Marcos Pachi 

Os Lunares
 
Cavalgamos as terras devastadas
Quando a nave em que velejávamos
                       não tocava o fato humano.
E lá estava ela
A tua lua, luna, moon, la lune il faut
Que sejamos nós e nus
e quase nela toquei teu seio metade meu
inteiro em minha sede
onde eras não nascida. Uma só lua branca
campesina personagem
bordado terrestre.

Não te alcanço quanto te toco com a retina
Mas me alcanças sempre
e comprimes o meu coração pisado
por todas as caravanas de revolucionários do
                                                     planeta
Vens a mim como quem reza
e participo do teu corpo como quem peca
e quero ser pecado para sempre querer-te pura.

Pedaços de mim, partes que conspiram.
E tu não te dás nunca por igual
nem tuas partes repõem partes de mim
e me vertes em teus estados
e me fazes um cidadão em cada pedaço
                                             que concedes.

Outro dia escorria de tua vagina
algo que te iluminava.
Sorvi o teu líquido frio, estelar. eu e tu
eclipsados na noite. Penetração inconsciente
e me abarcavas sem velas
O desejo, dizíamos, o desejo enfim chegado.

Era hora de regar os canteiros desertos
e perduramos pendulares toda a noite
a preencher os cântaros de todos os cantares
recipientes da fonte onde habitávamos.
E fizemos argilas de puro sopro
e para não morrermos de êxtase dizíamos:
cu, buceta, pau, querubim.
E estremecíamos porque voltarias a aparecer no céu
qual vida apartada do que não pudemos ser. 
Restávamos sós, sóis, dois.
Um homem e uma mulher no deserto
quase arrependidos de tantos recipientes
                                          desabitados
envergonhados de nossas formas múltiplas
                                         multiplicadas.
Vazios de tudo dizíamos: pão, leite, café, rochedo.
E nos debruçávamos no curso deste rio
que chamaríamos dúvida
se quizéssemos morrer de demência.

Este rio lunar que nunca existiu
e no qual ansiávamos em perdurar. 
 
 

  
 ÍNDICE DO AUTOR | PÁGINA PRINCIPAL