Martinho de Brenderode

Vendas

Vendas cheias de pó... Na tabuleta Azul, sob a coroa, o costumado Dizer — em letra irregular e inquieta — Tabacos — e, por baixo: Habelitado. E nalgumas, à aragem balouçando, Suspensos dum barbante ou dum cordel, Cigarros de madeira, mal lembrando Um maço de cigarros de papel. Vendas... Vinho e Petiscos — corriqueira Legenda repetida em letras toscas... Vendas cheias de moscas e poeira — No Sul tudo é poeira, sol e moscas. Direito à porta, mão pintada acena... — Quem quer matar a fome, a fome e a sede? — Vinho e petiscos... Alto aqui! — ordena A frase imperativa da parede. Queijinho duro, velho, a amarelar... Peixe frito, azeitonas e saladas. Vinhos do Sul... O Torres — popular —, Borba e Cartaxo — prontos à facada. Vendas cheias de gente... Sardinheiros Sempre a choutar na estrada...Caçadores, Bronzeados caçadores, perdigueiros, Almocreves bulhentos, faladores. Vendas por dentro escuras... Mas por fora Faz mal à vista o branco das paredes! O Sul à cal mais branca tudo afora — Árabe Sul!... na alvura a tudo excedes.

(Lisboa, 1905)

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