Rosani Abou Adal


Nua

Sinto-me como um cabide que pendura a própria roupa. Estou nua diante de mim, completamente nua. Minha nudez é como o silêncio, horas que param no tempo com os ponteiros na mesma posição por um longo período. Sinto frio, muito frio. É verão mas parece estar nevando - o agasalho esquenta o guarda-roupa. Não tenho cobertas, durmo feito estátua no cimento. Não há amigo dentro do armário apenas suportes, pedaços de pano. Abro as portas e procuro alguém, não há ninguém no móvel imóvel. Tento me vestir e não consigo, troco de roupa a cada segundo e não me sinto bem. Talvez a cor, é melhor mudar. Experimento outra, mais outra, as roupas não me vestem, desnudam. O guarda-roupa está vazio, totalmente vazio, sem cabides, suéter, paletó e linho. Com certeza deve estar blefando ou me dando um xeque-mate, mas ele não sabe jogar. É um pedaço de madeira esculpida e esmaltada, não se veste nem se despe e não precisa de coberta para dormir. Sinto frio, muito frio. Deito na cama e não conquisto sonhos, estão solitários, divagando no porta-jóias do inconsciente. Os pesadelos dormem como chumbo e não acordam. Eu grito e não escutam. Estou nua diante de mim mesma. Não tenho cobertores nem cobertas.


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