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José Alcides Pinto

 

Fortaleza, Ceará - Domingo 14 de outubro de 2001


Crítica imperfeita
 

 

Conservamos o título original do livro de Dimas Macedo para nosso trabalho porque achamos que não encontraríamos outro melhor. De fato, Crítica Imperfeita, diz muito do desprendimento do autor em qualquer sentido.

Sendo um mestre da arte plástica, com sua visão metafísica e premonitória do mundo, o que faz dele um pensador e um filósofo a um só tempo, Dimas Macedo restaura (e constrói) um dos momentos mais críticos de nossa história contemporânea, quer do ponto de vista
cultural, político ou religioso, quer ainda no campo das idéias sociais, ele surge como um divisor de águas, um apaziguador, qual profeta conduzindo a luz da esperança e da paz entre povos e nações.

De mangas arregaçadas, se entrega à luta silenciosa com as palavras, sem se afastar da missão para qual nasceu destinado, a de condutor de almas e eleito da beleza.

Dimas Macedo mergulha no universo sensorial de cada um, em seus pormenores, trazendo à tona o que há demais significativo e essencial. Nesse particular, Crítica Imperfeita é perfeita, no mais rigoroso sentido do termo.O poeta e o crítico, o ensaísta literário e professor Dimas Macedo, acumulou muito novo ainda experiência
e conhecimentos que o credenciam como um dos mais completos e competentes escritores da atualidade.

Em qualquer ângulo da vida literária, Dimas Macedo se destaca como expoente de nossa cultura, competindo ombro a ombro com os intelectuais de nosso tempo. Dentro ou fora do país, é apontado como
figura proeminente do pensamento filosófico, destaque esse que o distingue ainda como pensador e humanista.

Seus livros até então publicados confirmam. São quatro volumes de poesia, assim discriminados: A Distância de Todas as Coisas, Lavoura Úmida, Estrela de Pedra e Liturgia do Caos.

No terreno da crítica e do ensaísmo, é autor de Leitura e Conjuntura, A Metáfora do Sol, Ossos do Ofício e Crítica Imperfeita. Esse é o seu décimo quinto livro publicado, sem contar com dezenas de prefácios, recessões, etc.

Conferencista dos mais lúcidos, se insurge também na oratória com grande êxito, sendo seus discursos verdadeiros peças literárias, como o que proferiu por ocasião da noite de autógrafos de Crítica Imperfeita no Iate Clube, oportunidade em que fez uma análise da atual situação de nossa literatura, questionando as medidas e mudanças estéticas porque passa o mundo das letras em nossa época.

Em seu discurso de ampla repercussão, Dimas Macedo, membro da Academia Cearense de Letras e professor da Universidade Federal do Ceará, estudioso que é do fenômeno literário, deu-nos uma visão profunda e substancial da literatura, da poesia e da prosa de ficção, e mais que isso, mostrou-nos o lado político e filosófico em que se empenha, como homem e como intelectual, o que levou a assistência a aplaudi-lo de pé.

Sua poesia se impõe pela plasticidade e delicadeza de suas imagens e se enriquece na técnica e na estrutura de sua visualização espacial. Na montagem do texto se aproxima das artes plásticas e da música.

Por tudo isso, Dimas Macedo é um poeta vitorioso. Seus poemas refletem suas emoções e a singularidade da vida. A vertente que ressumbra de seu idílio amoroso encontra receptividade no sopro sobrenatural que anima as metáforas. Vejamos:

"Ó coxas, ó conchas, ó formas
puríssimas de Luana,
aplacai a minha imensa
montanha de desejos.

Ó beijos de Luana, ó seios
úmidos de vertigens,
ó virgens reentrâncias
do corpo de Luana".
(Metáforas - Estrela de Pedra. Pág. 35)

 

Ou ainda; do mesmo livro Partilha, Pág 11:

"Para isto a vida:
o sopro dos contrários.
O fogo dos presságios
queimando as nossas mãos.

Para isto o corpo:
o dorso maduro dos afagos.
O mar. O impossível
oceano no qual nos afogamos.

Para isto a morte:
o ócio das palavras.
A paixão. O desejo.
E o conflito de quem sentiu o beijo".


 

Em A Distância de Todas as Coisas, as recordações da infância estão presentes em toda a obra, na evocação do Rio Salgado, Lavras da Mangabeira onde nasceu o autor:

"Amo-te, Lavras,
nasci de ti,
do teu útero perfumado
que se dilatou com o tempo
para receber mais um filho.
pois parti,
o dever da vida me enxotou
para fora de ti".


 

Esse pensador legítimo e gerúndio, acaba de nos entregar recentemente dois textos de capital importância - A Obra Literária de José Alcides Pinto e Erotismo e Maldição em José Alcides Pinto, o segundo de autoria de Nelly Novaes Coelho, que organizou e prefaciou; ambos de ensaios - livros necessários aos estudiosos do assunto e ao público em geral.

A bagagem literária de Dimas Macedo abrange poesia, crítica, ensaio, e depoimentos sobre ficcionistas e poetas de real valor.

A crítica nacional tem se manifestado diante de sua obra de maneira exaltada. Seus amigos lhe prestaram significativa homenagem com a publicação de "O que pensa a crítica sobre a poesia de Dimas Macedo".

São depoimentos que dão uma visão totalizante da produção do autor ao longo do tempo. Seus prefácios e apresentações se tornaram famosos a exemplo de Cruz e Sousa e o Movimento Simbolista do Brasil, Joaryvar Macedo, Idéias e Perfis, Pedro Henrique Saraiva Leão,
Tempo e Antítese.

A obra (belíssima), diga-se a bem da verdade, foi editada pela Imprensa Universitária da UFC - Universidade Federal do Ceará, 2001. Projeto gráfico e capa de Gerardo Jesuíno, o que dispensa comentários.
 


Dimas Macedo
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