Tristão da Cunha


Virgem Primitiva

A pobre Ofélia deu-lhe os tristes olhos mansos Onde bóia um luar de sonhos afogados; Mãos piedosas dormindo em gestos resignados, De tarde, a meditar nos eternos descansos. Há idílios de irmãos, inviolados remansos, Soluços de ternura, e sorrisos cansados, E saudades que não vem dos tempos passados, No sobre-humano olhar daqueles olhos mansos. Eu vejo-a morta já (que tristeza tão doce!...) As mãos no colo em cruz e branca de alabastros, Noiva morta de amor na primeira manhã... Na Via-Láctea que a leva, pura como a trouxe, Florindo-lhe o caminho anjos espalham astros, E a lua vai seguindo atrás, como uma irmã...


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