Nilton Santos Filho


Poeta Baiano Contemporâneo

I Enlouquecendo, observo o tempo passar Num sucessivo desenho sem bússola a marcar... Logo que percebo esta cadência de heróico astral, Ocorre-me à idéia da captura do segundo capital Um ímpeto gigante traduzido em furor Que, embora intocável, mostra-me pavor. É o Ultimato que recebo e percebo. É a certeza de que o escore fossilizado é Concentrado no seu próprio contexto impregnado Entardece a minha consciência... Navega a minha paciência... Dissipam-se os meus conflitos... Ofuscam-se os meus delitos... Estou certo de que o instante Se cornporta sendo gestação de juventude, Tomado pela captura de um certo flagrante Ou pela busca de máxima magnitude Ultrapasso e solto meu laço. II Caminhado incansavelmente na direção, Aposto na corrida pelo desempate... Marco o labirinto, mas a minha afobação, Idealizada numa fuga em arremate, Não me proporciona histeria, somente alegria. Hei de ser um fugitivo da instabilidade, Apesar de ser socorrido pela fragilidade Na hora em que me encontro distante Do grito, do rito, da cura incessante! Oro, às vezes choro, mas nunca demoro... Vou exibindo uma forma com estrutura Onde cada flanco se encaixa na conjuntura: Uma honra, minha sombra, jamais cãibra. III Seguindo adiante, Encontro, triste, a censura: Gentileza ou sutileza do destino que me força à clausura, Uma fadiga que tenta impedir-me avante. Inconformado, porém não impune, Necessito da denúncia que ora se reúne, Ditando seu próprio neologismo, Ofertando-me todo empenho do seu fisiologismo. Esta castração é para mim mesmo apática... Sequer necessita de dose homeopática. Ela é Totalmente desvirtuada de propósito, Apesar do seu domínio em mim não ter depósito. Trilha de carência em decadência. Rumo de vida, de opção assumida. Inferno de pó, para quem está só. Luta ferina de própria doutrina. Hipérbole neurótica da lógica ou ótica. Abismo sem luta para quem reluta. IV Jamais pensei que a força do improviso Abandonasse a minha fome. Mesmo que uma sede me venha como aviso, Atravessarei, desatinadamente, um oceano Inundado pelo nome, agitado pelo plano. Serei seguido somente, sem ser suprimido. Serei acerto e não fútil. Experimentarei a ilusão útil. Retratarei a razão por mim caricaturada E, encontrarei a defensiva suturada, Invertida, comprometida, machucada. Ilha incendiando, impera-me a criatividade inesgotável Limites são o meu calvário. Habitualmente, são pontos de controle insuportável Atirando-me de encontro ao meu desejo visionário. V Estarei assim, fazendo figa cirandar, Sendo cópia de um choro, Tomado por causa falada em coro: Acrobacia de um filósofo do sonhar. Repetirei a tentativa trêmula E, agitarei esta pequena flâmula, Inventando uma linguagem de tatuagem. Espalhando a poesia como fermento, Sentirei que o fenômeno é movimento Paulatino que se exibe estratégico, Afora seu comportamento léxico. Lançarei ao vento a eutanásia evaporada, Hipnotizada pela crença sem freio, Aonde a inabilidade da escrita for encontrada Num instante em que o devaneio De um poeta seja a porta indiscreta, Ou um arrobo gêmeo do seu próprio roubo. VI Meu caminho se lançará sem temer o adultério Em ondas de acúmulo sem aborto: Um bálsamo de etéreo acordo. Canto, encanto, desato e afronto, Assim conseguirei sobreviver Num espaço onde a consciência Toma conta da paciência, Ordenando-lhe sua incansável fonte de saber. Meu instante que sempre se renova Está prestes a se tornar múltiplo : Unitários mesmo só a vontade nova e o gesto último. Mando celebrar a minha reza, Acabando com a minha passividade Num altar perfumado pela luz vermelha Distorcida na verdade que se reveza, Ocultando a imagem iniciando a minha nova viagem...


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