Francisco José Tenreiro


Canção do Mestiço

Mestiço! Nasci do negro e do branco e quem olhar para mim é como se olhasse para um tabuleiro de xadrez: a vista passando depressa fica baralhando cor no olho alumbrado de quem me vê. Mestiço! E tenho no peito uma alma grande uma alma feita de adição como l e l são 2. Foi por isso que um dia o branco cheio de raiva contou os dedos das mãos fez uma tabuada e falou grosso: — mestiço! a tua conta está errada. Teu lugar é ao pé do negro. Ah! Mas eu não me danei ... E muito calminho arrepanhei o meu cabelo para trás fiz saltar fumo do meu cigarro cantei do alto a minha gargalhada livre que encheu o branco de calor! ... Mestiço! Quando amo a branca sou branco... Quando amo a negra sou negro. Pois é...


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