Raul Seixas


Esse Negodiamô

Sem concepção de tempo, O papel já terminou Você vê que nada ficou Sem poder dormir você pensa em fugir Mas não há pra onde ir Lá trancado no porão Que é escuro mas é clara sua visão Daquilo que você tanto esperou Não passava de um sonho Sobre esse negócio de amor Doeu na hora que você acordou Ao som agudo de um despertador Mais barulhento que o apito Do guarda abrindo o sinal. Você procura entender, Sabendo que não há porquê Tudo é apenas o que é Vai morrendo firme em pé Você vê que não sabe de nada Você louco e ela calada Ela foi linda e clara esta noite Inevitável, claro o açoite E a dor foi mais que demais Tudo que cê aprendeu desde que você nasceu Embora sempre cê desconfiou Que a gente é gente e é isso aí Mas no entanto cê esperou Sei lá, um milagre ou coisa assim De repente o punhal Mostrando as frestas do que é Aí se entende o que é morrer Estando vivo pra saber Que cê não passa de um guri Sua mente flashbacka atrás aos catorze anos ou pouco mais As meninas coloridas de batom de rouge de risadinhas freteiras Eram todas tão iguais Sempre elas e sempre o rapaz Transbordando de amor Preferi ser escritor sem mesmo sequer saber Que eu também queria amor Como um susto bem pregado De repente vi que tinha esse negócio mesmo De estar apaixonado Vi o mundo do outro lado Tudo tão certo e tudo tão errado


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