Miguel Jorge 

Do Homem e do Rio
                  (trechos) 
 
Há que se entender o homem 
               (sanguesal) 
há que se entender o rio 
               (sanguesol) 
em suas legendas 
                              lendas 
                                 segredos 
                                 degredos 
e cada homem é um rio 
no leito que lhe coube 
ondas gerando danças 
presas que vão se prendendo 
aprendendo vivendo 
no leito-rio-estrada. 
 

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E eram três línguas afiadas 
eram três facas amoladas 
eram três vozes armadas 
eram três garras de aço 
com três pombas sorridentes 
entre os dentes 
na solidão dos passos 
de aço. 

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Há que se entender o rio 
e suas armadilhas. 
Há que se entender o homem 
e suas armaduras 
sua extremada alegria 
suas falsas calmarias 
seus transitados carinhos 
seus apertados caminhos 
seu avesso de cristal 
seu perfil dentadural 
seu lance de esgrima 
sua foto que fascina.

 
 [ Poemas do livro Profugus, Goiânia - 1990. ]

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Página editada por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  04 de dezembro de 1997