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Cida Sepúlveda


 

Sinuosidades


Movem-se os barcos
Em direções variadas


Meus olhos os seguem
Ora uns ora outros


Mas não os vejo deveras
Senão suas sinuosidades


Movem-se os barcos
Intentos suaves


E meu olhar
Pressente caminhos


Tão certos e prontos
Que me fartam as horas
 

 

 

John William Waterhouse , 1849-1917 -The Lady of Shalott

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Xênia Antunes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Picador

Cida Sepúlveda


 

Definição


Não dou mão à palmatória
Para obter pedaços de perdão


Meu amor
É impulso incontrolável
De liberdade


Libertino
Louco


Quem sabe pouco
Piração
 

 

 

William Bouguereau (French, 1825-1905), João Batista

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Maria do Socorro Cardoso Xavier

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Entardecer, foto de Marcus Prado

Cida Sepúlveda


 

O sino da catedral


O sino da catedral
está soando
É hora de rezar


Corre a menina
Fita verde amarela
na lapela


Leva fogo e cor
dentro da camisa


Não pensa
nem poetisa


O sino da catedral
Tem sinal de imortal


É forte misterioso
Escondido no sótão


Não sossega o coração
De quem passa
 

 

 

William Blake (British, 1757-1827), Angels Rolling Away the Stone from the Sepulchre

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Luciano Tosta

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Goya, Antonia Zarate, detalhe

Cida Sepúlveda


 

A viagem


Os trilhos do trem
Na gengiva da terra


Bia se entope de ver
Nojo de gente


A mãe olha feio
Tem pressa
Não sabe afagar


Nasce o trem
Da neblina


Vem tremendo
Apita e precipita


Nariz cheio
Chupa
Sabe feio


A mãe belisca


Maria Fumaça
Indo devagar...


Arrasta a estação
O chão


O mato
A sensação


Bia não sossega
Segura a saia
Faz careta
Vai com a mãe
Ao fim do mundo
E sabe
 

 

 

Da Vinci, Madona Litta_detalhe.jpg

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Laeticia Jensen Eble

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Thomas Cole (1801-1848), The Voyage of Life: Youth

 

Cida Sepúlveda


 

O corte


A irmã é linda
Olho caído de amor


Tem serenata de madrugada
Paixão debaixo da ponte


Bia quer ser igual
Um dia será
Mas demora


O padre perdoa
O pecado


Se rezar bastante
Reza depressa


Teresa sifilítica
Não anda mais


Zacarias come a égua
No pasto


Não toma banho
Fede pinga


A cidade dá ao rosto
O declínio ou prumo


Raios acabem com a língua
Que delata e rima


A perna rasgada
No arame


Risco de sangue
Dois palmos de horror
Vertendo
 

 

 

Soares Feitosa, dez anos

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Wilson Martins

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Alessandro Allori, 1535-1607, Vênus e Cupido

Cida Sepúlveda


 

Deus


O cadarço no pescoço
O destino na barra do vestido


Insetos descobrem claridade
A cidade relaxada
Não sabe a morte que há


Morta! Torta de banana!
Bia passa
Não sabe saudade


Se chora
É adeus
Raiva da vida


O pescoço e a cruz
Não reza


Deus entortou
Não deu alegria
Solidão desde cedo
 

 

 

John William Godward (British, 1861-1922),  A Classical Beauty

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Manoel de Barros

 

 

 

21.01.2005