Souza Santos

Do Livro "Estrelas Ausentes"

O Desespero do Amante

Onde andará quem um dia o meu passo transformou e sutil e silenciosa e envolvente acorrentada manteve-me a esperança Nas insubmissas falanges do peito em toda parte te busquei Fiz-me do vento, das areias molhadas das praias, dos clarões de lua que te viram nua, dos raios de sol que te beijaram o dorso, inimigos declarados porque cúmplices na tua fuga De nada valeram as minhas dragonas na tua busca nem o rútilo da espada tantas vezes entre os dosséis desembainhada amedrontaram o tempo que implacável te esconde e alcovita Maldito para sempre o tempo que em nós passou qual ave de rapina, imensa, erodiu o esvoaçar dos teus cabelos transformou em ladeira abandonada tuas curvas antes precipício onde o suicídio a cada instante eu cometia Onde indescobertos ficaram os altaneiros cimos de bicos acintosos a desafiar a gravidade. Onde o trigal às bordas do Vesúvio em cinzas transformado Onde a lassidão, aquele sentimento enorme de morrer a dois quando a maré entrechocada confundia o sentimento e a razão O tempo afugentou a sinuosidade do teu corpo contido antes no leito de um vestido Tempo, tempo, porque me obrigas a ir buscá-la montado na crina azul das minhas lembranças se sabes a magia desfeita e desvanecido o encanto Não te basta o sorver amargo do veneno ensandecido gota a gota nos versos malditos que cultivo Arranque-a pedaço a pedaço das minhas estrelas Emudeça-me as mãos petrifique-me a razão faça-me calar no peito a imagem que os meus galos madrugada insistem envolver nos meus lençóis.


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