Marcia Agrau


Praça Saenz Pena

Sou poeta e posso ser chamada de maluca mas nasci na Tijuca e hoje evito vir aqui. porque a Praça Sáenz Peña que conheci era bem diferente. Da infância me lembro me estão vivos na mente os filmes que assisti, os cinemas daqui... o Carioca,o América, o Metro, o Olinda, Tijuquinha,"o poeira"... A praça era tão linda que a Tijuca inteira se orgulhava daqui. A Sloper onde comprei meu colar de continhas continhas e correntinhas pelo qual me apaixonei e no qual gastei todinho o primeiro dinheiro que ganhei... A Bella Itália, o palheta, o Éden lá na esquina onde hoje é o Banerj.. A praça era branca, preta, tanto cheirava a grã-fina quanto a salgueiro poeta... E a sinuca, no sobrado, enlevava os rapazotes num ar de maioridade mesmo que uns piparotes os trouxessem à realidade. O comércio emgeral se enfeitava no Natal e as árvores dessa praça que já tinham sua graça no estado natural ficavam engalanadas bolas grandes,coloridas festões, luzes, nossa vida se animava por igual. A mangueira centenária agradecia orgulhosa enfeitada e toda prosa em seu jeitão solidária. Evito vir aqui. porque a Praça Sáez Peña que conheci era bem outra. Mas me orgulho de vê-la renascida. Quem sabe inda algum dia a vejo parecida com a mesma em que vivi? Apenas parecida, só isso, não quero mais que sei que o tempo é incapaz de voltar para trás. Essa praça tão querida que faz parte da minha vida e de tantos demais, tem resistido há tanto tempo, a tantas agressões, atanto assédio, que penso que o que tem vindo em seu socorro é o samba que embala seu sono descendo do morro... e a janelinha da Granado que, à meia-noite, se abre pra lhe dar remédio...


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