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Augusto Coura


 


Minha rua


 

 

Ainda me lembro da rua em que passei a minha infância na cidade de Teixeiras. Ruazinha estreita e curta como quase todas as ruas das pequenas cidades de Minas Gerais.

Rua Felício Queiróz. Rua minha. Minha rua. Em minhas saudades o possessivo fica mais forte.

As recordações me envolvem e me transportam para a rua de minha meninice. Para a rua onde situava a casa de meus pais. Hoje apenas saudades de tijolos.

Fecho os olhos e me vem a lembrança os brinquedos de pique à tardinha. Os jogos de bola e de petecas no final da tarde.

Que paz! Parece que as tardes da minha infância ainda estão cicatrizadas naquela rua.

O melhor de minha meninice ficou para sempre naquela rua. Não mais a bola e a peteca. Não mais as tardes ociosas e calorentas dos janeiros. Só ficou a saudade... E uma foto da rua guardada no meu coração...

Lembro-me das pessoas que moravam na minha rua. E uma a uma como camândulas de um rosário as saudades começam a desfilar em meus pensamentos.

Lembro-me dos meus avós, anjos de bondade, residindo com meus tios Arlindo e Cacilda, num sobrado estilo português, que até hoje se conserva imponente com as mesmas características da época.

Com lágrimas nos olhos penso na senhora Dalmira: vizinha de alma nobre, sempre a fazer o bem. Era a vizinha mais chegada aos meus pais.

Sô Aldo Pinto, colecionador de selos raros. Creio que era o único na cidade a portar o famoso selo “Olho de boi” , pelo menos era o que ele me dizia, deixando-me extasiado diante daquele quadradinho de papel amarelado pelo tempo e pelo manuseio indevido.

Dona Vitalina, que de sua varanda florida, ficava dando trela com carinho para eu moleque na época.

As irmãs: Dona Júlia, dona Ema e dona Maria Augusta e a sobrinha Zizinha , são sombras queridas e ecos do meu passado.

Dona Lilás e dona Cecé, sempre a me presentear carinhosamente com as mangas doces das vetustas mangueiras de seus quintais.

Era no quintal, da querida e saudosa Dona Adelaide, que eu e seu neto Deninho, junto a outros moleques, nos reuníamos para brincar de circo à sombra de uma ameixeira que existia no fundo do terreiro, quase à beira do ribeirão Santo Antônio, na nossa meninice apenas ribeirão.

Sô Zico e dona Quita, amáveis vizinhos, eram os donos dos móveis mais bonitos, na minha visão infantil de decorador.

Que saudade da dona Lili Fialho, onde eu ia pedir gelo nas horas mais impróprias. Ela com o coração todo bondade nunca negava.

Do Niltom Fraga me vem aos ouvidos o eco feroz de seu motor, quando incauto eu ia ao seu gabinete dentário.

Saudade maior me vem ao coração ao me lembrar de meu pai Izaulino à porta do seu pequeno açougue e da minha mãe Nancy, à janela de nossa casa.

Enfim estes vultos hoje descansam em paz na eternidade. Vultos que povoaram a minha rua, A rua de minha saudade.

Se rua chorasse, a minha com certeza, seria a primeira a prantear de saudades pelas pessoas que nela viveram.

Hoje estou envolto em soluços e lágrimas, pois hoje distante lembrei-me da minha rua, e das pessoas que nela viveram na minha infância.

Rua onde eu simplesmente vivi o melhor de minha vida.
 

 

 

 


 

08/11/2006