R. B. Sotero

O trágico destino das palavras

Outro dia encontrei, por mero acaso, Um livro, um tanto velho, amarelado, Carcomido do tempo, mui traçado. Era um clássico entregue ao vil descaso. Prontamente o peguei naquele azo, Ia ler; mas fiquei embaraçado No português há muito desusado. Pensei comigo: tudo tem ocaso. A palavra é tal qual a criatura. Esta ao nascer já ganha a sepultura E trás a extrema-unção no batistério. Aquela também morre, entretanto, Fica por lá jazendo no seu canto, Pois o livro é o seu próprio cemitério.


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