Márcio de Sousa Andrade


Outro Navio Negreiro

Embala o poema a bala da tragédia testemunho supremo murmúrio de vozes miúdas. — Canta Castro Alves, o lamento profundo da lembrança covarde filhos do acaso e da realidade. Homens do mar, homens da terra ocultos da vida nos cultos desgraçados... Apagaram as luzes da cidade e dos campos sob antenas de TV. Nos morros, nos alagados, nos becos (os quilombos) tremulam pálidas bandeiras de onde virão outros palmares. — Venha poeta! mãos dadas, cantos unidos, trompa certa e plena a cantar para o grande povo esses, filhos da usura perdidos na noite comendo esperanças pelos olhos, chorando necessidades... E as páginas da história confessam a podre missão estandarte macabro e sinistro carregando o pranto de todos. Deus, Que águas navegamos que turfas marés navegamos que a brisa beija e balança e morremos todos sem qualquer esperança.


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