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			Cleberton Santos 
 
            
 
 Florisvaldo Mattos: 40 anos de celebração poética.
 
 
   
			Florisvaldo Mattos (Uruçuca, 1932) 
			iniciou sua criação poética ainda na adolescência quando publicou no 
			jornal A Voz de Itabuna e no Diário da Tarde de 
			Ilhéus. Depois prosseguiu para Salvador, dando continuidade à sua 
			carreira literária ao publicar, por volta de 1956, seus poemas na 
			revista Ângulos. Mas foi na revista Mapa que o 
			escritor grapiúna consolidou sua presença literária na Bahia da 
			época. 
			Em 1962, Florisvaldo Mattos participou de uma importante antologia 
			da novíssima poesia brasileira organizada pelo poeta e crítico 
			Walmir Ayala, na qual afirmou o antologista: 
			...alto e maduro discurso de justiça. 
			Generoso como a própria Bahia, seu verso denso trepida de sensuais 
			proparoxítonas. Canto vestido de couro, com um laivo de ódio e um 
			gesto de revanche. Resistência poética da melhor qualidade em nossa 
			novíssima poesia.[i] 
			Com o lançamento do seu primeiro livro
			Reverdor (1965), volume de poemas de temática agrária, 
			recebeu as palavras incentivadoras do romancista baiano Jorge Amado, 
			num artigo publicado no Suplemento Dominical do Diário de 
			Notícias (31 e 01 de novembro de 1965, Ano XC, Nº 19668, 
			Salvador / BA, p. 02.), do qual transcrevemos um pequeno trecho: 
			Tão trabalhado e obtido em sua busca, 
			tão realizado em sua forma de evidentes exigências e duro labor, 
			denso de um conteúdo vegetal e agrário, sendo livro de nosso tempo e 
			nossa realidade, “Reverdor” situa de imediato e de vez, o poeta 
			entre os primeiros de sua geração e não deixa momento de dúvida 
			sobre sua vocação e sua permanência nos quadros mais altos de nossa 
			poesia. 
			No ano de 1975, publicou seu segundo 
			livro Fábula civil, reunião de poemas de tonalidade 
			urbana, mas ainda com a presença do mundo campesino. Em 1995, tomou 
			posse na Academia de Letras da Bahia, na cadeira nº 31, e na 
			oportunidade foi saudado pelo poeta e acadêmico João Carlos Teixeira 
			Gomes que pronunciou as seguintes palavras: 
			A Academia de Letras da Bahia acolhe 
			hoje com satisfação e honra um dos mais representativos intelectuais 
			da sua geração, Florisvaldo Mattos. Iluminado pelo dom da palavra 
			escrita, tem sabido usá-la para destacar-se como jornalista e como 
			poeta, em ambas essas atividades imprimindo marcas de um vigoroso 
			talento.[ii] 
			Publicou, através do Prêmio Copene de 
			Cultura e Arte, o livro A caligrafia do soluço & poesia anterior
			(1996), com ilustrações do artista plástico Calazans Neto, 
			editado pela Fundação Casa de Jorge Amado. Neste livro o poeta 
			reuniu poemas dos seus dois livros anteriores e aproveitou para 
			publicar os seus primeiros textos, escritos entre 1953-1954, com o 
			subtítulo de Noticiário da Aurora. Nas orelhas desse livro, 
			escreveu João Carlos Teixeira Gomes: 
			Alta poesia, em suma, de requintada 
			fatura, de um dos poetas mais importantes da sua geração, na Bahia 
			ou no Brasil. Pela riqueza de certos processos metafóricos um 
			construtor de verdadeiros prodígios verbais.[iii] 
			Em 2000, publicou Mares anoitecidos, 
			no qual o autor conjetura, em clave épico-lírica, sucessos e 
			desventuras da presença dos holandeses na Bahia. Sobre esta obra, o 
			acadêmico Ruy Espinheira Filho afirmou: 
			Nestas novas composições, como em 
			outros momentos de sua aventura literária, Florisvaldo Mattos exerce 
			com mestria sua épica e sua lírica (as quais, repito, às vezes se 
			dão em amálgama), cantando lugares e gentes da sua vivência, da sua 
			afetividade, e, poderosamente, celebrando armas e barões 
			assinalados, cujo sangue e sonhos coloriram um terra e uma era – e 
			colorem hoje, como se no calor da hora, uma grande e luminosa 
			literatura.[iv]  
			Em 2001, publicou Galope amarelo e outros poemas, uma seleção 
			feita por Ruy Espinheira Filho e lançada no projeto das comemorações 
			ao Centenário de Nascimento do Poeta Sosígenes Costa. Em resenha de 
			jornal, manifestou-se o escritor e crítico paranaense Miguel Sanches 
			Neto:  
			Publicado mais na Bahia, e só isso 
			justifica não ter um nome nacional, Florisvaldo Mattos (1932) é um 
			poeta requintado, com um verbo a um só tempo claro e preciso, 
			aliando assim dois grandes modelos locais, a transparência do cordel 
			e o domínio barroco da linguagem.[v] 
			Em pleno vigor poético e dono de uma 
			obra em constante burilação, presente em várias antologias 
			brasileiras e estrangeiras, este poeta baiano representa uma das 
			mais importantes vozes da poesia brasileira contemporânea. E ao 
			leitor cabe partir em busca do tesouro que é a palavra lírica de 
			Florisvaldo Mattos: 
			ALERTA
 
			A nenhuma parte
 levará o caminho.
 
 Nem ouves o canto das nuvens
 nem a pedra tombada a teus pés.
 
 Defines-te em teu enigma.
 Em busca de outro limite
 vagueias na penumbra
 das inconclusas auroras.
 
				
 
 
					
					[i] 
					AYALA, Walmir (org.). Antologia da novíssima poesia 
					brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Cadernos Brasileiros, 
					1962.
 [ii] 
					GOMES, João Carlos Teixeira. Saudação a Florisvaldo Mattos.
					Revista da Academia de Letras da Bahia. Salvador, 
					março, 1993, nº 43.
 [iii] GOMES, João 
					Carlos Teixeira. Um construtor de prodígios. In: MATTOS, 
					Florisvaldo. A caligrafia do soluço & poesia anterior. 
					Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado; COPENE, 1996.
 [iv] ESPINHEIRA 
					FILHO, Ruy. Emoção e alumbramentos. In: MATTOS, Florisvaldo.
					Mares anoitecidos. Rio de Janeiro: Imago; Salvador: 
					Fundação Cultural do Estado da Bahia, 2000.
 [v] SANCHES NETO, 
					Miguel. Um mestre à margem. A Tarde, A Tarde Cultural, 
					Salvador, 29 jun. 2002.
 
              
 
			
  Leia a obra de Florisvaldo Mattos
 
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