Sousa Caldas


Salmo I, de Davi

Feliz aquele que os ouvidos cerra A malvados conselhos, E não caminha pela estrada iníqua Do pecador infame, Nem se encosta orgulhoso na cadeira Pelo vício empestada; Mas na lei do Senhor fitando os olhos, A revolve e medita, Na tenebrosa noite e claro dia. A fortuna e a desgraça, Tudo parece a seu sabor moldar-se: Ele é, qual tenro arbusto, Plantado à margem de um ribeiro ameno, Que de virentes folhas A erguida frente bem depressa ornando, Na sazão oportuna, De frutos curva os suculentos ramos. Não sois assim. ó ímpios; Mas qual o leve pó que o vento assopra, Aos ares alevanta, E abate, e espalha, e com furor dissipa. Por isso, vos espera O dia da vingança, e o frio sangue Vos coalhará de susto; Nem surgireis, de glória revestidos, Na assembléia dos justos; O Senhor da virtude é firme esteio, Enquanto o ímpio corre, De horríssonas procelas combatido, A naufragar sem tino.


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