I II III Voadejando Gotagoteja Furtacolorindo a pétala a têmpera de cera. a polpa pejada e só Forte âmbar pingo morno repousa levitando vem do colo corroído. afoga o ventre no círculo do sonho. no betume.
O búzio dorme na madeira enxuta e dentro dele, represado, o mar. E as uvas pétreas que jamais se douram junto ao símbolo marinho trazem-me à lembrança os temas de Neruda os versos que cantou e os que ele quis cantar.
Amar o perdido deixa confundido este coração.
Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do Não.
As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão.
Mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão.
Não sendo lindas As coisas findas Devem ficar Soltas no ar .
Não são bem-vindas São como aindas A dissipar Em qualquer bar.
E se são findas Quais as razões De assim trocar Coisas florindas Por ilusões? – Deixa-las ‘tar.
Houve um pacto implícito que rompeste e sem te despedires foste embora. Detonaste o pacto. Detonaste a vida em geral, a comum aquiescência de viver e explorar os rumos de obscuridade sem prazo sem consulta sem provocação até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Sim, tenho saudades. Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto nas leis da amizade e da natureza nem nos deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste, porque te foste.
Os ausentes necessitam sempre bilhetes, cartas e coisas vezes pequenas lembranças uma gravata, um poema, um postal. Os ausentes são tão necessitados que ninguém os lembra nem só por saudade ou falta Os ausentes têm mãos invisíveis e figura tão diáfana que os versos para eles já nascem feitos poemas.
Memória Ars Superandi Mas as coisas findas, muito mais que lindas, Amar o perdido essas ficarão. deixa confundido C. D. A. este coração. Não sendo lindas Nada pode o olvido As coisas findas 5 contra o sem sentido Devem ficar apelo do não Soltas no ar. 5 Não são bem-vindas As coisas tangíveis São como aindas tornam-se insensíveis A dissipar à palma da mão. Em qualquer bar. 10 Mas as coisas findas, E se são findas muito mais que lindas, 10 Quais as razões essas ficarão. De assim trocar Carlos Drummond Coisas florindas Por ilusões? – Deixa-las ‘tar. Roberto Pontes –––––––––––––– A um ausente Os ausentes Ao Frei Tito Tenho razão de sentir saudade, tenho razão de te acusar. Os ausentes necessitam sempre Houve um pacto implícito que rompeste bilhetes, cartas e coisas e sem te despedires foste embora. vezes pequenas lembranças 5 Detonaste o pacto. uma gravata, um poema, um postal. Detonaste a vida em geral, a comum aquiescência de viver e explorar os rumos de obscuridade 5 Os ausentes são tão necessitados sem prazo sem consulta sem provocação que ninguém os lembra até o limite das folhas caídas na hora de cair. nem só por saudade ou falta 10 Antecipaste a hora. Os ausentes têm mãos invisíveis Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas. e figura tão diáfana Que poderias ter feito de mais grave 10 que os versos para eles do que o ato sem continuação, o ato em si, já nascem feitos poemas. o ato que não ousamos nem sabemos ousar 15 porque depois dele não há nada? Os ausentes por qualquer acaso jamais fogem ao nosso convívio Tenho razão para sentir saudade de ti, ainda que a distância seja tanta. de nossa convivência em falas camaradas, simples apertar de mãos, nem isso, voz 15 Dos ausentes fica sempre um sorriso modulando sílabas conhecidas e banais como as pinturas recheias 20 que eram sempre certeza e segurança. de surpresa, reencontro, irreal. Sim, tenho saudades. Roberto Pontes Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto nas leis da amizade e da natureza nem nos deixaste sequer o direito de indagar 25 porque o fizeste, porque te foste.