Soares
Feitosa |
Jornal
de Poesia
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Salomão
Sexto Movimento:
— Dos Séculos —
Dedicatória ao Coronel:
a SF,
Porque ao Ésquilo
do Século C
legamos tão-somente
nossa arte.
E nada mais.
Minha súplica e meu
direito: leia!
L. A., naquele tempo.
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Somente a Arte, Capitão!,
as tuas muralhas de pedra,
o teu olhar viageiro,
as minhas vendas negreiras,
Cem Anos de Solidão,
o livro-presente
de Luís, Poeta, Antônio,
os contos de Borges,
e doutro preto, Assis,
não o Santo, o Machado
porém!
Os causos-causeiros,
as violas da noite,
um canto plangente,
Acaraú, Alcides,
Biografia de um Rio,
mais outro rio, o Salgado,
Dimas,
mais outro, SF, o Macacos,
e no embornal de cada qual
—
mas os embornais estarão
secos,
as pessoas estarão
secas,
porque os julgamentos
se farão extra-personas,
porque as pessoas não
existem
no Século Cem,
de Ésquilo.
Existirão jamais
a tua vontade férrea,
Capitão,
nem meus patacões,
Coronel,
porque o Ésquilo do
Século Cem
é o mesmo do Século
Um,
e de mergulhos nos séculos,
dos séculos-sem-fim,
amém,
quando eu clamei:
— Poetas! Quem?
Disseram-me: Antônios!
E agora, Capitão,
os negros nas amuradas
dos navios-barrancos pendem
porque eu te comprei fora
da hora,
e a Ladeira da Montanha,
na pedra,
na farinha-do-reino e no
óleo de baleia,
não se fez nos elevados
da cidade,
cidade-lá-em-cima,
jamais construída,
porque a cidade-lá-em-cima
está dentro
dos corações
dos homens mortos!
Porque esta é
a canção dos mortos.
Um dia, Coronel,
entrei em terra funda,
queria uns negros melhores
à Feitoria do Coronel®,
me esbarrei num campo de
pólvora:
um negrinho pequeno, bem
miúdo, Coronel,
jazia,
e os abutres-urubus já
lhe tinham furado
os olhos,
mas o negrinho ainda acenava,
e fumei todos os cigarros
do mundo,
gastei todo o papel
em desenhos de carvão.
Veja, Coronel, ist’aqui,
o que dirão disto
no Século Cem?
Porque numa árvore
ali próxima,
’tá’qui o desenho
dela, mal
o negrinho terminou,
os urubus já lhe estraçalhavam
as vísceras;
estiquei uma corda,
e o pescoço, o meu,
um estalido de ódio,
um baque surdo:
era também Francisco,
do Ceará,
(Se no céu
tem pão?
Quem é que sabe,
Coronel?!)
subia aos céus.
Capitão Salomão,
negreiro meu,
as obras de papel e de pedra
ficam,
ficam também as obras
da fé,
porque as do ódio
nunca
serão
esquecidas,
e nos pratos das balanças
do Século Cem
serão jogadas todas
as obras,
só as obras;
os homens não.
Porque esta é a Canção dos Séculos!
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