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Carlos D'Alge 


 

Poesia:


Conto:


Prefácio, ensaio, crítica, resenha & comentário:


Fortuna crítica:


Alguma notícia do autor:

 

 

 

Rafael, Escola de Atenas, detalhes

 

Jornal do Conto

 

 

 

 

 

 

 

 

 

John Martin (British, 1789-1854), The Seventh Plague of Egypt

 

 

 

Carlos D'Alge


 

Bio-bibliografia:

 

CARLOS D’ALGE nasceu em Chaves, Portugal, em 1930, tendo viajado para o Brasil aos seis anos de idade. Graduado em Letras, Direito e Educação, é professor de Literatura da Universidade Federal do Ceará. Membro da Academia Cearense de Letras. Doze livros editados. Seus contos apareceram em jornais, revistas e antologias, como O Talento Cearense em Contos, com a narrativa “Breve Ensaio Sobre a Solidão” e no volume A Mulher de Passagem, de 1993.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Michelangelo, 1475-1564, Teto da Capela Sistina, detalhe

 

 

 

 

Carlos D'Alge


 

Re-invenção do corpo


O corpo perdido precisa ser re-inventado
para que de se possa fazer o instrumento
com que cantar no ermo já instaurado.
Quem sabe se uma lira, qual o pastor antigo
que do osso da coxa, do que restou do filho amado,
fez o objeto para celebrar o corpo imolado.


O corpo não é apenas a carícia que afaga,
a amena enseada, o útero procurado, a quieta rua,
o repouso consentido, a desbravada plaga.
O corpo se transforma às vezes em fino aço,
em lâmina que fere sem deixar traço,
em riso que se esconde e se insinua,


O corpo é um ser em constante mutação,
zéfiro, borrasca, tempestade, cantochão.
O corpo perdido entre algas e brumas,
entre sinuosas, ínvias e obscuras fragas,
precisa ser re-criado entre paredes seladas
que abafem segredos, murmúrios e escumas.


Talvez fazer da costela mais saliente
um arco com que brandir o travo violino
ou a possível lira e escondê-la no cimo
da árvore onde repousa o corpo fremente.
Corpo ser móbil, móvel e serpentário,
úmido, fugidio, escampado sacrário.


 

 

 

 

 

 

13.07.2005