Salomé Queiroga


Retrato da Mulata

Crespa madeixa Partida em duas, As fontes tuas Cercando assim, Parece largo Diadema airoso De muito lustroso Preto cetim. Que bem te assentam Faces vermelhas E sobrancelhas Cor de carvão! jabuticabas Frescas, brilhantes, Como diamantes Teus olhos são. Se a mim os volves Amortecidos, E derretidos Em doce amor, As negras franjas A custo abrindo, E despargindo Terno langor! Ah! que então sinto Um tão amável, Tão inefável, Vivo prazer, Que extasiado No gozo ativo Se morro ou vivo Não sei dizer. Em tuas faces Brilha serena A cor morena Do buriti: Teus lábios vertem Rósea frescura, Cheiro e doçura Do jataí. E quando os abre Do rir e ensejo, Pérolas vejo Entre corais: Como são belos Assim molhado! De amor gerados Me arrancam ais. Para roubar-me Cinco sentidos, Tens escondidos Certos ladrões Dentro do seio, Bem disfarçados, E transformados Em dois limões. A tua airosa Bela cintura O gosto apura Em estreitar, E o mais que à vista O pejo oculta Vontade exulta Só de pensar. Já que pintei-te, Minha querida, Vênus nascida Cá no Brasil, Em prêmio dai-me Muxoxos, queixas, Quindins, me deixas, E beijos mil.


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