Joaquim Namorado

ARS

Os muros brancos da indiferença desafiam os pintores a pintar neles a esperança amarelos sóis girando roxos violetas azuis gente animais árvores flores como há e não há inventados largas janelas abertas para a vida e para o sonho vermelhos entusiasmos castanhos terra serenos verdes e verdes terrenos de horizontes rasgados onde caibam os países e os continentes e os mares ainda por descobrir e o homem caiba inteiro na verdadeira grandeza em profundas perspectivas tudo o que é grande e pequeno dos outros o que a nós pertence de nós o que a todos damos a noite intensa povoada de sóis que outros dias iluminam a esperança neles pintada a Paz o Pão o Amor. E nas mansardas escuras com os brancos muros em frente da gelada indiferença os artistas febris esboçam em traços difusos a própria morte do sonho. Mas já na sombra da sombra que sobre os brancos muros se estende O coro das carpideiras tece flores de retórica para coroar-lhes as caveiras e os conservadores misantropos dos museus do que já foi fazem o espólio das artes com requintes de molduras. Nos muros brancos da indiferença gela o frio esquecimento… (in Antologia de Poetas Alentejanos)


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