Miguel Jorge 

Terra
            
Esta pequena dimensão de vagos horizontes
limita-se à extensão de tua destreza:
tudo está aí guardado
como coisa que nunca existiu
como pedra
como barro
sangue
lei
acontecimentos do dia.
 

Esta pequena dimensão de vacas paridas
não se dilata com teus braços
nem se torna reino em tua geografia.

Dentro do jogo
é arma poderosa:
um bispo um rei
um peão uma rainha
como qualquer fogo
cercado de novos cruzeiros.
Esta pequena dimensão tem muros
todos sabem por testemunha
e
não lhe foi legada como pertence.
Há procissões de patrões
pálios sem ornamentos
bandeiras sem cores
andores engavetados no tempo.

São de asas estas terras
e voam como o vento
forças que encurtam vidas
tesouro negro
cinturão de balas
dinheiro de coronéis
fedendo a bordéis.

Nesta pequena dimensão
teu corpo de morto é teu trabalho
teu sangue é vinho como regalo
tua sombra armação de espantalho
demônios que bailam nos campos da noite
ombros operários.

Esta pequena dimensão
que se carrega nos olhos
pele dura que o sono cava
entre sonhos
pacto que se cala
viola a morte
campos que semeiam
colheita com gosto de mortalha.

 
 [ Poemas do livro Profugus, Goiânia - 1990. ]

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Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  04 de dezembro de 1997