Ruy Ventura
Chuvas no Alentejo
						chuva no poema
						noite ardida a flutuar na rua
						— o espaço do último sangue
						estranha geometria
						pontuação que se fecha sobre o tempo
						como quem colhe na tarde
						o fermentou que restou
						de uma vírgula ou insecto
						vírgula no poema aguaceiro
						forte acolhendo a sombra
						que do retrato o rosto faz
						cair
						pouco importa o vento
						que vem das velhas fotografias
						ou nas cartas que se não abriram
						só importa a chuva
						aceite entre duas sílabas
						como um pássaro ou um livro
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