Raul Seixas


Treinando Compor

Não quero mais amor Nem quero mais cantar minha terra Me perco nesse mundo Não quero mais o pau Brasil As rosas que eu colho Não são essas frementes na iluminação da manhã São, se as colho, as dum jardim contrário Nascido desses vossos Na leiteira ou no bar a tarde se reparte em iogurtes, coalhadas, copos São quatro horas da tarde ou da manhã Em algum mês que não me vem à cabeça Tenho trinta e oito anos e uma angústia Amo a vida que é cheia de crianças, de flores e mulheres... A vida. Esse direito de estar no mundo Ter dois pés e duas mãos, uma cara e a fome de tudo... a esperança Esse direito de Kika e demais que nenhum ato institucional ou inconstitucional Pode cassar ou legar. Meus quantos amigos - gente presa Quantos cárceres escuros Onde a tarde fede a urina e terror Existem muitas famílias sem rumo Essa tarde nos subúrbios de ferro e gás Brinca irremida a infância da falada classe operária Estou aqui! O espelho não guardará a marca deste rosto Se simplesmente saio do lugar Ou se morro... se me matam... Um dia eu parto Que importa pois? A luta comum me incendeia o sangue E bato no peito Como o coice de uma lembrança.


* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *