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Betty Milan

 

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Alessandro Allori, 1535-1607, Vênus e Cupido
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Uma notícia da autora: 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Velazquez, A forja de Vulcano

 

Tiziano, Mulher ao espelho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ingres, 1780-1867, La Grande Odalisque

 

 

 

 

 

Betty Milan


Willer, o poeta carnívoro

 

Gosto da frase É PRECISO QUE SEJAMOS MODERNOS COMO O AMOR e gosto do modo como o autor se refere a ela na Introdução de seu novo livro, Estranhas Experiências (Editora Lamparina, Rio de Janeiro, 2004): “Perguntei à página: o que (a frase) significa? Lembrei-me da noção de moderno e da modernidade em Baudelaire, aquilo que sempre muda e por isso é fascinante, associado ao emergir do maravilhoso na vida urbana. Afirmar que o amor é moderno é uma variação irônica sobre o tema ou tópica do amor eterno. Digo o contrário, que não, não é eterno, e vai mudar, transformar-se constantemente...” O amor, com efeito, deixa de existir quando não e renova, quando o amante não é capaz de o reinventar através de palavras ou de gestos.

Quem ama sabe que o encontro, e só ele, faz as cidades e as paisagens existirem: “você me pede que escreva sobre o Rio de Janeiro / mas não existem cidades / são nossas viagens que criam roteiros”. Os lugares, como nós, não passam de fantasmas, e o poeta conclui: “Nada é tudo o que temos” sempre.

Precisamente por afirmar este NADA, escrito com maiúsculas, ele pode escrever: “eu sou a umidade do ar / sou as cores do ar / sou o horizonte e todas as formas no horizonte”. Só o fato de nada termos possibilita a nossa transfiguração. Considere-se o folião do carnaval. Todo ano ele se apresenta de maneira diferente. Nada tem, mas sua possibilidade de ser é infinita.

Não ter, não ter, não ter, parece preconizar a poesia de Estranhas Experiências, que exalta o encontro e não desdenha a loucura: “a luz dos loucos brilha / nos poucos capítulos / que devo a meu diário”. O autor não ignora o brilho da loucura, como Shakespeare, que escreveu: “O só olhar de um louco revela a loucura dos normais”.

E, por deixar a loucura cintilar, o poeta percebe que “o lado de lá é simples e está aqui, basta estar aberto e disponível”. A isso ousa acrescentar: “Somos deuses”. Cada um de nós irradia luz, conquanto aceite a idéia de que “tudo é tão simples / basta o adolescente em nós / tomar conta da cena”. O adolescente ou o inconsciente, que aflora continuamente na poesia de Claudio Willer, porque ele não se quer demasiado inteligente, prefere o mais visceral, na tradição dos surrealistas e dos modernistas, dos “poetas carnívoros”.

Estranhas Experiências é um livro que merece o leitor mais atento. Por ter chegado a verdades simples como: “poesia é o que sempre soubemos”. Por afirmar corajosamente, a cada linha, que “a rebelião romântica, individual, continuará a contribuir para a transformação do mundo”. Em suma, por se tratar de um livro que será eternamente moderno, como outros textos do mesmo autor – de poesia, ensaio e tradução.

 

Direto para a página de Claudio Willer

 

 

 

 

 

 

 

20.5.2007