Lina de Villar

Saudades
                  
 
Era tarde.
Num recanto florido e sombreado cantavam
alegremente os passarinhos.
Como um brilhante fio de prata viva
Serpeava um límpido regato, rolando sobre
pedrinhas, alvíssimas formava pequenas
cascatas

Galhos e raízes secas atravessavam-no
como minúsculas pontes. O firmamento estava
azul... mas de um azul tão claro...
De repente rompendo a ramagem esmeraldina
apareceu uma linda virgem.
Tinha os olhos cor de saphira e os cachos
de oiro tremiam entre o seu pescoço brando e 
roliço
As faces assetinadas tinham a frescura
de um botão de rosa ...
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Olhou em torno de si indiferente a tudo que
a cercava ...
Sentou-se sobre uma pedra
do caminho ...
A natureza sorria... e ela chorava ...
... Desigualdade das coisas humanas ...

A donzela soluçava e suas lágrimas deslizando
no cetim do seu rosto iam perdendo-se entre a
relva pura e cristalina como se fossem os mais
custos brilhantes do colar de uma rainha que
alguma mão caprichosa desatasse o fio ...
Súbito ... oh!  milagre! brotaram da terra inúmeras
florinhas brancas e roxas.
As primeiras traduzem a candura, d’aquela
alma jovem, as segundas eram como a cruel mágoa
que lhe atravessava o coração ...
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Uma legião de espíritos divinos passou por
ali, colhendo braçadas das graciosas florinhas
foram oferecê-las ao senhor em
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mística prece...................
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As cândidas avezinhas no topo das
arvores continuavam a cantar e o eco ao longe
repetia no morno silêncio da tarde.
Do pranto aljofarado de uma virgem
nasceram as saudades ...
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Remetente: Walter Cid

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 Página editada  por  Alisson de Castro,  Jornal de Poesia,  02  de Abril de 1998