Fernando Py
A poesia de Soares Feitosa
 
Réquiem em Sol da Tarde, de Soares Feitosa: o mínimo que se pode falar acerca desse livro é que é grandemente criativo. O poeta parece exsudar sua poesia naturalmente, como um rio brota do olho d’água minúsculo no seio da terra. 
E, como a água do rio, cresce e se avoluma, não raro se encorpando com outras águas que se lhe ajuntam; o poeta igualmente faz crescer sua poesia, torna-a caudalosa, com a incorporação de textos outros, com o desenvolvimento do seu estro, semeado de sua erudição, tudo concorrendo para um conjunto maciço, onde a criatividade gráfica vai de par com a criação poética propriamente dita. 
Soares Feitosa não se contenta com apenas expor os versos no papel; desenha-os, dá às palavras por vezes uma feição gráfica diversa, muito afim daquilo que elas expressam. Por outro lado, sua veia caudalosa, verdadeiro cântico, exige um discurso substancioso, seu canto não se limita, é muitas vezes incontido, sem quaisquer peias, solto na página, solto na imaginação, de natureza totalizante, um poema que busca na terra, nas raízes de sua gente, telúrico e social, os motivos mais lídimos de sua expressão. 
Caudaloso e popular, erudito e bem atualizado quanto às últimas conquistas da informática, bem merece o epíteto de poesia épica, já que é um canto geral de cultura e civilização. A poesia de Soares Feitosa vem, neste fim de século, lançar uma luz de esperança na poesia brasileira do próximo milênio. 
Vale.

 
[Diário de Petrópolis, 17.12.95]
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