Otacílio de Azevedo
Carro de Boi
					Rodam, tardas, gemendo, as rodas, arrastando
					os pesados pranchões de pau-darco. Angustiado
					ora altivo e roufenho, ora moroso e brando,
					todo carro de bois é um soluço abafado...
					A hora viúva e glacial do crepúsculo quando
					o sol desce, o seu canto é tão doce e magoado
					que ora nos prende à terra, ora nos vai levando
					na asa de oiro de sonho a um longínquo passado.
					Choram, tristes, à frente, os bois mortos de sono...
					Há uma vaga tristeza, uma ansiedade em tudo
					e a paisagem dir-se-ia um por-de-sol, no outono...
					Oh! Natureza — Mãe! Sei quanto sofres, pois
					vejo, ansioso, rolar todo o teu pranto mudo
					pelos bons olhos melancólicos dos bois.
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