Meu amigo, li os Poemetos. Não posso falar deles com a leveza
que você fala por dois motivos: primeiro, porque me falta o jeito;
segundo, porque, depois que aqueles figurões falaram... eu vou dizer
o quê? Eu não ousaria porque não sou besta e de bobo
só tenho o jeito de falar e de andar, ainda assim porque sou mineiro...
Mas tem um problema, meu amigo, eu não
posso resistir e, assim, como quem não quer nada... Rapaz... que
maravilha essa negação de FEMINA. Essa negação
a que chamo falsa, mentirosa, porque você disse não quando
dizia sim. E o sim não foi porque o dissesse, que na verdade, ele
não está explícito, mas pela idéia positiva
que você arrancou a cada "não", quando foi capaz de materializar
toda a sua ânsia, todo o seu desejo e toda essa agonia por essa mulher
que parece fugir, talvez queira fugir, ou esteja deveras fugindo, e que
você a conserva na essência daquela abstração
que, agora, se tornam toda a matéria para a sua vida.
E o "modo mulher" - a meu ver - não
é outra coisa senão uma armadilha, como o néctar,
como o pólen e como o doce de que se revestem as plantas carnívoras,
só para agarrar as carnes que elas precisam comer... E finalmente,
quando o poeta diz que lavou a alma, aí é que ele não
lavou nada... porque se aqueceu em todos os calores, se envolveu com todos
os sons, se perdeu em todos os rastros e se benzeu na profanação
duns olhos. Aí é que ele não lavou nada, meu poeta
amigo, que perdido estava no túnel dos espelhos, na miríade
das imagens que se encaixam, infinitamente, uma dentro da outra na superfície
do vidro como fora uma areia movediça que engole um corpo para não
devolvê-lo nunca mais... e não podia lavar nada... Pra mim,
meu amigo, uma jóia, e não sei dizer mais que isto.
Mas eu vou ler mais vezes. Preciso encontrar
umas coisas ali. E eu sabia , meu caro amigo, que aqueles livros eram só
um excerto... afinal, eu não vi a numeração das páginas?
Vai um abraço.
Luís
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