Manuel da Fonseca

Segunda

Quando foi que demorei os olhos sobre os seios nascendo debaixo das blusas, das raparigas que vinham, à tarde, bricar comigo?... ... Como nasci poeta, devia ter sido muito antes que as mães se apercebecem disso e fizessem mais largas as blusas para as suas meninas. Quando, não sei ao certo. Mas a história dos peitos, debaixo das blusas, foi um grande mistério. Tão grande que eu corria até ao cansaço. E jogava pedradas a coisas impossíveis de tocar, como sejam os pássaros quando passam voando. E desafiava, sem razão aparente, rapazes muito mais velhos e fortes! E uma vez, de cima de um telhado, joguei uma pedrada tão certeira, que levou o chapéu do senhor administrador! Em toda a vila, se falou, logo, num caso de política; o senhor administrador mandou vir, da cidade, uma pistola, que mostrava, nos cafés, a quem a queria ver; e os do partido contrário, deixaram crescer o musgo nos telhados com medo daquela raiva de tiros para o céu... Tal era o mistério dos seios nascendo debaixo das blusas!


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