Mário Simões


Corpos e Almas

Oh, Se eu pudesse esquecer, Do que já vi e volto a ver, E que também nunca soubesse, Do que me lembra e não me esquece! E já que outra não posso ter, Só tenho olhos para te ver. O meu grito embriagado, Cantou bem alto por todo lado, Cerrados meus lábios, recordam, O ar que atrofia os que choram, O vento húmido escondeu o meu destino, Minhas coisas de enlevo e de menino, Nem um sonho palpável eu vejo Para dissipar os braços do desejo. Para quebrar os delírios minha alma canta, À peganhenta calma que mata, Última lembrança do segredo, Lembrando-me que esta luz sumida, É o subir a baixar a vida. O negrume do céu que baixa e clama, Aos jardins para lhes regar a chama, O mundo novo nos espera um só aceno, As vozes de rebate entram em combate ameno. E o grito audaz da revolta, É o espirito sereno que solta. Os rouxinóis enlevados na saudade, Que se quedem no desleixo da obscuridade, Felizes, desgraçadas, e sem idade!.... (In livro Culpas Mortais)


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