Maria de Lourdes Cid

Ramalhete
 
 
Eu bem cedinho saí pelos caminhos
Buscando flores, recolhendo odores.
Ia encontrando alegre, os passarinhos
E o solo de verbenas multicores.

Entrei em um jardim, falou-me a rosa:
— Tu não sabes por que estou hoje contente ?
Tinha a corola aveludada e tão airosa
Sorrindo para mim alegremente.

As verbenas se entre olhavam, e o lírio perfumoso
De cor imaculada, na sua haste
Tornou-se mais bonito, tão formoso,
Que o colhi. Mas, ó contraste!

Começou a murchar, cheio de dor;
E depois revivendo cheio de ansiedade
— Irás tu ofertar-me cheio de frescor,
A uma meiga criança na flor da mocidade?

A saudade falou, súplice implorou
Na simplicidade da sua alvura casta.
— Levas-me também ? — O cravo perguntou.
Para oferecer-me a delicada Asta?

E eu respondi, a todas recolhendo.
Colhi com elas a flor do coração.
E em cada rosa aberta ia escrevendo:
— A queridinha Asta, a minha saudação.

                   
            
                                                                                          27 de Junho de 1927.
                                                                            
Remetente: Walter Cid

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 Página editada  por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  08  de  Junho  de  1998