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Cussy de Almeida


 


Orange é o novo fruto de Cussy de Almeida


07 de maio de 2003

 


Maestro cria grupo de câmara para tocar músicas populares e eruditas e participar das comemorações dos 400 anos de Maurício de Nassau


PAULO SÉRGIO SCARPA
 

O maestro, violinista e compositor Cussy de Almeida vai mostrar, no Mosteiro de São Bento, em Olinda, o mais novo fruto de seu trabalho musical. Criador de orquestras e provocador de polêmicas, Cussy acaba de formar o grupo instrumental Orange. E o primeiro concerto dessa potencial orquestra de câmara apresentará a rica diversidade musical pernambucana e a música holandesa, do século 17 ao século 20.

Cussy de Almeida criou a Orquestra Armorial e a Orquestra de Cordas Dedilhadas, entre o final da década de 60 e o início da década de 70. As duas orquestras ajudaram a quebrar – pode-se falar até em destruir – aquele antigo estigma de o País considerar a música nordestina como sendo “a executada por uma sanfona de oito baixos e com letra de duplo sentido para agradar ao público do Rio e São Paulo”, como sentencia o maestro.

Por isso, Cussy diz, sem modéstia, ter sido o maior responsável por ajudar a romper aquele preconceito musical contra o Nordeste. O enorme sucesso do concerto, na década de 70, na Sala Cecília Meirelles, templo da música erudita no Rio de Janeiro, mostrou muito bem, lembra ele, a feliz idéia de executar a música erudita com instrumentos tradicionais do Nordeste. “As rabecas substituíram violinos e violas, a viola sertaneja com dez ou 12 cordas, o cravo”, conta.

A Orquestra Armorial apresentou As Quatro Estações, de Antonio Vivaldi, na primeira parte do concerto, sem estante, isto é, todos os músicos tocando de cor. Na segunda parte, obras do cancioneiro nordestino recriadas para a Orquestra de Câmara. Tudo narrado pelo escritor Ariano Suassuna. “Foi um sucesso enorme que repercutiu em São Paulo e no resto do País”, conta Cussy. Era a elite musical brasileira aceitando matutos tocando Vivaldi.”

“O grupo Orange”, diz Cussy de Almeida, “pode ser visto, também, como fruto tardio da Orquestra Armorial, que no passado produziu tantos frutos, como a Banda de Paus e Cordas, a Orquestra de Cordas Dedilhadas, o Quinteto Armorial e até o Quinteto Violado”. A Orquestra de Cordas Dedilhadas, lembra o maestro, inovou o cenário musical brasileiro ao unir, num mesmo grupo, o que a boemia carioca fazia com muito bom gosto e estilo nos morros: violões, cavaquinhos, bandolins, durante mais de uma década - entre 1982 e 1994.

Por isso, o maestro acredita que o Orange, a terceira orquestra criada por ele, tem tudo para participar das homenagens aos 400 anos do nascimento do conde Maurício de Nassau e para ficar. “Ela chega sem nenhum compromisso com a estética musical”, define. E não executará apenas o Barroco, como a Armorial, nem somente o popular transformado em erudito. “O Orange irá se dedicar a executar a música boa, a começar pela pernambucana. E vai exibir em seu primeiro concerto a música holandesa porque ela é desconhecida do público”. Este desconhecimento, conta Cussy, ocorreu também com a corte holandesa no século 17 que, por não dar importância a seus compositores, acabou perdendo-os para a Inglaterra e Alemanha.

O grupo Orange é formado por Cussy de Almeida (maestro), Felipe Jonhson e Emanuel Carvalho (violinos), Ariana Perazzo (viola), Leonardo Guedes (violoncelo), João Pimenta (contrabaixo), Marcelle Macedo e Adna Silva Souza (flautas), Ricardo Fraga (bateria), Ednaldo Bispo (violão, guitarra e viola sertaneja) e percussão (Dirney Barreto).

No primeiro concerto da orquestra de câmara Orange, o maestro Cussy de Almeida escolheu para o grupo executar obras do mais antigo compositor pernambucano, Luís Álvares Pinto (1719-1789), que acabou sendo redescoberto pelas pesquisas musicais do padre Jaime Diniz, que encontrou várias partituras guardadas em baús na igreja de São Pedro dos Clérigos, no Pátio de São Pedro, no Recife. “É um barroco meio tímido e um tanto pobre, mas que não deixa de ter uma influência européia. Mas ele exibe algumas sutilezas bem pernambucanas, pelo menos para os meus ouvidos”, analisa.

Em seguida, o grupo apresentará obras do barroco holandês, bem mais rico e esplendoroso que o pernambucano, através de composições de Peter Hellendaal (1721-1799), de quem o grupo apresentará o primeiro dos seis concertos criados pelo holandês. São concertos apenas para cordas (dois violinos, uma viola, um violoncelo e um contrabaixo). Um verdadeiro quinteto de cordas, a origem da orquestra de câmara.

A segunda parte do concerto do Orange será dedicada à música pernambucana executada por uma pequena orquestra de câmara, como o galope, o cavalo marinho, o maracatu, a ciranda, o coco-de-roda, etc. “A música popular de muito bom gosto é o que Pernambuco tem de mais precioso e que precisa ser preservada, difundida e estudada”, diz Cussy de Almeida. Serão executadas obras de Capiba, Nelson Ferreira, Luiz Gonzaga, César Guerra-Peixe, etc. “Não há compromisso de ordem estética para o Orange, embora o grupo vá divulgar a música de nossos antepassados”, sintetiza. (P.S.S.)


 

 

 


 

31/05/2006