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Maria do Socorro Cardoso Xavier*

 

"Algemas do Tempo"

 

Livro de poemas, composto por formas variadas de fazer poesia escrita: Sonetos, trovas, poesias rimadas e poemas de verso branco. Vai do o clássico ao moderno, com muita inspiração, leveza, ao decantar o lídimo sentimento que a move.

A autora já publicou outros livros de poesia: Partículas Minhas; Levitações Poéticas; Gritos da Solidão e Meus Versos Minha Alma. Poeta cearense, radicada na Paraíba, ocupa a cadeira 13 da Academia Paraibana de Poesia, cujo patrono, poeta Perilo de Oliveira. Sob voz suave, é uma voz combativa, que se faz ouvir!

As composições poéticas apresentadas neste livro impregnam-se de um lirismo existencialista, com laivos filosóficos; a maioria, no entanto, de natureza intimista.

As predições do irreversível outono da vida, a busca infinda de um grande amor, a poeta canta a nostalgia da solidão e as mágoas do caminho – em sonetos pungentes e de beleza ímpar.Os conflitos da poeta, que, sentindo a agudez de crise existencial própria, consegue naquele exato instante ou depois, escrever - transpor a dor. Ultra- sensível e realista ao mesmo tempo, apesar dos espinhos, - quer a vida: ainda vê o colorido das flores!

A dor de ser e a angústia do existir e padecer, num planeta cheio de idiossincrasias, leva a poeta emitir agudos de furor da alma desnuda, ao transpassar as janelas estreitas que se ampliam em catarse, deixando-a aliviada por instantes!

Num sentir profundo, a poeta lança um olhar sobre si mesma, seu outono, seus arrebóis. Os desejos implodidos, as barreiras instransponíveis, o mal secreto foram somatizando na inquieta psique, que, em vez de deixá-la prostrada em depressão profunda, geram transcendências em forma de poesia! Do mal veio o bem; do feio transmutou-se em belo, no sentir genuíno da poeta Maria Pires!

A fé na renascença; suas crenças espiritualistas ajudam-na redimir-se, vendo na morte física, nova vida, eterna. O confundir-se com a natureza em "Astro Eterno", pg. 61revela a concepção univérsica da autora.

Perpassa-lhe uma metamorfose, cujas internalizações tornam-se auroras radiantes. Mesmo que, no sótão das desilusões do sobrado velho - fincou-se o cantar dolente da poeta. Abriu a janela e singrou novos caminhos - qual pássaro cantador, não mais parou de fazer bonitos versos!

Pólo actancial de tudo é sempre o amor. Um amor profundo, nem sempre acessível. Daí irradia outros valores. Mesmo que até se auto-enganando, em alguns momentos: Como falou o poeta universal, de língua portuguesa, Fernando Pessoa: "O poeta finge, mas finge tão completamente, que finge ser dor, a dor que deveras sente".

Poesia direcionada para o amor, nascida do amor - sentimento que move o universo. Um adejar de sentimentos diáfanos, avozeando ao mundo, ora numa euforia extasiante, ora eutimicamente, numa urgência de libertação íntima.

No rolo compressor da vida, quase não há mais lugar para mulheres sonhadoras, tal qual Maria Pires. São espezinhadas, trituradas, discriminadas. A poeta é uma usina fértil de poesia. Sólida versejadora, de estética diversificada, traslada para o papel controvérsias amorosas, envida forças, reergue o sonho, refaz-se dos desenlaces, solevanta-se solfejando seus versos, sua redenção! Em estado sidéreo, sublunarmente transfigura com espírito túrgido, transigindo seu estado material. Poemas de grande qualidade poético-lírico desfilam no livro, a procura de um perfeito equilíbrio semântico. "Era Natal"pg.55 - excelente poema – uma lírica única, metaforicamente diferente dos demais do livro, "no encontro dos rios a desaguar segredos...da imensidão escura dos céus, caía uma luz incandescente... Era uma estrela tristonha que chorava".... Igualmente a última estrofe de "Meus Olhos". Pg. 57

Pus-me a dissecar a poeta, poema por poema, de Algemas do Tempo - e o tempo era escasso e me faltam ferramentas da teoria e crítica literária, para avaliá-la com mais pertinácia. Só sei que, a cada poema que garimpava, encontrava uma jóia rara em inspiração solta, alegorias metafísicas e outras figuras de relevo. Tudo para cantar o sonho e o amor. Pólo irradiador de toda obra. Idealiza o amor com vôos de condor e canto de rouxinol – numa procura infinda de si mesma e de amor eterno. Versos inspirados de mulher ainda romântica arrastam todo um campo semântico de auroras, arco-íris e sol posto. Muito embora que predomine a atmosfera de jangadeiro que perdeu seu leme, - naufraga e sobrevive.

Recomeça dos destroços do barco velho, sem perder o fio de esperança que a alimenta. Um mar de solidão foi esquecido. Se doa, sem esperar recompensa, perdoa amiúde, tem saudade. Espera o astro-rei, sem se dar por vencida. É indubitavelmente, sendo moderna, uma mulher de índole sentimental. Uma sentimental moderna. Deixa de desfolhar o malmequer, para ficar solta entre os rosais. Chora e protesta. Vivendo num mundo distorcido, aprendeu dizer Não. Voou com asas de muitos pássaros com direção às estações comunais.

Nem sempre alcançando a estação mais querida, fica a mercê da próxima revoada. Mulher, de limiar de novo século, notável poeta cearense-paraibana. Boa sonetista, boa trovadora. Boa cidadã! Marcante presença nesta academia! Sob uma busca infinita de ser feliz, coloca o amor em primeiro plano, mola esta que fortalece sua vida; -o amor universal, o chamado "amor à humanidade", também não relega. Há alguns poemas de sensibilidade social no livro.

Parabéns poeta Maria Pires da Silva! Assim como sua voz forte, seus versos haverão de ter eco!

Convoco a todos que admiram a arte de Euterpe, viajar com esta Poeta em Algemas do Tempo!
 


Algemas do Tempo: Autora: Maria Pires da Silva: 2003.
 

(*) Já referenciada em outros trabalhos publicados aqui no Jornal de Poesia.
 

 

 

Jean Léon Gérôme (French, 1824-1904), The Grief of the Pasha

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Pedro Nunes Filho