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Atualizado em 25.02.01
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Menalton Braff
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 Ensaio e crítica
  1. Um poeta do Sul com gosto pela musicalidade

 
 
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Menalton Braff
Um poeta do Sul com gosto pela musicalidade

[O Globo, 24.02.2001]
 

Um terno de pássaros ao Sul, de Carpinejar. Escrituras Editora, 96 pgs. R$ 15 
 

Quando se descobre um poeta, ele já está há muito descoberto. Acabei de descobrir um poeta com suas ferramentas afiadas, com seu itinerário escrito, seu rumo traçado. Um poeta e muita ternura. Este poeta de pedigree, que para muitos pode ser velho conhecido, para mim foi um dos prêmios por haver viajado dia 2 de novembro para Porto Alegre. Fabrício Carpi Nejar, ou apenas Carpinejar, com a humildade dos grandes, apresentou-se, mas apresentou-se mal, pois mal ouvi seu nome. Não se apresentou dizendo, como lhe era de direito, eu sou um dos grandes poetas da nova geração de poetas brasileiros. Quem viver, verá. 

"Um terno de pássaros ao Sul", sua mais recente publicação, é um apelo. Do início ao fim o mesmo apelo "Volta ao pampa, pai", que retorna invertido no final: "Volta ao pai, pampa". É uma luta contra o tempo, a tentativa de cristalizar as relações, que no final se inverte. O que é o "pampa", de tantos significados no universo imagístico gaúcho? A querência, outra palavra de forte cheiro sul-riograndense, a vida, o tempo. Pai e pampa, a partir da inversão final, tem-se o direito de os confundir como uma coisa só, como a origem da vida, sua razão. 

Há neste canto um trabalho com a sonoridade das palavras que, se de um lado, traz-nos de volta o gosto simbolista pela musicalidade, por outro, principalmente no campo semântico, jogos e combinações inusitados, de extração surrealista. Os exemplos que seguem não demandaram trabalho profundo de pesquisa, mas apenas anotações ao sabor da leitura. "Aqui no rodapé dos potros/ e cargas do porto"... Metáteses utilizadas por quem domina as técnicas da poesia. 

Como prova esta jóia poética: "Tantas vezes caí/ em teu lugar,/ que descobri o inferno/ ao repetir a salvação./ Tantas vezes caíste/ em meu lugar,/ que descobriste a salvação/ ao repetir o inferno". É um jogo de paradoxos e inversões que se aproxima do quiasma, não fosse mais radical do que este ao opor em todos os sentidos filho e pai. 

Outro recurso de retórica empregado são as aproximações, que, sem serem a assonância, são-lhe semelhantes. As palavras atraem-se pela semelhança como um calembur: "Confundia-se a força da estrada/ com o estrado da forca".Ou "remonto a versão da viagem/ remota, sem entender quais/ os motivos que apressaram as malas/ e revolveram as gavetas do casaco". 

E chega-se, por fim ao capítulo das aliterações. Este é um recurso que merece atenção especial, pois se é das semelhanças sonoras que se faz o liame entre as palavras em sua escolha paradigmática, a aliteração é um dos recursos mais freqüentes. 

"O vento inclinando/ o bosque das bombachas. A batina do sino". Este agora um verdadeiro calembur, porque "batina", se está no campo semântico do sino, sintagmaticamente pediria "batida", e assim, neste jogo de atrações sonoras e semânticas a poesia de Carpinejar mostra um jovem poeta amadurecido, consciente dos recursos da língua, com uma sensibilidade viril que faz de seu lirismo um lirismo moderno, surpreendente. 

MENALTON BRAFF é escritor

 

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