Soares
Feitosa |
Jornal
de Poesia
|
Salomγo
Quinto Movimento
Ode
Transcrição literal de uma carta:
Ilmo.
Senhores
Diretores
da Edições
Papel
em Branco
Prezados senhores, venho por meio desta solicitar de vossas senhorias em
caráter de doação o livro FIAT BREU, de Luís
Antonio Cajazeira Ramos. Caros senhores, meu nome é Djalma Ribeiro
Cavalcante, estou preso em cumprimento de pena aqui na Casa de Detenção
de São Paulo, meu passa-tempo é lêr e gosto muito de
poesia, sonetos e versos como também outros tipos de literaturas
construtivas, e cuja a filosofia leve a algum lugar.
Gostaria muito dependendo das possibilidades de receber esse exemplar,
quero salientar que não tenho condições de comprar.
Quero agradecer a quem lêr esta simples carta se tiver condições
de me enviar o livro eu ficarei muito grato, e agradeço desde já
de coração, e se não tiver eu agradecerei do mesmo
jeito.
Ficam com Deus, e Boa Páscoa.
Djalma Vicente de Souza Carvalho, Prontuαrio
de nΊ 490.822.317-17
Casa
de Detenção - Av. Cruzeiro do Sul, 2.630
Carandiru,
São Paulo, Capital
CEP 02.087-900 |
Quero que contes novamente, Capitão.
É pra já, Coronel,
cento e onze: 111.
Assim:
hum hum hum
hum hum hum
hum hum hum
hum hum hum
hum hum hum
hum hum hum
hum hum hum
hum hum hum
hum hum hum
hum hum hum
hum hum hum
hum hum
hum
hum hum hum
p á
r a !
Carta-dedicatória de Luís, Poeta:
Prezado Djalma:
Perdoe-me por ter retido seu livro por tanto tempo em minhas mãos sem devolvê-lo.
Ele, o livro, que sempre foi seu.
Salvador, 31.3.97.
Luís Antonio Cajazeira Ramos
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E no veleiro do morro do Retiro, da frota
negreira do Coronel Souto,
quantos, Capitão?
Sessenta e cinco negros, Coronel, mas
deve ter
muito mais
enterrado dentro do chão.
E no brigue Casa Amarela,
e no Nova Descoberta,
quantos negros,
dos negreiros de Coronel Arrais?
Coronel, nada temos
com aqueles morros de lá,
nem com os veleiros desse outro Coronel,
mas afundaram numa noite
setenta e sete negros.
Disseram, Coronel,
que o destroço por lá também
foi terrível!
Nós não temos nada a ver, ainda
bem,
Coronel!
Claro que temos, Capitão!
Não me venhas,
Capitão, fingir de tuas culpas,
nem te fazeres de santo,
que santos não somos:
também entregaste, a mando meu,
também a mando
do coronel de lá, grossa mercadoria® no
Porto
e precatórios!
Galinhas coisa nenhuma, Salomão!
Pura safadeza!
Um
porto!, ah, um porto!? Porto
de Galinha?! Um
porto de negros, Capitão
e muito dinheiro por baixo do manto.
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