Clique aqui: milhares de poetas e críticos da lusofonia!

 

Endereço postal, expediente e equipe

 

 

Um esboço de Leonardo da Vinci - link para page do editor

.

.

Rui Magalhães

<rmagalhaes@mail.telepac.pt>

 

Rui Magalhães, nasceu em 1953, no Porto, Portugal. Doutorado em filosofia, ensina na Universidade de Aveiro. Para além de livros e artigos teóricos sobre filosofia e literatura, publicou os seguintes livros de poesia: Um Largo Gesto, Porto, 1982; A Lua Fértil, Exercícios de Dizer, Porto, 1986; A Voracidade Tranquila do Olhar, Limiar, Porto, 1988; As Sombras Paralelas, Limiar, Porto, 1993

Rui Magalhães

1.

Íntegro indefeso
o aparecimento do olhar como um cálculo
promessa de tempo sem lucro. Sorrateiro
aproxima-se da sombra e esvazia
os cristais do outono imprevisível
e mágico como um bosque estonteado.

Resta a eternidade adorar no oceano
a escuridão do amor esperar as chuvas de inverno
o frio da memória que tudo arrasta
na arte da ressuscitação.

Anoitece os olhos muito abertos
nada a celebrar. Indisciplinado.

 

2.

Eu diria que o esbelto corpo da solidão
é uma palavra infinita sem boca
ou simples paisagem separada da origem por um barco encalhado.

Diria contigo que nada toca o círculo nada o fecha
irrevogável destino expatriado e hábil.
Repleto de ansiedade: a esplêndida mudez dos confins.

 

3.

Nem assim desse tempo agudo
que nada acolhe
te afastas do rosto que consome as tempestades
imagem abrupta do silêncio sopro de distância
incontornável. Nem assim
te enganas entre tantas árvores iguais tantas águas
desabitadas. Tudo segue a lei da voz imóvel
rodopiando do lado de lá da cerca
onde os animais permanecem com sede
e nem assim se tentam à revolta.

 

4.

Estar na terra longe do perdão e sem tempo para o amor.
Mas ninguém dirá que é eterna essa condição
de direcções perturbadas pelos minerais.
Um círculo imperfeito mas terno e frágil
como o teu nome.
No fim a terra não é mais do que bruma
escondida do olhar
e tudo se acalma numa estranheza doentia.
Para que os rios se assombrem ainda mais
e a ciência do frio se torne irreversível.
Estar na terra como um desejo imperdoável.

 

5.

Inclino-me no tempo do beijo
que reflecte um salmo carbonizado pelo tempo
obscuro e ressuscitado de um mundo estranho.
Afasto-me da respiração
para ser outra vez a proximidade do esquecimento.
Como sobreviver ao desengano da fome
balbuciante de medo arrastado na tempestade?
Quando os dentes se aproximam desse sopro incerto
tudo se torna claro
e a pátria abe-se aos teus desejos.
Sonho a perseguição espontânea da terra próxima.
Mas como trazê-la a essa inclinação mortal
como dizer-te
que só tu existes
por toda a eternidade?

6.

Um lamento sem molde um riso sem aspereza
uma terra sem perguntas onde esvoaçam sons de uma respiração
doce.
Nada se vê através dela. Nada há para ver
deste lado
obsessivamente temperado por uma inconfundível raiva. Nada para ver
nenhum sonho habitável nesta distância desacompanhada. Onde há
sílabas
demoníacas
que rastejam até à berma do teu rosto. Um assombro de temperança.

 

7.

Achar no fim a ausência do princípio
o lugar eterno da voz na boca fechada
o extremo singular da perplexidade
que aprendeu a voar.
Que sinuosa obsessão te preserva do tempo
te apaga da morte ou te traz a mim
sem ti sem origem
volátil como um ninho amargurado como um anjo?

Atravessamos pátrias subterrâneas fantasias vibrantes
a brisa ajustando-te o rosto à memória
trazendo-te para o labirinto fatídico
língua divergente mas ambiciosa.

Porque nada escapa ao aceno da harmonia.

 

 

 

Só a DIDÁTICA em prol do Homem legitima o conhecimento

A outra face do editor Soares Feitosa, o tributarista