunto da historiografia tradicional, conforme já 
            assinalei - , nenhum esforço é feito no sentido de compreender a 
            lógica interna do imaginário sertanejo e de sua religiosidade como 
            dimensão nuclear na elaboração do seu universo simbólico, matriz da 
            produção social do sentido da existência.  Essa feição mística, dimensão fundante daquela coletividade, é 
            desprezada como inteiramente secundária ou alienante, visto que o 
            principal eixo explicativo que ressalta dessa produção 
            historiográfica centra-se na aparência mais evidente do confronto 
            entre civilização e barbárie, ou litoral e 
            sertão. No caso, termos 
            como "milenarismo" e "messianismo", confundidos como se fossem 
            sinônimos que recobrissem a mesma realidade, não chegam a ser 
            propriamente conceitos, isto é, categorias assentadas sobre sólida 
            reflexão teórico-explicativa e que sirvam de instrumento heurístico 
            e interpretativo de uma realidade agudamente estudada. De fato, são 
            meros rótulos ou etiquetas comodamente pespegadas no bojo de 
            recipientes fechados e cujo conteúdo permanece desconhecido porque 
            não se revelou aos sapientes que, em sua mentalidade urbana e 
            europeizada, não quiseram ou não puderam compreendê-lo.  Em suma, se remontarmos no tempo, seria legítimo afirmar com 
            relativa segurança que toda nossa tradição letrada tem expressado 
            enorme dificuldade em entender as manifestações culturais e as 
            atitudes do povo; e isso desde um Boris FAUSTO ou um Darcy RIBEIRO 
            54 até o Padre Manoel da NÓBREGA, que já em seu tempo afirmava:
 
                                                                        
          
                                                                        
                                                                        
                   
            «Des que fui entendendo por experiencia ho poco que se podia fazer 
            nesta terra na conversão do Gentio por falta de não serem suyetos, e 
            ella ser huma maneira de gente de condição mais de feras bravas que 
            de gente rational, e ser gente servil que se quer por medo, e 
            com juntamente ver a pouca esperança de se a terra senhorear, e ver 
            a pouca ajuda e os muitos estorvos dos Christãos d’estas terras, cujo 
            escandalo e mao exemplo abastara para não se convencer... » (Bahia, 
            agosto de 1557).55
 Eis aí resumido o panorama que me foi possível de retraçar...
 
            Fortaleza, 24 de Set. a 31 de Out. de 1997.
 
 
 
            * Na realização deste trabalho, o autor tem o apoio de uma bolsa do 
            CNPq na condição de Pesquisador I - A. Trata-se aqui de comunicação 
            apresentada no Simpósio Internacional «CANUDOS: 100 ANOS DA 
            DESTRUIÇÃO», na Universidade Federal do Ceará (23-26 Set./1997) ena 
            Universidade do Estado da Bahia (30 Set – 3 Out./1997). Na 
            realização deste trabalho, o autor tem o apoio de uma bolsa do CNPq 
            na condição de Pesquisador I - A. Trata-se aqui de comunicação 
            apresentada no Simpósio Internacional «CANUDOS: 100 ANOS DA 
            DESTRUIÇÃO», na Universidade Federal do Ceará (23-26 Set./1997) ena 
            Universidade do Estado da Bahia (30 Set – 3 Out./1997).
 
 1 Cf.: Mito e Realidade. São Paulo: Perspectiva, 1972, p. 102. [O 
            grifado é meu].
 
 2 Cf.: Linguagem e Mito. São Paulo: Perspectiva, 1972, p. 64. 
            [Grifado por mim].
 
 3 Cf.: História da República: 1889 – 1945, 3ª ed.. São Paulo: CEN, 
            1956, pp. 222-223.
 
 4 Cf.: Contribuição à História das Idéias no Brasil. (O 
            desenvolvimento da filosofia no Brasil e a evolução histórica 
            nacional). Rio de Janeiro: José Olympio, 1956, p. 299.
 
 Os Sertões
 
 Ibidem,
 
 7 «Structures et Récurrences de l’Imaginaire», in LE GOFF, Jacques 
            et Al.: Histoire et Imaginaire. Entretiens avec Michel Cazenave. 
            Paris: Radio France/Éditions Poiesis, 1986, pp. 142-143. [Grifo 
            meu].
 
 8 CAPISTRANO DE ABREU, João: «O Brasil no século XIX», in Ensaios e 
            Estudos (Crítica e História) – 3ª série. Rio de Janeiro: Edição da 
            Sociedade Capistrano de Abreu / Livraria Briguiet, 1938, pp. 
            131-148. [A citação acima vem à pág. 142].
 
 9 Biriba, apelido dado pelos sulriograndenses aos tropeiros de 
            Sorocaba, e Prudente de Morais era filho de um destes, fato de que 
            se orgulhava.
 
 10 Foliculário: escritor de folhetos, mau jornalista.
 
 11 Ibidem, pp. 146 e 148, respectivamente, para as duas últimas 
            citações.
 
 12 Cf.: Efemérides Brasileiras. Obras do Barão do Rio Branco, t. VI. 
            Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores / Imprensa 
            Nacional, 1946.
 
 13 Licções de Historia do Brasil, 5ª ed. São Paulo: Duprat & Comp., 
            1913. Da sua obra principal aqui mencionada afirma Américo Jacobina 
            LACOMBE: «Obra composta longe dos arquivos, compendia e sistematiza 
            todos os bons autores correntes, em plano sistemático, com clareza, 
            e fornecendo, em geral, a indicação das principais fontes. Em certos 
            capítulos foi precursor.» (Cf.: Introdução ao Estudo da História do 
            Brasil. Col. "Brasiliana" – v. 349. São Paulo: CEN, 1974, p. 191.
 
 14 Cf.: ROCHA PPOMBO, J. F.: Historia do Brazil (illustrada), 10 
            volumes. Rio de Janeiro: Benjamin de Aguila – Editor, s/d. [Impressa 
            na Typ. da Empreza Litteraria e Typographica (officinas movidas a 
            electricidade), Porto].
 
 15 Ibidem, v. 10, p. 401.
 
 16 Ibidem, pp. 401 a 444.
 
 17 Ibidem, p. 431.
 
 18 RIBEIRO, João: História do Brasil – curso superior. 15ª ed. Rio 
            de Janeiro: Livraria São José, 1953. Ver em especial o ensaio «João 
            Ribeiro, Filólogo e Historiador», de T. A. ARARIPE JUNIOR, que 
            acompanha a obra desde a 2ª ed.
 
 19 Ibidem, p. 422.
 
 20 A primeira edição é de março de 1920, Rio de Janeiro, editada por 
            Jacinto Ribeiro dos Santos. Utilizei todavia a 18ª edição, revista e 
            ampliada pelo autor: História do Brasil – curso superior. Rio de 
            Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1954.
 
 21 Cf.: op. cit., p. 438.
 
 22 Cf.: Evolução do Povo Brasileiro, 4ª ed., com 42 ilustrações fora 
            do texto. Rio de Janeiro: José Olympio, 1956.
 
 23 Cf.: OLIVEIRA VIANNA, F. J.: Pequeno Estudos de Psychologia 
            Social. São Paulo: Monteiro Lobato & C. – Editores, 1923 [No ensaio: 
            «Organisação da Legalidade nos Sertões» (O Problema do Contestado), 
            pp. 140-174]. É do próprio autor o grifado na citação. O termo "tungus" 
            (que o autor grafa com z) refere-se a povos mongóis espalhados pela 
            Sibéria.
 
 24 Cf.: CALÓGERAS, João Pandiá: Formação Histórica do Brasil. 5ª 
            edição, ilustrada. Col. "Brasiliana – 42". São Paulo: CEN, 1957, pp. 
            442-446.
 
 25 Cito pela 6ª edição, col. "Brasiliana – 14". São Paulo: CEN, 
            1958, p. 9.
 
 26 Respectivamente volumes 40, 93 e 173 da Col. "Brasiliana"
 
 27 Cf.: História Social do Brasil, tomo 3: A Época Republicana. Col. 
            "Brasiliana – 173". São Paulo: CEN, 1939, p. 68.
 
 28 De que utilizo apenas: História do Brasil, vol. V: A República. Col. "Brasiliana – 176-D". São Paulo: CEN, 1956, pp. 112-160.
 
 29 Cf.: A Semana, II, 417 (crônica de 7 de Julho de 1895), apud 
            CALMON, Pedro: op. cit., p. 121.
 
 30 Acredito interessante lembrar aqui, embora longo, o judicioso 
            comentário do próprio Euclydes da Cunha sobre esse momento político, 
            na nota com que introduz a narrativa da Expedição Moreira César:
 
 31 «O novo insucesso das armas legais, imprevisto para toda a gente, 
            coincidia com uma fase crítica da nossa história. A pique ainda das 
            lastimáveis conseqüências de sanguinolenta guerra civil, que 
            rematara ininterrupta série de sedições e revoltas, emergentes desde 
            os primeiros dias do novo regime, a sociedade brasileira, em 1897, 
            tinha alto grau de receptividade para a intrusão de todos os 
            elementos revolucionários e dispersivos. E quando mais tarde alguém 
            se abalançar a definir, à luz de expressivos documentos, a sua 
            psicologia interessante naquela quadra, demonstrará a 
            inadaptabilidade do povo à legislação superior do sistema político 
            recém-inaugurado...
 O governo civil, iniciado em 1894, não tivera a base essencial de 
            uma opinião pública organizada. Encontrara o país dividido em 
            vitoriosos e vencidos. E quedara na impotência de corrigir uma 
            situação que não sendo francamente revolucionária e não sendo também 
            normal, repelia por igual os recursos extremos da força e o influxo 
            sereno das leis. Estava defronte de uma sociedade que progredindo em 
            saltos, da máxima frouxidão ao rigorismo máximo, das conspirações 
            incessantes aos estados de sítio repetidos, parecia espelhar 
            incisivo contraste entre a sua organização intelectual imperfeita e 
            a organização política incompreendida.
 De sorte que... a significação superior dos princípios democráticos 
            decaía – sofismada, invertida, anulada.
 (...) O governo anterior, do marechal Floriano Peixoto, tivera, 
            pelas circunstâncias especialíssimas que o rodearam, função 
            combatente e demolidora. Mas ao abater a indisciplina emergente de 
            sucessivas sedições, agravara a instabilidade social e fora de algum 
            modo contraproducente, violando flagrantemente um programa 
            preestabelecido. Assim é que nascendo do revide triunfante contra um 
            golpe de estado violador das garantias constitucionais, criara o 
            processo da suspensão de garantias; abraçado tenazmente à 
            Constituição, afogava-a...
 Destruíra e criara revoltosos. Abatera a desordem com a desordem. Ao 
            deixar o poder não levara todos os que o haviam acompanhado nos 
            transes dificílimos do governo. (...)
 Viu-se, então, um caso vulgaríssimo de psicologia coletiva: colhida 
            de surpresa, a maioria do país inerte e absolutamente neutral, 
            constituiu-se veículo propício à transmissão de todos os elementos 
            condenáveis que cada cidadão, isoladamente, deplorava. Segundo o 
            processo instintivo, que lembra na esfera social a herança de 
            remotíssima predisposição biológica, tão bem expressa no mimismo 
            psichico de que nos fala Scipio Sighele, as maiorias conscientes, 
            mas tímidas, revestiam-se, em parte, da mesma feição moral dos 
            medíocres atrevidos que lhes tomavam a frente. Surgiram, então, na 
            tribuna, na imprensa e nas ruas – sobretudo nas ruas – 
            individualidades que nas situações normais tombariam à pressão do 
            próprio ridículo. Sem ideais, sem orientação nobilitadora, peados 
            num estreito círculo de idéias, em que entusiasmo suspeito pela 
            República se aliava a nativismo extemporâneo e à cópia grosseira de 
            um jacobinismo pouco lisonjeiro à história – aqueles agitadores 
            começaram a viver da exploração pecaminosa de um cadáver. O túmulo 
            do marechal Floriano Peixoto foi transmudado na arca de aliança da 
            rebeldia impenitente e o nome do grande homem fez-se a palavra de 
            ordem da desordem.
 A retração criminosa da maioria pensante do país permitia todos os 
            excessos; e no meio da indiferença geral todas as mediocridades 
            irritadiças conseguiam imprimir àquela quadra, felizmente 
            transitória e breve, o traço mais vivo que a caracteriza. Não lhe 
            bastavam as cisões remanescentes, nem os assustava uma situação 
            econômica desesperadora: anelavam avolumar aquelas e tornar a última 
            insolúvel. E como o exército se erigia, ilogicamente, desde o 
            movimento abolicionista até a proclamação da República, em elemento 
            ponderador das agitações nacionais, cortejavam-no, captavam-no, 
            atraíam-no afanosamente e imprudentemente.
 Ora de todo o exército, um coronel de infantaria, Antônio Moreira 
            César, era quem parecia haver herdado a tenacidade rara do grande 
            debelador de revoltas.
 O fetichismo político exigia manipansos de farda.
 Escolheram-no para novo ídolo.»
 [Edição crítica de Os Sertões, por Walnice N. Galvão. São Paulo: 
            Brasiliense, 1985, pp. 319-321; e pp. 281-283, do vol. II, na edição 
            da Obra Completa, Rio de Janeiro: Aguilar editora, 1966].
 
 31 Euclydes da Cunha, em seu estilo característico e num lúcido 
            comentário mais amplo acerca desse fanatismo republicano, dirá: «Há 
            nas sociedades retrocessos atávicos notáveis; e entre nós os dias 
            revoltosos da República tinham imprimido, sobretudo na mocidade 
            militar, um lirismo patriótico que lhe desequilibrara todo o estado 
            emocional, desvairando-a, e arrebatando-a em idealizações de 
            iluminados. A luta pela República, e contra os seus imaginários 
            inimigos, era uma cruzada. Os modernos templários, se não envergavam 
            a armadura debaixo do hábito e não levavam a cruz aberta nos copos 
            da espada, combatiam com a mesma fé inamolgável. Os que daquele modo 
            se batiam à entrada de Canudos tinam todos, sem excetuar um único, 
            colgada ao peito esquerdo em medalhas de bronze, a efígie do 
            Marechal Floriano Peixoto e, morrendo, saudavam a sua memória – com 
            o mesmo entusiasmo delirante, com a mesma dedicação incoercível e 
            com a mesma aberração fanática, com que os jagunços bradavam pelo 
            Bom Jesus misericordioso e milageiro...» [cf.: Os Sertões, edição da 
            Aguilar, p. 395].
 
 32 Cf.: História da República. (Síntese de sessenta e cinco anos de 
            vida brasileira), 3ª ed. São Paulo: CEN, 1956.
 
 33 Cf. respectivamente: THOMAS, Cláudio Maria: Elementos de História 
            do Brasil – curso superior, Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1942 
            (?); e TAPAJÓS, Vicente: História do Brasil, São Paulo: CEN, 1944.
 
 34 Rio de Janeiro: Livraria São José, 1957. Só posteriormente, BASBAUM reedita essa obra em 3 volumes, quando então virá a examinar 
            a questão de Canudos na perspectiva marxista tradicional.
 
 35 Rio de Janeiro: Record, 1978, 16ª ed., pp. 126-174.
 
 36 Cf.: Formação Histórica do Brasil, 3ª ed. São Paulo: Brasiliense, 
            1964. Noutra obra sua, do mesmo período, Canudos sequer aparece em 
            seu "Índice de Assuntos": cf. O que se deve ler para conhecer o 
            Brasil. Rio de Janeiro: MEC-INEP-CBPE, 1960. Estranha mas 
            significativa omissão.
 
 37 Utilizo aqui, porém, a sua 12ª edição, significativamente revista 
            e atualizada por Américo Jacobina LACOMBE: História do Brasil. 
            Período Colonial, Monarquia e República. São Paulo: Edições 
            Melhoramentos e Edusp, 1975.
 
 38 Cf.: RODRIGUES, José Honório: História da História do Brasil, 
            volume II – tomo 1: A Historiografia Conservadora. Col. "Brasiliana" 
            (grande formato), v. 23. São Paulo: CEN, 1988, pp. 191-193.
 
 39 Cf. VIANNA, Hélio: op. cit., p. 567. [O grifado é do autor].
 
 40 Deixo de examinar mais detidamente duas obras importantes, 
            surgidas nos anos 70 e 80: Emília Viotti da COSTA, Da Monarquia à 
            República: Momentos Decisivos, São Paulo: Grijalbo, 1977, e Suely 
            Robles Reis de QUEIROZ, Os Radicais da República (Jacobinismo: 
            ideologia e ação, 1893-1897), São Paulo: Brasiliense, 1986. A 
            primeira porque, nos bons ensaios que a compõem, não trata a autora 
            de Canudos. E a segunda em virtude de sua autora, a despeito de 
            examinar justamente a história política do período, referir-se a 
            Canudos apenas como alusão para descrever com ênfase os desatinos 
            jacobinistas que constituem seu foco central (cf.: pp. 44-50). 
            Algumas vezes ela faz afirmações sem fundamento, como ao comenta a 
            vitória da 4ª Expedição: «O general venceu. Antônio Conselheiro e 
            seus seguidores foram sangrentamente exterminados num massacre que 
            horrorizou a nação. (...) O exército expedicionário reduziu-se a 
            algumas dezenas de homens comandados pelos capitães e tenentes que 
            restaram. Não havia como explorar tal vitória no terreno da agitação 
            política.» (p. 60).
 
 41 Cf.: MONTEIRO; Duglas T.: «Um Confronto entre Juazeiro, Canudos e 
            Contestado», in FAUSTO, Bóris (dir.): História Geral da Civilização 
            Brasileira, Tomo IX: O Brasil Republicano, 2º vol.: Sociedade e 
            Instituições (1889-1930). São Paulo: Difel, 1977, pp. 39-92. A 
            rigor, este estudo só é mencionado aqui para estabelecer o contraste 
            com a historiografia tradicionalista.
 
 42 Cf.: Op. cit., 8, Tomo III: O Brasil Republicano, 1º volume: 
            Estrutura de Poder e Economia (1889-1930), p. 47.
 
 43 Cf.: Movimento Operário no Brasil (1945-1964), v. II. São Paulo: Difel, 1981, p. 5.
 
 44 Cf.: Cangaceiros e Fanáticos (gênese e lutas), 2ª ed. Rio de 
            Janeiro: Civilização Brasileira, 1965.
 
 45 Cf. CARONE, Edgar: A República Velha (evolução política). São 
            Paulo: Difel, 1974, pp. 145-168.
 
 46 V. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1994, pp. 257-8. Aliás, 
            ele já tinha dado algo semelhante no capítulo que escreveu para o 
            livro editado pelo historiador inglês, Leslie BETHELL (ed.): Brazil, 
            Empire and Republic (1822-1930), Cambridge: Cambridge Univ. Press, 
            1989.
 
 47 Cf. FAUSTO, Boris: op. cit., pp. 294-296.
 
 48 Cf.: Trajetória Política do Brasil, 1500-1964. São Paulo: 
            Companhia das Letras, 1993.
 
 49 V. Evolução Histórica do Brasil. Da colônia à crise da "Nova 
            República". Petrópolis: Vozes, 1995.
 
 50 Cf.: História Geral do Brasil, 6ª ed. atualizada. Rio de Janeiro: 
            Campus, 1996. [Colaboradores: Ciro Flamarion CARDOSO, Francisco 
            Carlos T. da SILVA, Hamilton de Mattos MONTEIRO, João Luís FRAGOSO e 
            Sônia Regina de MENDONÇA].
 
 51 Cf.: Viagem pela História do Brasil. São Paulo: Companhia das 
            Letras, 1997, pp. 240-241.
 
 52 Cf.: História do Brasil, op. cit., vol. V, p, 159.
 
 53 É bom lembrar que ‘fanatismo’ traz na sua etimologia o termo 
            latino fanum, que significa lugar sagrado. Portanto, é o 
            comportamento ou atitude de quem se crê inspirado pela divindade e 
            que age segundo outras pautas que não as estritamente racionais. 
            [Cf.: Olivier DE LA BROSSE et Al.: Dicionário de Termos da Fé. 
            Porto: Editorial Perpétuo Socorro, 1995, p. 307.
 
 54 Para um antropólogo de sua envergadura, é lastimável, por 
            exemplo, de ver as inconsistências teóricas e os clichês que ele 
            repete sobre o "fanatismo messiânico" dos sertanejos em sua obra de 
            síntese sobre o Brasil: cf. O Povo Brasileiro. (A formação e o 
            sentido do Brasil). São Paulo: Companhia das Letras, 1995, pp. 352, 
            354-356, 427-431.
 
 55 Cf. em transcrição mais atualizada: Cartas Jesuíticas 1 – Cartas 
            do Brasil – Manoel da Nóbrega. Belo Horizonte: Itatiaia / São Paulo: 
            Edusp, 1988, p. 174. [Grifado por mim].
 
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