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Pethion de Villar


        Pethion de Villar, pseudônimo de Egas Moniz Barreto de Aragão, nascido a 4 de Setembro de 1870, no Solar de seus pais e antepassados, no Largo S.Pedro Velho 36 (Hoje Avenida  Sete 64).Filho de Francisco Moniz Barreto de Aragão ( 1846-1922 ) e Ana de Lacerda Moniz de Aragão (1850 - 1946). Faleceu no mesmo Solar em 18 de Novembro de 1924. No ano de 1895 doutoro-se na mais antiga escola superior do Brasil., a celebre Faculdade De Medicina da Bahia, hoje integrada à UFBA, defendendo a Tese  Síntese da Medicina. Passou a vida lecionando e clinicando e acima de tudo sendo Poeta. Foi um dos fundadores da Academia de Letras da Bahia, ocupando a Cadeira numero 13 tendo como patrono Francisco Moniz Barreto, repentista baiano do inicio do Século XIX .Deixou extensa bibliografia cientifica, literária e filosófica, hoje relacionada num livro “Breve Introdução Sobre Pethion de Villar” editado pelo neto João Augusto Didier, Juiz Federal, já falecido. Entretanto de referência a ars poetica, em vida publicou apenas um folheto com 39 páginas sob o titulo “Suprema Epopéia”. Depois de sua morte a viúva  Maria Elisa de Lacerda Valente Moniz de Aragão, (1874-1964) publicou em 1928, em Lisboa “Poesias Escolhidas”,  prefácio de Eugênio de Castro e em 1975  o MEC - Conselho Federal de Cultura publicou “Poesia Completa” Introdução de Pedro Calmon e Traços Biográficos de Anita Didier   (Ana Moniz de Aragão do Rego Maciel) - Pethion deixou quatro filhos, todos poetas :  Evangelina Moniz de Aragão de Goes Araújo ( Lina de Villar ), Duarte Moniz Barreto de Aragão (Duarte Aragão). Egas Moniz Barreto de Aragão ( Nuno de Villar ) e Ana Moniz de Aragão do Rego Maciel ( Anita Didier ) , todos já falecidos. 

Remetido por
Antônio Paulo Góes de Araújo


PRIMEIRA PARTE 
DÚVIDAS EXISTENCIAIS ...E PAIXÃO 
DOS 19 AOS 24 ANOS 
1890 A 1895 
    A ETERNA ICÓGNITA - [nesta página] 
    HOMENAGEM - [nesta página] 
    UM LAÇO DE FITA  - [nesta página] 
    ILUSÕES PERDIDAS - [nesta página] 
    BILHETE POSTAL  - [nesta página] 
    NO REVERSO DE UM CROMO - [nesta página] 
    LEBEWOHL - [nesta página] 
    FEITIÇO - [nesta página] 
    COVAS - [nesta página] 
    RESPOSTA - [nesta página] 
    CEMITÉRIOS - [nesta página]
 
SEGUNDA PARTE - clique aqui 
“ALMA BRASILEIRA” 
AOS 28 ANOS 
TERCEIRA  PARTE - clique aqui 
“SUPREMA EPOPÉIA” 
1900 A 1902 
QUARTA PARTE - clique aqui 
(MARINHAS) 
1890 A 1903 
POEMAS DA PRIMEIRA PARTE 
DÚVIDAS EXISTENCIAIS ...E PAIXÃO 
DOS 19 AOS 24 ANOS 
1890 A 1895 
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A ETERNA ICÓGNITA 
 
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Donde venho? Quem sou?  Que faço aqui no mundo? 
Por que vivo na Terra e não em Sírio ou Marte? 
Talvez sou de algum deus a monstruosa parte? 
Ou o Antropóide vil, filho do lodo imundo? 

Sei tudo e nada sei; vazio o Céu profundo! 
- “Ama”;  - pede Jesus; - “Pensa, ” manda Descarte 
Do formidável X tentando ver o fundo, 
Noite e dia a Ciência às descobertas parte!... 

Interrogo ansioso à Natureza inteira 
E indiferente e má, cala-se a Natureza... 
Nem um raio de luz dentro desta caveira!... 

Existência fatal que me abate e me eleva, 
Não passar de uma torva e estúpida surpresa, 
E da Treva sair para voltar à Treva!... 
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1890
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HOMENAGEM 

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Ao talento musical da jovem e eximia 
pianista, a Exma Sra. Dona MARIA 
ROMANA MONIZ DE ARAGÃO. 
 
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IMPROVISO 
 
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Tocas - vibra em o piano uma alma, fala e pensa! 
Tocas - quanta expressão, meu Deus!...que sentimento 
Palpita em cada nota !...o mágico instrumento 
Soluça - voz de poeta a gaguejar imensa 

Tocas - como um casal de garças que, fugindo, 
Das plumas soltas a voar mil pérolas.....assim 
Ruflam-te as alvas mãos no lago de marfim, 
Pe’o teclado em fóra - acordes sacudindo. 

Tocas - mochos revoam, espalham-se assustados, 
Da harmonia ao açoite, os meus negros cuidados!... 
Tocas - brilha o luar, desfaz-se a escuridão 

Que a vida......................... 
                 Oh!... toca mais !...ouvindo-te suave 
Esqueço-me do mundo, ergo-me, torno-me ave, 
Abro as asas e, vôo bem longe...na amplidão... 

Bahia, 6 de julho de 1890 
E.M.B.A (Pethion de Villar ) 
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UM LAÇO DE FITA 
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Preso em negra madeixas perfumosa, 
Provocante mimoso , ontem eu via, 
Refreando do cacho a rebeldia 
Um lacinho de fita cor de rosa 

A lirial criança que o trazia 
Valsando, cair deixa-o descuidadosa; 
Apanhei-o veloz - Coisa espantosa ! - 
Laçou-me o laço a alma ! ... quem o diria ! 

Laçou-me o coração e já o elo queima... 
Em vão partí-lo tento; a minha teima 
Mais aperta a laçada. Coitadinho ! 

Desde então, réu de amor, vivo amarrado 
Sem vontade sem forças condenado 
A ser galé perpétuo de um lacinho ! 
. 

18 de Julho de 1890 
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ILUSÕES PERDIDAS 
 
IMPROVISO 
 
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Ao Dr. Cruz Abreu 
 
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Eu sonhava ! eu sonhava ! Assim como falenas 
Que o sopro da tormenta espanta em revoadas 
As minhas ilusões tão puras, tão serenas. 
Fugiram-me uma a uma, à toa dispersadas... 

Eu sonhava ! eu sonhava ! Adeus risos doirados 
Devaneios de amor, suaves pensamentos !... 
Adeus ! no meu passado eu vejo-vos tombados, 
Murchos como os rosais dos fortes ventos !.. 

Ilusões ! Ilusões ! oh ! borboletas da alma ! 
Voltai de novo ! Sim ! trazei-me a calma 
De meus sonhos!...Tornai oh ! loucas peregrinas !... 

Mas não ! É tarde ! Adeus...Na minha fonte pensa 
Cai-me um crepe sombrio, essa tristeza imensa 
De um amor que se esb’roa em lúgubres ruínas ! 
 

1891
 
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BILHETE POSTAL 
. 
( A ELA ) 
 
. 
Tudo trai a paixão quando se ama... 
E tu não me amas, sim! Posso-o jurar ! 
Não, a santa loucura não te inflama. 
Não, tu não sabes o que seja amar. 

Tu não me tens amor, pra que o negar ? 
Em vão teu lábio fala - não exclama ; 
Falas-me, e não radia o teu olhar 
O fogo interno que o amor derrama. 

Por que me foges ? dize-me , não sentes 
Pulsar-te um coração ? mas  que receio 
Assim te faz gestos indiferentes ? 

És bela, vem eu morro de desejos, 
Por que negar-me o ninho de teu seio ? 
Por que fechar-me a porta de teus beijos ? 
 

 21 de agosto 1892 
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 . 
NO REVERSO DE UM CROMO
.
A UMA SENHORA 
Em dia de aniversário 
 

Fosse meu verso aroma e a frase fosse flor, 
Tivesse o verso meu mil formas peregrinas, 
E a minha tosca rima o brilho, a tinta, o odor 
Das rosas, dos jasmins dos cravos, das boninas; 

Então Senhora, então formosa, um ramo cheio 
De essências tropicais, de um gosto transcendente,. 
Com a devida vênia e sem nenhum receio, 
Eu vos daria hoje, ufano e alegremente. 

Mas como do poeta as vozes langorosas, 
Não podem transforma-se em flores, em perfumes 
E a rima não possui o trescalar das rosas, 
E a estrofe não contém da natureza os lumes; 

Aceitai entretanto estas linhas sem cor, 
Tal como esse buquê de violetas...Cai-me 
Do lábio um riso - é pobre o mimo e sem valor, - 
Mas é de coração, Senhora ! Desculpai-me 
 

Janeiro de 1893 
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LEBEWOHL 
 
Noct. Fis. Moll . Opus 48 
CHOPIN 
 

Riu-me, e no entanto a dor me abrolha a alma 
Pulsa-me o coração e sinto o corpo exangue : 
Há gritos de agonia em minha voz tão calma  ; 
Em meu olhar tão puro há lágrimas de sangue. 

Venho dizer-te adeus ! Como me olhas serena !... 
Sempre a mesma ! Tranqüila, indiferente e fria !... 
Vai findar-se a comédia , é a última cena ... 
Mas antes de partir , ouve bem ! Se algum dia, 

Domar-te enfim o amor num veemente anseio 
Quebrando aos pés de um homem o teu busto heril de aço 
Pede a Deus que ele te ame e também de abra o seio . 

Tu que fostes pr’a mim,  tão cruel, pede a Deus 
Que nunca junto a ele , apoiada a seu braço, 
Sofras o que sofro ao dizer-te este adeus ! 

1 de fevereiro de 1893
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FEITIÇO 
 

Dizem que há rezas pr’as feitiçarias, 
Que em roda viva põem os corações 
Raminhos d’alecrim, cruzes, figões, 
E outras e outras muitas bruxarias... 

Ensinou-me uma velha que deitado, 
Alta noite, na estrada, eu me benzesse 
Treze vezes, remédio estúpido esse 
Que me expõe por maluco a ser pegado ! 

O Mal existe, existe o tal feitiço, 
Porque bem claro em mim o sinto vivo; 
O que não acho é quem me livre disso, 

Toda ciência pra salvar-me é pouca... 
Só conheço um remédio decisivo : 
Um beijo ! um beijo só de sua boca ! 
 

18 de Novembro de 1893
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LIRA MODERNA - Diário de Notícias 
 
COVAS 
 

Morreu meu coração !... Dobram finados 
As Rimas e a Quimera e a Poesia, 
Lenços batem nos olhos ensopados, 
De uma enorme saudade na Agonia... 

Coitado ! era tão bom, tão meigo !...e o pranto 
Dos Versos cresce, o Poema se debruça 
Sobre o leve caixão e abraça-o, enquanto 
A Musa ajoelhada ora e soluça. 

Lá sai o enterro... a um canto do teu rosto, 
Naquela cova desce ; foi seu gosto 
Repousar onde achara a perdição. 

Ri agora baixinho ! o riso acorda 
Os mortos e o teu riso me recorda 
Que ali dorme meu pobre coração... 
 

Fevereiro de 1894
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LIRA MODERNA 2 - Diário de Notícias 
 
RESPOSTA 
 

Não te conheço, sim, mas, no entretanto, 
Há um pressentimento que me diz 
Que és aquela Mulher por quem eu tanto 
Chamei outrora para ser feliz... 

Feliz ...Ah ! que ironia ! Se soubesses 
Toda a história fatal de minha vida : 
É tarde ! a soluçar talvez dissesses, 
Minha doce e gentil desconhecida ! 

Vê se me esqueces pois ! As infernais, 
Mágoas que vela a custo o meu segredo 
Quando as souberes hão de te afastar. 

Oh ! eu já amei e já sofri demais ! 
De sofrer ainda mais não tenho medo, 
Mas tenho medo de outra vez amar 
 

7 de Julho de 1894
 
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LIRA MODERNA 3 -  Diário de Notícias 
 
CEMITÉRIOS 
 
“Mulher ! meu coração é como um cemitério...” 
Luiz Murat 
 

Meu coração é como um cemitério 
Cheio de cruzes, cheio de chorões 
Onde se quebra o funeral mistério, 
A voz do pranto e das recordações; 

Goulos vorazes, pálidas visões 
Á noite fazem dele o seu império, 
Fossando as minhas mortas ilusões, 
Mal assombrando esse lugar tão sério !... 

Quantas venturas, quantos ideais, 
Neste meu coração dantes risonho, 
Não enterrei silenciosamente!... 

Hoje, porém, se o desespero traz 
Inda um cadáver d’algum velho sonho 
Badala um verso lúgubre dolente... 
 

1895

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